Condições precárias de trabalho, falta de alimentação e de materiais pedagógicos e de higiene, salas de aula improvisadas, esgoto correndo a céu aberto, tempo estipulado para comer e alimentos próprios para consumo jogados fora são algumas situações denunciadas por professores que atuam em escolinhas infantis conveniadas à prefeitura de Caxias do Sul. O Pioneiro conversou com profissionais que atuam ou atuaram em pelo menos 10 estabelecimentos. Com medo de represálias, nenhum profissional quis que o seu nome ou da escola onde trabalha fosse revelado. A reportagem também ouviu os pais de crianças.
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Mães de alunos atendidos em uma escola do bairro Salgado Filho procuraram a reportagem na quinta-feira para relatar que, no início do ano letivo, elas se uniram para comprar colchonetes, travesseiros e fronhas para os alunos. Elas dizem que os filhos têm enfrentado situações de maus-tratos e denunciaram o caso ao Ministério Público.
A manicure Elisângela Teixeira Antunes, 32 anos, é mãe de uma menina de dois anos. Segundo ele, falta comida e material de higiene na escola da filha:
– Duas mães que fazem parte do conselho de pais relataram que tem faltado comida na escola, sim. Não tem repetição. Também falta higiene pessoal, e as crianças ficam sem escovar os dentes. E temos outros problemas. Foi relatado por várias mães maus-tratos por parte de uma professora do maternal 1. Denunciamos no Ministério Público (MP) e vai ser aberta uma investigação.
Relatamos também para a administradora e para a Smed (Secretaria Municipal de Educação), que vai abrir investigação para o desligamento desta professora. Ela aperta as crianças, grita de maneira exagerada – diz.
Em outro estabelecimento, uma cabelereira de 28 anos, que pediu para não ser identificada, relata que já ocorreram episódios em que as crianças tinham apenas melancia para comer no café da manhã:
– Minha filha reclama muito da alimentação esse ano. Gente, melancia no café da manhã? Fiquei apavorada com isso.
A mulher diz que a maior preocupação é com a negativa de repetição do alimento para aquelas crianças em situação de vulnerabilidade, que não têm o que comer em casa.
– Não tem repetição na pré-janta. E muitas crianças só comem na escola, sabemos que é assim. Não é o caso da minha, mas e as outras? – questiona.
A faxineira Marilia Rodrigues da Silva, 32, já procurou a coordenação da escola onde o filho Murilo, quatro, estuda. Ela não está satisfeita e relata que além de faltar alimentação, a escola solicita contribuição para pagar o serviço de resgate médico mensalmente. Porém, quando o menino se machucou, não foi socorrido.
– Uma coleguinha bateu com o balanço na cabeça do meu filho e a coordenadora me ligou, dizendo que não foi nada, mas que se eu quisesse ir até a escola acalmar ele, podia ir. Cheguei lá e ele tinha um furo na cabeça. Precisou fazer três pontos e não socorreram ele – reclama.
Outra mãe, de 33 anos, conta que no ano passado, na pré-janta, as crianças comiam bem. Agora, seria servido apenas um "lanche".
– Meus filhos sempre chegam com muita fome dizendo que a pré -janta é pão com mistura e água. Antes, era servido comida mesmo.
Uma auxiliar geral de 28 anos relata que o que a entristece é pensar que enquanto ela tem condições de alimentar bem os filhos de dois e quatro anos, outras mães não podem fazer o mesmo:
–Nós sabemos que há crianças que só comem bem na escola. E está faltando comida, porque os meus chegam com fome. Então, imagina aqueles que só comem na escolinha. Como ficam até o outro dia?
O QUE DIZ
A secretária municipal da Educação, Marina Matiello, solicitou que as denúncias dos professores e pais sejam feitas à pasta para que o município possa tomar as medidas necessárias, já que desconhece as situações informadas pelo Pioneiro.
– Nosso dever é fiscalizar para garantir que as escolas estejam em condições de atender os alunos. Solicitamos que essas denúncias sejam repassadas à secretaria para que possamos atuar. Sobre a alimentação destinada às escolas, o cardápio é feito pela nossa equipe de nutricionistas e entregamos os alimentos em dia, com cardápio e um posicionamento da nutrição para controlar os estoques, para que não falte comida. Precisamos saber onde estão ocorrendo essas situações para tomar atitudes. Não vamos admitir que isso ocorra na rede – garante.
Sobre as demissões, a titular da pasta destaca que assina os documentos e que, mesmo sem um levantamento, acredita que o número de cem esteja acima dos desligamentos que passam pela secretaria.
O QUE DIZEM AS ADMINISTRADORAS
O supervisor da Associação de Educação Integral Educaritá, Nestor Basso, desconhece a falta de material pedagógico nas escolas.
– Se há falta de material, à medida que for solicitado, nós repomos para atender a demanda. Não fomos comunicados sobre a falta de material e tampouco sobre profissionais terem desembolsado dinheiro para comprar o que estava em falta. Se isso ocorreu, agiram de forma errada, porque teríamos de ser informados. Leva pouco tempo para repor o material – garante.
As reformas pequenas e urgentes, segundo Basso, têm sido realizadas à medida em que são necessárias. As providências já teriam sido tomadas em conjunto com a prefeitura.
A Associação Educacional Jardelino Ramos comunicou à reportagem que o contato deveria ser feito com a mantenedora, ou seja, a prefeitura de Caxias de Sul, e que não iria se manifestar sobre o assunto.
O representante do Centro Filantrópico Simon Lundgren não atendeu as ligações da reportagem.
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