O Carnaval de 2018 em Caxias do Sul já pode ser considerado um sucesso: dezenas de milhares de foliões participaram de blocos de rua durante os últimos dias, num exemplo de ocupação do espaço público. O aumento da popularidade da festa, porém, tem um lado B. Com novos eventos se aproximando neste fim de semana, cresce a preocupação sobre a capacidade que os organizadores e o poder público têm de garantir a segurança dos participantes.
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O temor tem fundamento: no último domingo (11), a festa do Bloco Raiz, no Largo da Estação Férrea, trouxe diversas reclamações de moradores vizinhos, além de pelo menos uma ocorrência grave, com um policial ferido no rosto após ser atingido por uma garrafa. Na madrugada desta quarta-feira (14), um homem foi baleado e um adolescente foi esfaqueado no mesmo local, num intervalo de 40 minutos. Horas antes, grupos atiravam garrafas pelas ruas centrais durante o Carnaval do Zanuzi, evento que também teve relatos de brigas e assaltos.
É evidente que as forças de segurança enfrentam um desafio para manter a harmonia em eventos com a participação de milhares de pessoas, música e bebidas alcoólicas. O comandante da Brigada Militar em Caxias, major Jorge Emerson Ribas, reconhece que o público presente nos eventos de Carnaval foi subestimado, o que dificultou o policiamento.
— Superou a expectativa, tanto a nossa quanto a dos organizadores. Foi maior do que se imaginava. Houve esse fato negativo, de que grupos de pessoas atiraram garrafas de vidro. Isso é de difícil prevenção e fiscalização. Quando o evento é realizado ao ar livre, em vias abertas, há uma dificuldade porque não há controle de acesso — explica.
Como forma de minimizar os problemas, a alternativa para driblar a falta de efetivo é a parceria com a organização dos eventos, que é obrigada pela prefeitura a garantir um nível mínimo de segurança, conforme a secretária municipal do Urbanismo, Mirangela Rossi. Ela explica que, para que qualquer evento em espaço público seja autorizado, o organizador tem que protocolar um pedido na pasta, comprovando a contratação de uma estrutura básica, como banheiros, limpeza e autorização dos bombeiros, por exemplo.
O major Ribas considera que, exceto pelos eventos na Estação Férrea, que não estavam programados, houve a cooperação dos organizadores do Carnaval, o que possibilitou com que tudo ocorresse com relativa tranquilidade.
— A gente sabe da dificuldade dos próprios organizadores manterem o controle sobre todas as pessoas, mas no que eles se comprometeram, foi atendido — aponta.
Decreto deverá regrar realização de festas
No domingo (18), o maior evento programado é o MaraCaxias, novamente organizado pelo Zanuzi, na Rua Alfredo Chaves. O comandante da BM solicitou com que a partida entre Caxias e Juventude, inicialmente programada para a tarde do mesmo dia, no Estádio Alfredo Jaconi, fosse transferida. Assim, os policiais poderão se concentrar no Carnaval. Ribas também deve se reunir nesta quinta (15) com o proprietário do Zanuzi para programar eventuais melhorias no esquema de segurança.
— Não nos causa tanta preocupação pois parte do evento é realizado durante o dia e temos algumas câmeras próximas ao local — afirma.
Para o secretário de Segurança Pública, Clóvis Juvenal Pacheco, o Carnaval reforçou a lição de que o município precisa atuar com mais rigor na fiscalização dos eventos em espaço público. Ele afirma que a prefeitura pretende editar um decreto, com vistas a deixar claras as regras de organização das festas e a também penalidades a serem aplicadas no caso de descumprimento.
Brigada garante que voltará à Estação
Os maiores problemas durante o Carnaval foram registrados justamente em um ponto já problemático: o Largo da Estação Férrea. A tradicional área boêmia é alvo de reclamações recorrentes de moradores das redondezas, que nesta semana iniciaram um abaixo-assinado tentando coibir o barulho e a violência no local.
Uma das idealizadoras da medida, a moradora Kelly Reis, explica que o principal problema são os carros com som alto, que perturbam o sossego da vizinhança durante a madrugada. Após tentativas frustradas de coibir o problema por meio de pedidos às forças de segurança, ela pretende encaminhar o documento ao Ministério Público.
Nesta quarta, o diretor da Guarda Municipal, Ivo Rauber, afirmou à Rádio Gaúcha Serra que a entidade deixou de atuar na Estação por não ter condições de trabalhar sozinha durante as noites de fim de semana.
O major Jorge Emerson Ribas justifica que a Brigada Militar deixou de participar das blitze durante o ano passado para se concentrar em outros locais problemáticos.
— Entendemos que em razão de a Guarda estar fazendo o patrulhamento ali, podíamos nos concentrar em outros locais com problemas de perturbação do sossego — justifica.
Com a medida, o comandante afirma que foi possível normalizar a situação do final da Rua Sinimbu, próximo à BR-116, outro local frequente de confusões, por exemplo. Porém, após o último fim de semana, ele entende que a Estação voltou a ser prioridade:
— Hoje, nossa prioridade, em termos de perturbação, voltou a ser a Estação Férrea. Teremos atuação com PMs e viaturas nos momentos de maior concentração de publico, na sexta e no sábado, antes dos horários de maior movimentação, para evitar os problemas decorrentes da concentração sem controle — adianta.
O secretário de Segurança, Clóvis Pacheco, também prevê uma atuação maior do município no local, com a participação do Conselho Tutelar e da Guarda Municipal. Esta seria a pauta da próxima reunião do Conselho Municipal de Defesa e Segurança, no dia 14 de março.
A secretária municipal do Urbanismo, Mirangela Rossi, porém, destaca que o intuito não é coibir a ocupação da área, mas apenas garantir a harmonia entre frequentadores e moradores.
— O que a gente não quer é essa situação desordenada. De uma forma saudável, é sempre útil que usem os espaços públicos. Quanto mais a cidade tiver vida, melhor para todos — destaca.
Prefeitura quer responsabilizar organizadores do Bloco Raiz
Conforme a prefeitura, o Bloco Raiz foi o único evento de Carnaval a não ter autorização do município. Por isso, o controle do trânsito e o policiamento no local só foram realizados com a festa já em andamento.
Conforme a secretária do Urbanismo, Mirangela Rossi, um dos organizadores do bloco protocolou um pedido para a realização do evento, recusado por não ter garantia de estrutura mínima.
— Ele sabia que não tinha autorização. A gente tentou conversar com ele às vésperas do Carnaval várias vezes, informando que ele estaria responsável por qualquer situação que ocorresse — declara.
Por isso, a prefeitura desconsiderou o evento e, após as reclamações dos moradores e a sujeira deixada no local, deve responsabilizar os organizadores.
— Vamos avaliar todos os incidentes que ocorreram, e é possível que acionemos ele juridicamente, já que temos o protocolo na prefeitura — antecipa Mirangela.
Ela destaca a importância de eventos desse porte serem comunicados antecipadamente:
— É a forma de a gente informar a sociedade, para ter uma compreensão de moradores que vivem próximos, de que naquele dia, naquele horário, vai ter um pouco de movimento, de barulho, para que sejam mais compreensíveis — explica.
O Pioneiro tentou contato com Igor Selau, um dos organizadores do Bloco Raiz, mas ele não respondeu aos questionamentos da reportagem. Na página do evento no Facebook, outro organizador, Gabriel Rodrigues, divulgou nota afirmando que uma hora antes do evento sofreu "um boicote" do governo municipal, avisando que os órgãos de segurança não poderiam estar presentes. Naquele momento, a Guarda Municipal e a Brigada Militar acompanhavam o Bloco da Velha, no bairro Exposição.
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