Depois encaminhar a instalação dos serviços em um novo espaço – ainda não divulgado –, o novo desafio da unidade do Centro de Valorização da Vida (CVV) em Caxias do Sul é prestar atendimento ininterrupto todos os dias da semana.
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Prontos para ouvir: voluntários do Centro de Valorização da Vida se dedicam à prevenção do suicídio em Caxias
Ladrão arromba CVV e telefone 188 está fora de serviço em Caxias do Sul
Atualmente, o CVV, organização sem fins lucrativos que trabalha na prevenção do suicídio, atende das 8h às 22h, de segunda a domingo. Para conseguir ter pessoas trabalhando 24 horas por dia, sete dias por semana, o CVV precisa de, ao menos, mais 20 voluntários. O próximo curso de capacitação começa na próxima sexta-feira, 2 de março.
– Esse é o novo objetivo para 2018. O novo espaço físico já está encaminhado (a atual sede, cedida pela Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados, foi arrombada no último dia 10 de fevereiro e todos os equipamentos de informática foram levados), mas precisamos de ajuda, pois sempre tem uma defasagem de voluntários ao longo do ano – explica Andressa de Lima, coordenadora do CVV de Caxias do Sul.
Os requisitos para se voluntariar são ter mais de 18 anos, disponibilidade de quatro horas semanais, saber escutar e se importar com o outro. O curso, que dura dois meses, ocorre às sextas-feiras, às 19h, na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul. Cada encontros dura três horas.
Em todo o Rio Grande do Sul, o serviço atende a cerca de 900 ligações por dia. Hoje, em Caxias, há 58 voluntários atuando na parte organizacional da entidade ou se revezando no atendimento ao público em turnos de quatro horas. São pessoas de diferentes idades e especializações, que, a partir da vontade de ajudar o próximo, capacitaram-se e atualmente passam algumas horas da semana simplesmente escutando.
Após a capacitação, a pessoa voluntária passa por um estágio de três semanas em que, ao fim das aulas, recebe uma avaliação para saber se está ou não apto ao serviço. Durante esse estágio, os voluntários aprendem a como fazer o trabalho de escuta, sem emitir julgamento e de forma sigilosa.
"Serviço essencial"
Desde 2017, uma lei sancionada pelo prefeito Daniel Guerra (PRB) instituiu o Setembro Amarelo na cidade, cuja intenção é criar ações de conscientização e manter o alerta sobre a necessidade de prevenção ao suicídio. Apesar de o trabalho destacar o mês de setembro, porém, o trabalho do CVV continua intenso durante todo o ano.
Há pelo menos seis anos voluntários anônimos vem ajudando a salvar vidas, dedicando seu tempo a ouvir pessoas que procuram apoio emocional por meio do telefone 188. Para Viviane Savaris, psicóloga da rede de atenção psicossocial de Caxias do Sul, o serviço é essencial:
– Eles fazem essa primeira escuta, oferecem um primeiro acolhimento. Isso é fundamental na área da saúde mental, pois os pacientes que estão em sofrimento precisam desse primeiro suporte. Se tu estiver em sofrimento, é muito importante ter uma pessoa que vai te escutar, te dar um direcionamento e comentar sobre os riscos – explica.
Aumento de casos reforça importância do serviço
Segundo dados do Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, estima-se que, anualmente, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida no mundo. Calcula-se ainda que a cada adulto que comete suicídio, pelo menos outros 20 tentaram se matar. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio representa 1,4% de todas as mortes em todo o mundo, tornando-se, em 2012, a 15º causa de mortalidade na população geral. Entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte.
Em Caxias do Sul, de acordo com os dados da Secretaria Estadual da Saúde, somente no ano passado, foram 362 tentativas de suicídio e 43 mortes. Um aumento de 13,9% em relação a 2016.
Em setembro do ano passado, a psicóloga Nivea Rosa, em uma parceria com a prefeitura de Caxias do Sul, fez palestras sobre o suicídio em diferentes espaços da cidade. Segundo ela, serviços como o CVV são fundamentais no início de um tratamento contra a depressão e outros transtornos psicológicos:
– É uma situação bem complexa, não tem só um fator psicológico, mas também social, ambiental, genético e familiar. A primeira regra na prevenção do suicídio é ter uma boa escuta, porque isso facilita bastante. Não é necessário ser um especialista para identificar quando alguém está em risco – explica.
Apesar de não existir fórmulas específicas para o problema, a paciência e a empatia são ingredientes essenciais, afirma a psicóloga.
– É importante que as pessoas do outro lado ouçam, mostrem empatia, estejam calmas, sejam afetuosas e levem a situação a sério. É preciso não menosprezar o problema e explorar, junto com a pessoa, outras saídas.
O fundamental, segundo Nivea, é nunca ignorar a situação, prestar atenção na fala e nunca desafiar a pessoa que passa por esse problema:
– Acredito que o CVV seja um ótimo caminho para isso. É importante que as pessoas saibam que elas merecem receber amor e ajuda, e que existem voluntários e profissionais dispostos a isso.
COMO AJUDAR
O Centro de Valorização da Vida sobrevive da verba arrecadada com eventos, como jantares, bazares e palestras.
A entidade também busca voluntários para atuar nos bastidores da organização ou nos plantões de atendimento.
O próximo curso de capacitação inicia no dia 2 de março, e dura cerca de três meses.
Mais informações
E-mail: caxiasdosul@cvv.org.br
Facebook: facebook.com/cvv141
Telefone: (54) 98138-1804 (o CVV está sem telefone fixo devido ao furto de fevereiro).
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