É preciso percorrer alguns quilômetros de estradas vicinais de Galópolis para localizar a Escola Municipal Felipe Camarão, na localidade de São João da 4ª Légua, interior de Caxias do Sul. Referência histórica na comunidade há mais de 70 anos, a instituição é uma das três escolas da zona rural do município que não abrirão mais as portas no próximo ano — uma quarta escola fechou no meio do ano. A decisão é da Secretaria Municipal da Educação (Smed). Na manhã de ontem, a equipe de manutenção da Smed iniciou a remoção do mobiliário.
Conforme informações do Arquivo Municipal, a escola atendia em São João desde 1939. Embora o colégio tenha atendido em sedes diferentes ao longo do tempo, para parte das mais de 200 famílias que moram na comunidade, a desativação vai gerar transtornos e deixará saudades. Estela Gribeller Dornelles, por exemplo, lamenta que o fechamento ocorre justamente no momento em que o filho de quatro anos começaria a estudar.
— A estrutura ali é muito boa, é cercado, tem um bom pátio e fica do lado de casa. É uma pena esse fechamento. O pior é que fui na outra escola próxima e me falaram que não tem vagas. Não sei o que vou fazer no ano que vem — comenta.
O sogro dela, Valdemar Erlo, reafirma a importância da escolinha, onde há cerca de 20 anos os próprios filhos estudaram. Ele também critica a decisão de encerrar as atividades:
— A gente paga os impostos para a prefeitura resolver e não dificultar. Sempre foi uma escola muito boa e existe desde que moro aqui, há 63 anos. O meu neto não pode ficar sem escola e não temos como levar para o centro de Galópolis ou para Caxias todos os dias — reclama.
A instituição próxima a qual Estela se refere é a Professora Arlinda Lauer Manfro, a poucos quilômetros de distância. Porém, conforme reforça outro morador da comunidade, Leonir Pedro Cavinski, a escola de fato apresentaria uma demanda muito maior.
— Não dá para entender, lá está superlotado e aqui (na Felipe Camarão) é muito melhor e mais seguro. Não faz sentido fecharem uma, enquanto a outra está sem vagas. Deveriam distribuir melhor as crianças — afirma o pedreiro, lamentando que o fechamento também deve dificultar o futuro escolar da filha, hoje com quatro meses.
— Minha filha é muito pequena ainda, mas eu já contava com a escolinha aqui tão perto de casa — complementa.
Secretária garante remanejo de alunos
Além da Felipe Camarão, as escolas Antônio Zanini, em Monte Bérico, e Clóvis Beviláqua, no distrito de Fazenda Souza, serão oficialmente desativadas nos próximos dias. O principal motivo é o baixo número de alunos atendidos pela instituição, de acordo com a secretária da Educação, Marina Matiello. Somadas, as três atendiam apenas 19 crianças.
— Os alunos acabam tendo prejuízo pedagógico por não interagirem com outras crianças. O critério foi a melhoria pedagógica. Entendemos que muitas famílias tem apego afetivo, mas nosso objetivo é proporcionar um ambiente mais qualificado às crianças — justifica Marina.
A titular da pasta também afirma que todos os pais já foram informados e que os alunos têm vagas garantidas e estão sendo remanejadas para outras escolas. As famílias terão o transporte escolar do município, pois as unidades estão localizadas em zonas rurais afastadas.
— Faz mais de dois meses que todos já foram alertados sobre a mudança. Inclusive, a maioria dos pais aprovou o fechamento, alguns até acham que isso deveria ter ocorrido em anos anteriores e que não justificaria uma escola com tão poucos alunos — ressalta a secretária.
Além delas, durante o ano houve também o fechamento da Escola Osvaldo Aranha, na localidade de Santa Justina da 9ª Légua. O prédio foi desativado devido a problemas estruturais. Para 2018, a secretária informa que haverá um estudo no final do ano letivo para avaliar a possibilidade de desativação de outras escolas que estejam atendendo número inferior a nove alunos.
Pais de crianças que iniciariam a Educação Infantil dessas comunidades são orientados a procurar a Central de Matrículas, onde também devem ingressar com requerimento para pedido de transporte escolar.
USO INDEFINIDO
Todos os imóveis desocupados pertencem ao município. Porém, para poder reutilizá-los, a Smed precisa aguardar cinco anos após a desativação da escola para que seja comprovado a falta de demanda nas regiões onde estão localizadas. Posteriormente, será definido o uso dos locais.
NÚMEROS
Quantidade de alunos atendidos em cada escola desativada
Clóvis Beviláqua (Fazenda Souza) — 9
Felipe Camarão (São João da 4ª Légua) — 6
Antônio Zanini (Monte Bérico) — 4