A volta a uma vida normal, objetivo das comunidades atingidas há um ano pelo tornado em São Francisco de Paula, não é possível para a família de Soeli Gomes Pereira, 57. Ela perdeu o filho para a tempestade do ano passado. Claudemir Gomes Freitas, 24, caminhava pela ERS-020 para ir a um culto evangélico quando foi atingido por um destroço na cabeça, por volta das 8h.
Leia mais
São Francisco de Paula ainda aguarda recursos para reconstrução de prédios destruídos por tornado
Soeli, moradora do bairro Vila Gaúcha, soube que o filho estava ferido cerca de uma hora mais tarde. No momento da ventania, ela lutava para salvar o restante da família.
— A casa estava sendo levada pelo vento. Eu me lembro só do pânico, coloquei os meus netos embaixo da cama e ficamos abraçados ali, gritando. Só escutava o barulho das rajadas, água caindo e tudo se movendo — lembra.
Agindo por puro instinto, conseguiu salvar os quatro netos — o outro, mais velho, foi resgatado da tempestade por um caminhoneiro em uma via próxima. Claudemir, porém, não teve a mesma sorte.
— Ainda penso muito naquele dia, parece que vai acontecer tudo de novo. A gente pensa muito, parece que vejo ele toda hora, que a todo momento ele vai chegar — desabafa Soeli.
Nos meses que se seguiram à destruição da casa da família, a mulher, o marido e a filha mais nova do casal viveram no único cômodo que resistiu ao vento. Agora, a residência está praticamente reconstruída. A falta do filho, porém, deixa um vazio que não pode ser preenchido.
— A gente vive porque tem que viver mais um pouco. Quando eu vejo por aí uns moços bem arrumados, penso que poderia ser ele. A vida não é a mesma, sabe? — lamenta a mãe.
Para Clemir Gomes de Freitas, 32, irmã mais velha de Claudemir e mãe dos netos de Soeli, a dor da mãe é maior porque ela não pôde se despedir do filho.
— Eu acho que ela ficou assim porque no dia do tornado não viu ele sair de casa. Sei a dor que eu sinto como irmã, mas não sei a dor que a minha mãe sente. Ninguém sabe o que ela está passando.
"É a hora que mais me dá angústia "
No dia do temporal, Claudemir faria uma festa para comemorar o aniversário, completado seis dias antes. Ele também tinha casamento marcado para abril e planejava trazer a esposa para viver na casa em frente a dos pais, onde já morava.
— A gente tinha feito a casa para ele, mas infelizmente ele usou pouco, né? — lamenta o pai, Pradelino Rech de Freitas, 53.
O serrador lembra que estava em uma plantação de batatas nas redondezas quando a ventania começou.
— Eu não fui porque não era minha hora. O vento me arrastou uns três metros e fiquei deitado no chão. Senti outra rajada passar por cima. Poderia ter me levado. Foi numa piscada de olho que aconteceu essa tragédia.
Foi um amigo de seu Pradelino que encontrou Claudemir caído, sangrando. O rapaz já chegou ao hospital sem vida.
— Ele só dormia na casa ali na frente, mas comia com a gente. A hora mais ruim para mim é agora. Ele chegava meio-dia por ali. É a hora que mais me dá angústia — relata o pai, que concedeu a entrevista perto do horário do almoço na segunda-feira (12).
Além da perda de Claudemir, faz parte da tragédia de São Francisco de Paula a certeza de que, caso outro tornado viesse, os moradores nada poderiam fazer. Apesar do anúncio de planos de contingência por parte do poder público, nenhuma medida prática chegou, ainda, aos moradores dos bairros atingidos. A nova casa de seu Pradelino foi feita com o material que estava no orçamento dele. Em um ano, a madeira que compõe a parede da parte de trás já está enegrecida — e enfraquecida — pelo clima.
— Quando vem, (a tempestade) leva tudo, né? Teve um amigo meu que ficou sem nada. Casas de tijolo ficaram no chão. Então, não tem o que explicar, a segurança que a gente pode ter é em Deus — torce.
União promete liberar mais R$ 300 mil para a cidade
:: A assessoria do Ministério da Integração Nacional confirmou por nota que o valor final para obras de recuperação do ginásio, quadra esportiva da Escola Municipal de Ensino Fundamental Castelo Branco, em São Francisco de Paula ficou em R$ 1,089 milhão.
:: A documentação para o pagamento da primeira parcela foi entregue pelo município no dia 8 de março e já aprovada pela União.
:: O próximo passo será a disponibilização de R$ 326,9 mil, referente a 30% do valor total da obra. Não foi divulgado, porém, um prazo para a chegada do valor.
:: Conforme o ministério, as próximas parcelas serão liberadas conforme a execução das obras, mediante prestação de contas da prefeitura.
:: O Pioneiro também contatou o Ministério das Cidades para questionamentos sobre os recursos previstos do programa Minha Casa, Minha Vida, para 35 famílias desabrigadas, mas não obteve retorno até as 18h07min desta terça-feira (13).