No momento em que Bento Gonçalves atinge a marca histórica de 30 assassinatos em 2017, superando todo o ano passado, que teve 28 mortes, a Câmara de Vereadores da cidade chama a discussão sobre a insegurança no município. A audiência pública ocorre nesta terça-feira, às 18h30min, na sede do Legislativo.
Segundo o presidente da Frente Parlamentar pela Segurança Pública Municipal, vereador Eduardo Virissimo (PP), a discussão está sendo proposta devido "a preocupação com a onda de violência que assola a cidade, como a outras do Estado", e que tem como pano de fundo o tráfico de drogas.
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A taxa de assassinatos em Bento é maior do que Caxias do Sul, considerada uma das cidades mais violentas do Estado. Caxias, com 483 mil habitantes e 119 mortes até esta segunda-feira, tem uma taxa de 24,6 mortes para cada 100 mil pessoas. Bento, com 115 mil habitantes, registra taxa de 26 mortes para cada cada 100 mil pessoas. Somente no domingo, a cidade registrou duas mortes violentas.
Por volta das 17h, Rogério Federle, 44 anos, foi executado a tiros. O corpo dele estava num Vectra parado na Rua Ludovico André Giovanini, no bairro Aparecida. Federle tinha antecedentes por porte ilegal de arma, posse de drogas e tentativa de homicídio. Também no domingo, às 17h, a polícia encontrou o corpo de Odair Fernandes de Lima, 42, às margens da BR-470. Lima tinha passagens por receptação e foi morto com ferimentos na cabeça.
A ideia é que os órgãos que atuam na área no município, como Secretaria de Segurança, por parte do Executivo, e Brigada Militar, representando o Estado, apresentem as ações que estão sendo desenvolvidas e que estão planejadas para o futuro e que façam uma espécie de prestação de contas de onde e como estão sendo investidos os recursos destinados à área, já que também é papel do Legislativo a fiscalização da aplicação do dinheiro público.
— Bento Gonçalves está inserida no contexto do Brasil e é rota de quadrilhas. A maior parte dos homicídios da cidade ocorre por envolvimento com tráfico de drogas. O importante, agora, é vermos o que vamos fazer para mudar esse cenário — disse Virissimo.
Foram convidados para participar da audiência, secretários de Segurança Pública de municípios como Cachoeirinha e Pelotas e o presidente da Associação Nacional das Guardas Municipais. O objetivo é que essas autoridades possam relatar as atividades das guardas no enfrentamento à criminalidade. Isso porque a implantação de uma guarda municipal é uma das iniciativas que Bento Gonçalves pretende adotar para combater a criminalidade.
— Queremos uma guarda ostensiva que ajude a Brigada Militar na prevenção — disse o secretário de Segurança de Bento, José Paulo Marinho.
Nesta terça, o secretário tem reunião com prefeito de Bento Gonçalves, Pasin, para falar sobre a organização de um seminário nacional sobre segurança que deve ser realizado na cidade no ano que vem. As definições devem ser relativas à data e aos palestrantes.
Tecnologia é alternativa
Outro recurso que a prefeitura de Bento pretende dispor na luta por mais segurança é a tecnologia. Na última sexta-feira, a prefeitura recebeu três câmeras de monitoramento que serão instaladas em pontos estratégicos da cidade. Os equipamentos foram entregues pelo Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga) e darão a largada para implantação do sistema de cercamento eletrônico nos 14 municípios que fazem parte do consórcio.
As demais cidades receberão as câmeras (três para cada cidade) amanhã, durante a assembleia dos prefeitos da Cisga, que ocorrerá no Hotel Villa Michelon, em Bento Gonçalves. O recurso para as 42 câmeras — R$ 242.760,00 — vem do valor que as prefeituras repassam ao Cisga.
A expectativa de Marinho é que os equipamentos sejam instalados e comecem a operar em Bento Gonçalves em janeiro do ano que vem. A cidade será pioneira e servirá de base para a instalação nos outros municípios. Em Bento também ficará a central de videomonitoramento na sede do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3ºBPAT).
Além do cercamento, Bento Gonçalves espera receber até abril de 2018, veículos e equipamentos de segurança para a Brigada Militar (BM) e para a Polícia Civil (PC), num total de R$ 1,3 milhão. Conforme o secretário de Segurança, serão cinco viaturas SUV para a BM e duas para PC, 23 coletes para BM e um para PC, um fuzil para BM e um para PC e mais 14 câmeras de vídeo.
Sobre no que esse aparato pode contribuir para reduzir o número de homicídios, o secretário Marinho diz que as ações de enfrentamento ocorrem no sentido de "desarmar os delinquentes (apreendendo armas) e de apreender drogas, tentando desmobilizar os traficantes." Para além disso, o secretário acredita que deveria haver uma mudança na legislação.
— A Brigada Militar e a Polícia Civil trabalham muito com os setores de inteligência. As informações, os órgãos de segurança têm e eles efetuam um excelente trabalho com as prisões. Porém, a legislação é muito fraca e coloca de volta em via pública indivíduos presos com drogas, inclusive, com quantidades caracterizadas como tráfico. A dificuldade é o retrabalho — pondera Marinho.