A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte, em Caxias do Sul, completou uma semana ontem. O balanço desses primeiros sete dias de atividades deve ser divulgado nesta quinta-feira (28), pela prefeitura. O diagnóstico é aguardado com expectativa, afinal, a UPA abriu com a promessa de atender a uma população de cerca de 90 mil pessoas e absorver parte da demanda do estrangulado Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão).
Durante a semana, os olhares estiveram voltados para a unidade, que é administrada pelo Instituto de Gestão e Humanização (IGH), por meio de contrato de gestão compartilhada com o poder público. Na terça-feira (26), o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Caxias (Sindisaúde) protocolou junto ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) denúncia de que irregularidades trabalhistas estariam ocorrendo no local. Ontem, foi a vez do Sindicato dos Médicos do Município, que denunciou que há medicamento em falta na unidade.
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Paralelamente às denúncias, o público parece ter aprovado a primeira semana de atendimentos na UPA. Mesmo sem números oficiais — que serão divulgados após reunião da direção da unidade com a Secretaria Municipal da Saúde, nesta quinta —, o Pioneiro visitou o estabelecimento de saúde nas tardes de terça-feira (27) e quarta (28) para conferir a percepção dos pacientes sobre os serviços. Nos dois dias, o número de pacientes na espera girava em torno de 35, todos sentados.
Na terça, a reportagem conversou com 15 pessoas que aguardavam atendimento por volta das 13h30min. Apenas duas disseram estar aguardando há mais de uma hora. Na quarta, o Pioneiro conversou com mais 12 pacientes, por volta das 15h. Nenhum declarou estar esperando por mais de 60 minutos. Entre os motivos que levaram as pessoas a procurar a UPA estão desde dores crônicas e acidentes até a maior disponibilidade de horários em relação à unidade básica de saúde (UBS) do bairro. Todos os consultados disseram residir na Zona Norte. Confira, abaixo, as avaliações de quem já foi atendido pela UPA:
— Fiz uma injeção porque tenho um problema de desgaste na coluna. Aqui é bem diferente, mais ágil do que lá (no Postão), sem contar que é bem mais perto para ir e tem estacionamento bem mais fácil.
Luiz Antônio Alves de oliveira, 38, auxiliar de produção, morador do bairro Fátima.
— Foi bom, bem rápido. Em 15 minutos, consegui fazer o exame de sangue ontem (segunda) e hoje (terça-feira) vim buscar. Na UBS, às vezes eles perdem o prontuário, demora. É totalmente diferente na agilidade de atender.
Andriele da Silva, 18, atendente de mercado, moradora do bairro Belo Horizonte.
— A gente ia no Postão e levava quatro, cinco horas para eles te chamarem para fazer a triagem. Aqui, só chegamos, sentamos e chamaram para ver a febre da minha filha. Depois, demorou um pouco para o médico chamar, só.
Sabrina Alves dos Santos, 33, cuidadora de crianças, moradora do Vila Ipê, com filha Ingrid, 15.
— Vim ontem (segunda-feira) e tive de esperar seis horas, aí desisti. Hoje, depois de duas horas, consegui fazer um raio X do abdômen, porque eu tive uma batida. O atendimento para crianças é rápido, mas o adulto é demorado. Tem que organizar melhor.
Fagner Maciel, 28, segurança.
— Não demorou muito. Cheguei às 11h e fui atendida por volta de 11h10min. Lá (no Postão) demorava demais. Aqui foi bem rápido para ser atendido.
Viviane de oliveira souza, 31, dona de casa, com a filha Gabriele, quatro, moradoras do bairro Centenário.
— Cheguei às 10h45min e agora (14h) finalizou o atendimento. A minha filha tomou soro e tudo. Eu sempre fui bem atendida no Postão também, sempre fui só em emergências e todas as vezes foi rápido, não tenho queixas.
Simone Cristina Barbosa, 39, cozinheira, com filha Marcelli, 12, moradoras do Fátima Alto.
— É muito diferente, tudo bem organizado. Chegamos meio-dia e agora já estamos saindo (14h20min). Meu filho estava com cólica e dificuldade para respirar, agora melhorou. Viemos também na sexta-feira, que ele estava com alergia. Foi igual, organizado.
Genelsi Mello Netto, 45, metalúrgico, com esposa Márcia Wolf, 39, dona de casa, e filho Vitor, dois, moradores do bairro Milenium.
— Vim de madrugada e voltei agora para mostrar os exames, que ficaram prontos. Na primeira vez, fui atendida em 15 minutos. Senti bastante diferença em relação à rapidez. Mas tanto lá (no Postão) quanto aqui, fui bem atendida.
Jessica Boeira Tomé, 26, desempregada, moradora do bairro Parque Oásis.
— Não esperei nem 20 minutos. Está bom, médico e enfermeiras, tudo legal. Cansei de ir no Postão e esperar mais de duas, três horas. Uma vez, chegaram a me dizer que minha neta não tinha nada e tive que voltar no outro dia. Agora ela está ali dentro, recebendo a medicação.
Margarida Telles da Silva, 60, aposentada, com a neta Marielli, um ano e um mês, moradoras do bairro Pôr do Sol.
— Achei demorado, os funcionários perdidos e malsinalizado. Vim porque meu filho quebrou o braço na escola. Ele veio pela Emercor e só conseguiram senha para cá, mas no Postão seria bem mais perto. Eu cheguei de ônibus e perguntei se não tinha que fazer a ficha dele. A funcionária nem sabia que precisava. Depois, eu não achei o banheiro, que não tem placas ali, e a enfermeira teve de parar o que estava fazendo para me levar. Sem contar que para engessar o braço dele, vamos ter de ir para o Hospital Pompéia. Se fosse no Centro (Postão), já estaríamos liberados.
Andreia Elias, 35, auxiliar de limpeza, com o filho Felipe, 14, moradores do loteamento Campos da Serra.
De olho
Entidades da sociedade civil assumiram o dever de fiscalizar a UPA. Confira como algumas estão atuando:
— Há uma comissão do Conselho que está monitorando a UPA. Serão realizadas visitas surpresas para avaliar o atendimento. Recebemos alguns relatos que não havia farmácia. É muito novo ainda, mas o pessoal que tem ido disse que o atendimento está rápido e com qualidade. Não caiu a ficha ainda que há essa outra alternativa ao Postão.
Paulo Cardoso Alves, presidente do Conselho Municipal de Saúde.
— Não visitei a UPA ainda, tenho acompanhado algumas manifestações, alguns que foram bem atendidos, outros que esperaram quatro horas. Mas é muito cedo ainda para uma avaliação. Acho que está equilibrado entre reclamações e elogios, mas ainda não me inteirei do funcionamento interno da UPA para uma avaliação. É claro que desafogou o Postão e para a região ajuda, porque a gente não tinha nada.
Joevil Reis da Silva, presidente do bairro Santa Fé.
— Até agora há relatos de que está muito bem, tranquilo, um ou outro caso dizendo que tem que esperar um pouco mais. Mas para nós melhorou muito, já que a UBS do bairro atende até às 16h30, nesse aspecto ficou dez.
Valdir Vieira da Silva, presidente do bairro Belo Horizonte.
— Conversamos com a diretora (da UPA), a gente entende que está começando. Ontem (terça-feira) foram atendidas 250 pessoas, hoje (quarta) até às 16h, cerca de 120. O movimento maior tem sido à noite, aparentemente. Alguns atendimentos demoram por que as UBS são deficientes, não vai resolver enquanto não mexer nisso. Questionei também sobre a falta de medicamentos, ela afirmou que tinham todos disponíveis. Mas parece que eles medicam na hora e depois dão a receita, isso é uma dificuldade. Com a Comissão vamos visitar juntos nos próximos dias. Outra demanda é uma linha de ônibus que passe na UPA, se não tem que pegar mais de um ônibus e acaba sendo um gasto a mais.
Renato Oliveira (PCdoB), presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Comissão da Câmara de Vereadores de Caxias.
E o Postão?
Com a abertura da UPA Zona Norte, a expectativa da comunidade recai sobre o futuro do Postão. Durante a inauguração da Unidade, a secretária da Saúde de Caxias, Deysi Piovesan, afirmou que a redução prevista de 30% na demanda do Pronto-Atendimento possibilitaria a realização de melhorias no local. Durante a primeira semana de funcionamento da UPA, porém, não foi possível constatar uma diminuição de movimento no plantão de urgência e emergência da área central de Caxias.
A reportagem esteve no Postão das 14h às 15h desta quarta-feira (27). O atendimento pediátrico ocorria sem transtornos. Já na área de espera para o atendimento adulto, os relatos das pessoas que lotavam o espaço revelavam uma demora de quatro a cinco horas, na maioria dos casos, em situação diametralmente oposta à constatada na UPA Zona Norte.
— Não tem diferença nenhuma — desabafou a consultora comercial Abigail Walnoff, 21, enquanto aguardava atendimento com dores fortes de cabeça. A indignação encontrou coro entre os outros pacientes:
— Não é neles que está doendo, então eles deixam a gente aqui — reclamou o aposentado Valdemir Teles Ferreira, 67.
— Isso aqui não vai mudar nunca — afirmou a soldadora Tânia Fabra, 33.
Entre quem conseguiu o atendimento, porém, a avaliação é variável e não permite um diagnóstico claro da situação do Pronto-Atendimento. A Secretaria da Saúde informou que cinco médicos atuavam no Postão na tarde de quarta, mas a titular da pasta se pronunciará sobre o futuro do Postão após a divulgação do primeiro balanço de funcionamento da UPA.
Confira as avaliações de quem foi atendido no Postão durante esta semana:
— Cheguei aqui depois das 9h, a minha sogra fez o exame e pegou o resultado. Achei o tempo de espera um pouco menor, não sei se pela idade dela. Mas fui sempre bem atendida.
Ariane Schneider, 30, dona de casa, com sobre Zulma Pelin, 81, aposentada,
— Cheguei aqui e fui logo atendida. Minha irmã caiu na rua pelas 9h, fez o raio-X, pegou o remédio e agora (14h30) estamos saindo.
Salete da Silva, 64, aposentada, moradora do Cristo Redentor.
— Se eu reclamar, vou estar mentindo. Agora estou esperando atendimento para a minha filha, mas na outra semana vim com princípio de infarto e foi tudo muito rápido. A gente só vem quando precisa, em emergência, e foi sempre assim.
Indionor Cardoso, 36, garçom, com a mulher Mary Silva, 29, auxiliar de cozinha, e filha Maya, dois, moradores do loteamento Vila Mari.