A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte completa um mês de atendimento ao público na tarde desta sexta-feira (20). Inaugurada em 20 de setembro, o segundo serviço de urgência e emergência de Caxias do Sul recebeu, em média, 190 pacientes por dia até a quarta-feira (18), conforme balanço divulgado nesta quinta (19) pela prefeitura. A unidade tem capacidade para atender 350 pessoas por dia.
Por outro lado, os dados indicam que a UPA teve leve impacto sobre o movimento do Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão): no último mês, o local atendeu em média 365 pacientes por dia. Até a abertura da nova unidade, o Postão contabilizava 419 atendimentos diários. Os 54 pacientes a menos todos os dias representam uma queda de quase 13% na demanda do Pronto-Atendimento. A expectativa da prefeitura é alcançar uma redução de 30% com a UPA em pleno funcionamento.
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O que os números mostram, porém, não pôde ser detectado na percepção dos pacientes. Na tarde desta quinta, o cenário no Postão era o já conhecido: por volta das 16h, a sala de espera do setor adulto estava lotada, com 33 pessoas aguardando sentadas ou em pé, além de várias escoradas pelos corredores e na entrada do serviço. O Pioneiro conversou com oito pacientes: todos relataram estar esperando por uma consulta por mais de duas horas, alguns por mais de três.
— A espera normal é de quatro a seis horas. A triagem funciona, o problema são os médicos — reclamou o soldador Sidnei Boeira, 35, que veio do Cristo Redentor com dores no ombro.
Todos os pacientes ouvidos pela reportagem afirmaram ter conhecimento da abertura da UPA, mas alguns não procuraram o serviço pela distância do local. Apesar de relatar ter tido que esperar mais de seis horas por um atendimento na terça-feira (17) à noite, José Valdeci da Silva, 21, insistiu no Postão na tarde de quinta.
— A gente já está acostumado a vir aqui. A outra (UPA) é longe — explicou o metalúrgico, que vive no bairro Diamantino.
Outros pacientes demonstraram dúvidas quanto a forma de funcionamento ou a localização da UPA, caso do aposentado Sebastião Pereira, 57.
— Cheguei aqui meio-dia e só vi oito pessoas serem chamadas (para consulta). Eu até pensei em ir lá (na UPA), mas não sabia chegar — revelou Pereira, que buscou o Postão por sentir dores no tornozelo.
Cenários diferentes
Se no Postão é difícil encontrar alguém que fale bem do serviço, a situação na unidade da Zona Norte é inversa. Por volta das 15h30min de ontem, 22 pessoas aguardavam sentadas por atendimento no local. O Pioneiro conversou com sete delas: ninguém declarou estar esperando atendimento por mais de uma hora e quinze minutos. Quem frequentava o serviço pela segunda vez era só elogios:
— Nota 10, o atendimento foi na hora — disse o aposentado Iradir Vilasboas, 56, que acompanhava a consulta da mãe Teresa, 79.
A diarista Eliete Gonçalves Pinheiro, 43, contou que foi até o Postão buscar atendimento no último sábado (14), por sentir dores na coluna. A demora, porém, fez com que procurasse a UPA.
— Não tava dando, fiquei meia hora na fila só para fazer o prontuário. Aqui, em 10 minutos fiz a triagem e me encaminharam para a medicação — contou a moradora do bairro Bela Vista.
Para a diretora da Rede de Urgência e Emergência da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Paula Fonseca, o balanço do primeiro mês de funcionamento da UPA é positivo.
— Ainda há muitas coisas para acertar, mas o fluxo já está muito melhor, fizemos um alinhamento com toda a rede de saúde para ouvir quais eram as dificuldades e recolher sugestões — afirmou.
Ela destaca que, com a sinalização de diminuição da demanda do Postão, vai ser possível se concentrar na melhoria da estrutura do local.
— Nós tínhamos uma espera de muitas horas que não foi detectada nesse último mês. Agora, podemos nos voltar ao PA (Postão) e ver qual é a prioridade, para ver a forma de melhorar. Desde a construção, não foi feito nada, porque era o único serviço 24 horas. Hoje, se tiver que fechar alguma sala, trocar encanamento, pintar paredes, já temos uma retaguarda — explicou.
Gargalo está nas UBSs
Na primeira semana de atendimento da UPA, havia sido divulgado que a maioria dos atendimentos realizados no local não era de urgência e emergência. Conforme Ana Paula Fonseca, a realidade se mantém.
— Isso não é só na UPA, mas no PA e em qualquer serviço de emergência. Quem sente dor busca o serviço e quer ser atendido naquele momento — apontou.
A oferta restrita de atendimento nas unidades básicas de saúde (UBS) é um dos principais fatores que motiva a procura pelos serviços de emergência. Tanto na UPA quanto no Postão, os pacientes revelaram ao Pioneiro que não cogitaram buscar uma consulta nos postos de saúde do bairro onde vivem. As razões para isso envolvem a necessidade de agendamento com mais de um mês de antecedência ou de entrar em filas durante a madrugada para conseguir alguma das fichas de atendimento.
A realidade é reconhecida por funcionários da UPA:
— As pessoas são encaminhadas das UBSs para cá. Eles vêm do postinho porque dizem que não tem médico, e nós vamos fazer o quê? Tentar resolver os casos — disse Lucia Cavalheiro Silva, agente de portaria da UPA.
O gargalo na rede de atendimento básico preocupa a administração municipal, conforme a diretora da Secretaria da Saúde.
— Estamos com projetos para a incrementação desse serviço. A ideia é que a gente mude um pouco a forma de fazer a atenção básica, garantindo até o fim do ano que o usuário receba de fato assistência no seu território. Eu acho que conseguindo incrementar essa rede, que é o nosso norte, essa situação tende a se inverter — apontou Ana Paula.
Pendências trabalhistas em análise
O Instituto de Gestão e Humanização (IGH), empresa responsável pela gestão compartilhada da UPA, completa o primeiro mês em Caxias do Sul envolto em denúncias de irregularidades trabalhistas. Logo após a abertura da unidade, sindicatos de trabalhadores da saúde revelaram supostos problemas com os direitos dos funcionários da UPA. Eles não teriam recebido vale-transporte e não estariam com os contratos formalizados mesmo já estando trabalhando, por exemplo.
Além disso, há dúvidas quanto a forma de contratação dos médicos, feita pelo regime de Pessoa Jurídica (PJ). O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) já afirmou que a prática é ilegal. O IGH recebeu prazo até o dia 10 de outubro para explicar a situação ao órgão fiscalizador. Conforme Bruno Campos Aranha, chefe de Fiscalização do MTE em Caxias do Sul, os documentos entregues pela empresa estão em análise.
— Os fiscais já receberam a empresa e entrevistaram empregados. A análise ainda não foi concluída, mas até o fim do mês devemos ter uma posição — projeta.
COMO CHEGAR NA UPA
Apesar de a UPA estar localizada na Zona Norte de Caxias, a Secretaria da Saúde destaca que o serviço é destinado a toda população do município. Confira as linhas do transporte coletivo que atendem a unidade:
:: A linha 16, Santa Fé, a linha 18, Santa Fé/Vila Ipê/Belo Horizonte/via São Ciro II, e a linha 27, Vila Ipê, passam por paradas próximas à UPA.
:: De acordo com a assessoria da Visate, há um pedido da Secretaria de Trânsito para que o itinerário da linha 18 seja estendido até a parada de ônibus em frente à unidade, na Rua João Gregório Paniz, no bairro Centenário. A mudança deve ocorrer em até 30 dias.
População aprova a unidade
Na primeira semana de funcionamento, 95% dos pacientes da UPA haviam aprovado o atendimento, conforme divulgado pela prefeitura. Ao final do primeiro mês, a Secretaria da Saúde informa que a aprovação segue na casa dos 90%. Uma avaliação do serviço pela administração municipal será realizada após três meses de operação.