A mesma discriminação que motivou o adolescente de 14 anos a disparar contra os colegas na escola de Goiânia é uma causa comum em atentados semelhantes. Embora no Brasil situações como essa sejam raridade, um dos mais notórios casos de ataques em escolas, ocorrido em 7 de abril de 2011, também teve o bullying como fator principal.
No fato, conhecido como Massacre do Realengo, Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, assassinou 11 crianças ao abrir fogo contra alunos da Escola Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O tratamento desigual a crianças ou adolescentes com alguma característica considerada diferente pelos colegas é um comportamento comum em ambientes escolares e, quando não resulta em tragédias como as citadas, gera transtornos a quem é alvo de piadas e preconceito.
Apesar de exemplos drásticos das consequências, segundo a responsável da Cipave da 4ª Coordenadoria Regional de Educação, Marivane Carvalho, a gravidade do tema é ainda subestimada por professores.
— Hoje temos uma preocupação maior (por parte das escolas), mas ainda é um assunto que, às vezes, não recebe a atenção que merece — afirma a coordenadora da Cipave da 4ª Coordenadoria Regional de Educação, Marivane Carvalho.
Diferentemente da rede estadual, docentes da rede municipal de ensino de Caxias recebem suporte mais ativo do poder público para tratar da prevenção de situações de violência originadas do bullying.
— O interesse das escolas têm notadamente crescido. Ainda assim, promovemos a capacitação de professores, onde apresentamos esclarecimentos e reiteramos a importância do tema, mas o interesse de desenvolver atividades de combate a esse tipo de comportamento depende de cada escola — comenta a diretora pedagógica da Secretaria Municipal da Educação, Flavia Basso Morés.
Ela ressalta que além de reforçar a relevância de ações que propiciem a livre manifestação e desabafo de alunos, há também preparo voltado aos procedimentos que devem ser adotados em caso de tragédias como a de Goiânia.
— Autoridades participam de nossos encontros e explicam a coordenadores pedagógicos e educadores como agir nesse tipo de ato — complementa Flavia.
Já de acordo com a 4ª CRE, a realização de ações de conscientização depende principalmente da iniciativa das próprias escolas:
— É responsabilidade das instituições executar ações e buscar parcerias para viabilizá-las. Oferecemos o suporte quando há alguma dúvida sobre o tema. Inclusive, fornecemos material para esclarecimentos — comenta a coordenadora da Cipave da 4ª Coordenadoria Regional de Educação, Marivane Carvalho.
Conforme ela, o interesse das escolas pelo assunto cresce logo após fatos como o ocorrido em Goiânia. Entretanto, ressalta que para os educadores, as orientações para precaver esse tipo de situação são relativamente simples.
— Os professores precisam estar atentos a possíveis isolamentos de alunos, comportamento retraído ou até mesmo agitação. Às vezes os sintomas estão bem expostos e cabe aos educadores fazer o encaminhamento para orientação desses estudantes que estão sendo vítimas de discriminação — explica Marivane.
Pai diz desconhecer bullying
O adolescente que atirou contra os colegas no Colégio Goyases segue internado. Ele é filho de policiais e teria usado a arma da mãe, uma pistola .40, para abrir fogo em uma sala do 8º ano. Os disparos aconteceram no intervalo entre duas aulas. O jovem disse que sofria bullying.
Em depoimento nesta segunda, o pai do aluno disse que nunca recebeu reclamações do filho sobre comentários ou atitudes ofensivas. Com relação à arma, o policial militar explicou ela estava descarregada e em cima do guarda roupas. Já a munição ficava trancada em uma gaveta em outro quarto.
Ele explicou ainda que não sabe como o filho conseguiu a chave para ter acesso às balas. O Ministério Público de Goiás determinou a internação provisória do estudante por 45 dias, com transferência para o Centro de Internação Provisória de adolescentes.
— Não foi bullying, é isso que falamos. Ele nunca reclamou para ninguém da escola, e todos estão chocados porque não havia motivo. Por aqui ninguém está culpando ele, eram todos alunos da escola — afirma o irmão da diretora da escola, Giancarlo Longa.
BULLYING
:: O que é: Agressão repetitiva que ocorre entre pares (colegas de aula, crianças moradoras do mesmo condomínio ou alunos da escolinha de futebol, por exemplo). A prática de intimidação, humilhação ou discriminação, podendo haver também violência física, acaba por gerar isolamento social. A vítima passa a não ser convidada para participar de brincadeiras, trabalhos em grupo, festas.
:: Sinais de alerta: A vítima pode passar a apresentar desatenção, dificuldades de aprendizagem e queda no rendimento escolar. A criança não tem vontade de ir à escola e evita interações sociais com colegas e outros pares. Pais e professores devem estar atentos a sintomas de ansiedade e observar se a criança se mostra irritada ou agitada e se come demais. Sinais de depressão, como choro sem motivo, dificuldade para dormir, excesso de sono ou falta de apetite, também são manifestações importantes de que algo não vai bem.
:: Como agir: Família e escola devem atuar juntas inclusive nos casos de ciberbullying, quando as agressões e a intimidação ocorrem via redes sociais. Vítimas e agressores podem precisar de acompanhamento psicológico. A falta de tratamento adequado pode acarretar problemas para os envolvidos mais tarde. Quem enfrenta bullying na infância pode se tornar um adulto de baixa autoestima, inseguro e com dificuldade de envolvimento nas relações pessoais e profissionais, além de desenvolver a crença distorcida de que sempre é culpado pelas agressões que sofre.
:: É essencial que os pais participem ativamente da vida digital dos filhos. Sem se tornarem invasivos demais, precisam saber os sites frequentados e o que acontece na esfera virtual dos relacionamentos. Uma relação próxima, que permite manter um diálogo aberto, ajuda a evitar problemas ou a contê-los precocemente.