Um dos maiores críticos da flexibilização da Educação a Distância, decretada há um ano pelo governo federal, é o especialista Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, movimento que agrega centenas de grupos e entidades por todo o país. Como integrante titular do Fórum Nacional de Educação e participante de diversos programas e projetos que impactaram na educação brasileira, o paulista não vê preocupação do governo e de muitas instituições na qualidade das matrículas que estão sendo ampliadas. A meta do Ministério da Educação (MEC) é elevar o número de estudantes matriculados no Ensino Superior até 2024.
— O mercado de trabalho é marcado pela maldição do salário baixo e dos postos de trabalho de baixa qualidade. Se faz curso superior que seria para cargo de Ensino Técnico, isso ocorre porque temos muitas pessoas disponíveis para poucas vagas e o curso superior é um diferencial nesse mercado. Só que tem gente que faz Direito, mas não consegue passar na prova da OAB e vai trabalhar como recepcionista. É o que chamo de postos de trabalho precarizados por falta qualidade nas faculdades — alerta Daniel.
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Segundo ele, a Educação a Distância serviu mais para baratear o custo das mensalidades do Ensino Superior e agradar o aluno do que ampliar o acesso às universidades como política educacional focada no desenvolvimento da vida produtiva e emancipada dos brasileiros.
— A EAD é subversão do conceito da educação superior, que tem que ter ensino, pesquisa e extensão. A EAD deve ser usada para quem é autodidata, com autonomia intelectual. Temos péssimas escolas públicas e privadas, quando o aluno chega no Ensino Superior, vai desenvolver a autonomia na graduação. Na EAD, esse processo fica prejudicado.
Daniel acredita que a expansão da EAD, que deve superar o ensino presencial até 2023, manterá um círculo vicioso de mercado de trabalho rasteiro e pouco complexo, salários ruins e nível de formação de baixa qualidade.
— O Brasil gosta de argumentar pela exceção, que no fim só serve para comprovar a regra. O caminho da qualidade precisa ser presencial — pondera o especialista.
Sólon Caldas, diretor executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), discorda:
— Esse mito de que a EAD é pior está caindo por terra. Isso dito pelos alunos e pelo próprio mercado. A qualidade da EAD também é medida pelo MEC e avaliações mostram que o desempenho do estudante é melhor ou igual ao da presencial.
Representando milhares de universitários da UCS, o presidente do Diretório Central de Estudantes, Thales Silva, teme a desmobilização estudantil com o distanciamento provocado pelas aulas virtuais.
— Não há quase ou nenhuma interação de quem tem aula somente EAD com a comunidade acadêmica. Acompanho o DCE desde 2015 e faço parte desde 2016, não tenho conhecimento de participação de alunos de cursos EAD no movimento estudantil. Enfraquecer não sei se é a palavra, mas prejudica. Fica difícil para o DCE requerer algo da reitoria referente aos cursos EAD justamente por não conhecer a realidade de cada aluno — pondera Thales.