É um sonho que está se tornando realidade. Assim, o cirurgião dentista João Carlos Bordin, 32 anos, define o projeto que pretende inaugurar em seis meses. É com brilhos nos olhos que observa a área onde será erguido um complexo de saúde com especialização odontológica, em Farroupilha. A iniciativa irá permitir atendimentos gratuitos a crianças e adolescentes de zero a 16 anos. O hospital será construído no terreno do antigo posto de saúde do bairro Primeiro de Maio, cuja cedência para a empresa será de 10 anos, com prorrogação por mais 10.
— Eu tenho esse sonho há 15 anos, e o centro de saúde vai sair do papel mesmo que eu tenha que tirar dinheiro apenas do meu bolso. Trabalhei muito até hoje para poder me dedicar a esse projeto — conta.
Inicialmente, o prédio atual seria demolido para a construção de um centro esportivo, onde ocorreriam atividades sociais voltadas à comunidade. A prefeitura, então, abriu edital de chamamento público para selecionar uma empresa da iniciativa privada que tivesse um projeto social, portanto, sem fins lucrativos, para ocupar a área que está desativada desde 2016.
A proposta inicial era que a estrutura funcionasse como uma casa de caridade, onde os jovens fossem atendidos para higienização e consultas com especialistas das áreas de saúde, como dentistas, nutricionistas e psicólogos. Contudo, o projeto foi ganhando forma, até que uma nova proposta surgiu: um centro de saúde com referência em odontologia, voltado, principalmente, para procedimentos cirúrgicos de crianças e adolescentes com lábio leporino.
O contrato entre a prefeitura e o empresário foi assinado em 16 de maio. A construtora responsável pela obra já fez as medições do terreno e deverá repassar o orçamento a Bordin nos próximos dias. Além do hospital, que atenderá pacientes de toda a região, também serão construídas quadras de esporte para que as crianças tenham acesso a atividades de lazer. A verba para a parte esportiva é pública, proveniente, de emenda parlamentar, mas os custos para tirar o hospital do papel serão arcados apenas pela iniciativa privada.
— Até o momento, os recursos são próprios e pretendo contar com a ajuda de empresas. O hospital será construído de qualquer forma. Estou em busca de parceiros, e sei que vou precisar de muita ajuda, mas vai acontecer, porque eu tenho uma meta a cumprir. No ano passado, estabeleci um prazo e vou cumprir — relata.
Sonho começa a ganhar forma
Para dar início à captação de recursos, uma associação sem fins lucrativos foi formada com a participação de diversos profissionais. A diretoria atual é composta por 11 integrantes, que irão buscar parcerias e gerenciar a instituição. Bordin explica que pensou em oferecer serviços com especialistas, mas para se tornar referência, optou por restringir o atendimento à sua área de atuação. A finalidade é atender à demanda de pacientes que precisam fazer procedimentos mais complexos do que os que são feitos em clínicas de odontologia e disponíveis no sistema público de saúde.
— Hoje esse tipo de atendimento de qualidade e que atenda o número de pacientes que precisa de cirurgias só existe dentro das universidades e, se tem fora delas, não atende à demanda, visto que uma a cada 650 crianças nascidas no Brasil desenvolve fissuras labiopalatais, conhecidas como lábio leporino — explica.
O projeto será único no Estado e seguirá os moldes do Centro de Bauru (SP), pioneiro no tratamento no Brasil, dedicando até hoje 100% da capacidade a usuários do SUS. Hoje, a instituição já ultrapassou a marca de 100 mil pacientes atendidos nas áreas de fissuras labiopalatinas, anomalias craniofaciais congênitas e deficiência auditiva.
— Mas um hospital privado e totalmente gratuito com especialidade em lábio leporino eu desconheço no Brasil — afirma ele, especializado também em Nutriendocrinologia.
Para ele, é importante prestar serviços de saúde em diversas áreas, mas é fundamental ser referência:
— É preciso se posicionar no mercado e ser o melhor em determinada área. Esse será o nosso argumento para captar recursos junto à iniciativa privada e ao poder público. Um dia, quem sabe, possamos atender pelo SUS e beneficiar cada vez mais quem precisa de atendimentos e procedimentos cirúrgicos. Seremos referência em atendimentos a pacientes com lábio leporino — projeta.
Confira como será o complexo de saúde:
A estrutura física e de pessoal:
À direita do prédio atual ficará o hospital (bloco cirúrgico/sala de recuperação), ao lado consultórios médicos e a esquerda o auditório. A casa de hospedagem para acompanhantes ficará ao lado do centro hospitalar.
O quadro médico será formado por cirurgiões dentistas, nutricionistas e psicólogas. Os pais também poderão ter acesso aos serviços de saúde, desde que os filhos frequentem regularmente a escola.
No auditório serão promovidas palestras e atividades para instruir também os pais, como corte de cabelo, cuidados com a saúde, higiene bucal e alimentação, entre outras. Para esses serviços também serão fechadas parcerias.
Haverá também um refeitório e será oferecida, ao menos, uma alimentação por dia aos pacientes e acompanhantes.
Estágio e residência para garantir atendimentos
Integrantes da associação do hospital já tem reunião agendada com estudantes da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) para firmar convênios e assim montar as equipes técnicas. Os primeiros contatos são para apresentar propostas e explicar como o hospital irá funcionar. A ideia é que os estudantes possam estagiar ou fazer residência no centro médico. Inicialmente, o complexo hospitalar irá funcionar em horário comercial, e depois, conforme os recursos, o funcionamento poderá ser ampliado.
Área esportiva
O terreno é extenso e irá comportar tanto o complexo hospitalar, quanto a área esportiva. Serão construídas duas quadras, uma de futebol e outra de vôlei, além de uma pista de caminhada.
Para que o público possa frequentar o espaço em dias mais frios e chuvosos, o auditório do hospital ficará à disposição dos pacientes.
Como ajudar
O idealizador espera receber verbas provenientes do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas, por meio das leis federais de incentivo.