Foi somente cinco horas após ter sido anunciada rainha da Festa da Uva 2019 pelo ator Thiago Lacerda, que Maiara Perottoni conseguiu ir para casa e descansar. O relógio já passava das 5h de domingo, e ela precisava dar um fim à jornada iniciada às 6h30min de sábado, quando a então embaixatriz despertou para dar início aos preparativos da noite em que terminaria aclamada soberana. Tão logo seu nome foi divulgado pelo galã global, à 0h29min, a nova rainha não parou um minuto sequer.
Cinco minutos depois, em seu primeiro discurso, agradeceu à família e a Madre Paulina, sua santa de devoção. Antes de percorrer a passarela pela primeira vez já coroada rainha e na companhia das princesas Milena Remus Caregnato e Viviane Piamolini Gaelzer , fez questão de abraçar cada uma das embaixatrizes. Na primeira entrevista, disse aos jornalistas que um de seus principais objetivos será trazer para a festa o agricultor, o homem do campo, resgatando o que considera a essência da Festa da Uva.
Um aceno aqui, uma foto ali, um abraço acolá, todos queriam chegar perto e guardar uma lembrança da grande noite da vida da estudante de Nutrição.
— A ficha ainda não caiu — repetia, a todo momento.
O tempo todo ouviu elogios ao vestido com bordados e crochês inspirado na história da família. Ao escolher o crochê para compor o look, quis homenagear o tataravô, Arthur, um fundadores da Cooperativa Vitivinícola Forqueta, em Caxias do Sul. A peça foi executada por Carolina Potrich e Fabrício De Prá, e os acessórios, por Fabiane Mnotemezzo, ambos a partir dos resultados de um estudo de colorimetria e biotipo realizado por Gabriela De Prá.
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À 1h40min, o trio ainda se encontrava no palco para fotos e abraços. Em uma breve reunião com a assessoria da imprensa da Festa, decidem que, para fotos, Milena se colocará à direita de Maiara e Viviane, à esquerda.
Eram 2h04min quando Mariana entrou no carro de Édipo Stirle, 29, de quem é noiva há seis dos 11 anos que se conhecem.
— Tu não tem hora hoje? Olha que o povo de Forqueta gosta de uma festa — brinca com o repórter do Pioneiro, durante o deslocamento de 19 minutos até os fundos da Cooperativa Vitivinícola Forqueta, localizada no bairro onde foi criada.
Pelo caminho, ela fala sobre o título e os dias que antecederam o concurso. Embora se considerasse preparada para carregar a coroa, diz ter visto o mesmo potencial em outras candidatas, sem citar nomes.
— Quando ele (Thiago Lacerda) falou meu nome, eu fiquei"como assim?" Demorou um pouco para cair a ficha. E passa um filme de todo o pré-concurso na cabeça — lembra.
Às 2h23min, o veículo chega a Forqueta. Em sua comunidade, Maiara é recebida pelos mais de 200 integrantes da torcida organizada que foi apoiá-la nos Pavilhões e também por amigos e vizinhos, que acompanharam o evento pelo rádio ou pelas redes sociais. Os termômetros marcam (quase) congelantes 7ºC, mas ninguém reclam, afinal de contas, abraços esquentam.
E, por falar em abraço, é somente em Forqueta que a soberana consegue abraçar os pais, o agricultor Ademir e a aposentada Gesmari.
— Estava muito ansiosa, mas ela se preparou muito — diz Gesmari.
— Não conseguia nem ficar sentado. Hoje, na passarela, não é porque é minha filha, mas ela arrasou — completa o pai.
A secretária de escola Jacira Onsi, 59, falou em nome do grupo. Em um discurso emocionado, salientou as qualidades de Maiara e lembrou que há duas décadas, Forqueta indicava sua primeira candidata a rainha da Festa da Uva, Eliane Lume, para a festa de 1998. Em 2010, Tatiane Frizzo sagrou-se a primeira representante do distrito a ostentar a coroa.
— A gente tem orgulho de nossas raízes porque ela é que faz a nossa história — encerrou Jacira.
Os fogos de artifício que iluminaram os céus de Forqueta foram a deixa para a pequena multidão entrar no galpão. Estava prevista uma carreta pelas ruas do bairro, mas a atividade foi cancelada devido à baixa temperatura.
Lá dentro, um delicioso risoto aguardava a todos para aquecer e alimentar o corpo. O preparo da receita (15kg de arroz, massa de tomate, peito de frango moído e caldo com osso) ficou a cargo das cozinheiras Jovelina Broilo Cappelletti, 79, e Cleodi Teixeira de Jesus, 50. A função começou ainda as 16h de sábado e aconteceria independentemente do resultado do concurso. Com a vitória de Maiara, a refeição ganhou sabor especial.
— Fiquei muito feliz — resume Jovelina.
— Gritamos quando ouvimos no rádio — lembra Cleodi.
Até agora, 3h da manhã, nenhum sinal visível de abatimento. Maiara se senta em um banco apenas às 3h45, quando, pela primeira vez, menciona um leve cansaço. Ela já está sob saltos de mais de 12cm desde as 15h30 do dia anterior.
_ Mas estou acostumada _ desconversa, quando perguntada sobre a fadiga física.
À essa altura, já perdemos a conta de quantos abraços já foram dados e o número de fotos tiradas. Às 4h13min, Maiara, familiares e amigos entoam versos da canção L'italiano, com a qual desfilou às 21h38min, na passarela dos Pavilhões.
Às 4h51min, Maiara diz sentir frio. A voz já apresenta leves sinais de coprometimento. É hora de recolher-se.