O sonho da casa própria para 420 famílias de Caxias do Sul se aproxima da realidade. Cerca de sete meses após o término das obras do conjunto habitacional Rota Nova, na região do loteamento Mattioda, mais de 1,2 mil pessoas devem deixar áreas de risco ocupadas às margens da Rota do Sol, nos bairros Santa Fé e Cidade Industrial, a partir da próxima semana. A transferência deve ocorrer depois da entrega oficial do empreendimento, marcada para sexta-feira pelo governo federal, por meio do Ministério das Cidades.
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Ainda não há data confirmada para o início das mudanças, porém, a expectativa da prefeitura é de que a partir do dia 28 alguns blocos do loteamento já comecem a receber os novos donos. Os moradores serão realocados de forma gradativa: por dia, de 30 a 40 famílias poderão se mudar. Conforme informações do secretário municipal de Habitação, Elisandro Fiuza, a ordem das transferências será determinada por áreas, respeitando atuais ligações de água e luz, por exemplo. Isso porque, no mesmo instante em que a moradia é desocupada, acontecerá o desmanche das estruturas. Esta medida visa evitar novas invasões num terreno que pertence ao Estado e era ocupado ilegalmente.
A princípio, o processo iniciará pelo Cidade Industrial e, no decorrer de setembro, chegará até as famílias do Santa Fé. De acordo com o setor de Reassentamentos Sociais da Universidade de Caxias do Sul (UCS), que desde 2014 trabalha na transição dos moradores, cada família já sabe em qual bloco e apartamento irá residir. Todos os moradores também já estão cientes de que, agora, estarão sujeitos a regras de condomínio num endereço regularizado.
– No último sábado, reunimos todas as famílias para definirmos os detalhes da constituição de condomínio, além de esclarecermos dúvidas que alguns ainda tinham. Iremos acompanhar o processo de transferência e também iremos permanecer com o trabalho até que os novos vizinhos estejam adaptados à nova moradia – conta a coordenadora da equipe da UCS, Rosane Nascimento.
A maior parte das pessoas receberá ajuda da prefeitura, que fornecerá caminhões para a mudança. Algumas famílias, porém, optaram por levar os móveis e outros objetos pessoais por conta própria. Toda a logística foi previamente combinada com a equipe que vai auxiliar no processo. Para a demolição das casas antigas também foi feito um acordo: como serão desmanchadas no mesmo dia em que as famílias fizerem a mudança para o Rota Nova, os moradores puderam escolher o que queriam fazer com o material. Alguns optaram por vender ou doar a madeira que sustentava a casa e outros escolheram descartar o conteúdo.
O novo loteamento possui 21 prédios com 20 apartamentos, de 49 metros quadrados cada. Todo o projeto é orçado em cerca de R$ 50 milhões, com recursos do governo federal e contrapartida da prefeitura.
Cães e gatos foram chipados para coibir abandonos durante as mudanças
Para evitar e até mesmo coibir o abandono de animais durante a mudança das famílias, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) vistoriou todas as áreas de remoção e colocou chips em 205 cães e gatos. O dispositivo é vinculado ao CPF do tutor, que deve responder caso o animal seja deixado para trás.
Conforme a diretora do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal da Semma, Marcelly Paes Felippi, o código de posturas do município permite em torno de 20 animais por residência. Dos moradores contemplados com o Rota Nova, nenhum possui tantos bichos assim. Portanto, todas as famílias estão autorizadas a levar seus animais para os apartamentos. Assim que as transferências foram concluídas, os bichos serão castrados pela prefeitura.
Há mais de dois meses, todas as pessoas que irão morar no novo loteamento foram orientadas a, caso não tenham condições ou não queiram levar os animais, doá-los para outro tutor responsável. Moradores que não estão conseguindo doar são auxiliados pelo departamento. Até então, a maioria das pessoas está conseguindo fazer as doações por conta própria, geralmente para familiares que têm pátio ou chácara.
A Semma irá acompanhar todo o processo de transferências das famílias, durante todos os dias da remoção. Como os animais foram chipados, caso algum seja deixado para trás, a secretaria fará a leitura do chip e o CPF do tutor será informado ao Ministério Público (MP). Apenas três famílias se negaram a chipar: nestas, foram feitas fotos dos animais e registrados os nomes dos donos e respectivos endereços. Se esse animal for localizado na rua, os tutores também serão responsabilizados.
"A gente vai para uma nova vida"
Com um sorriso largo e faceiro, Mareci Pires Ortiz, 53 anos, é uma das moradoras que esperam ávidamente o dia da mudança para o Rota Nova. Diante da grande guinada que a vida dará, ela recorda as dificuldades que ela e o marido passaram na casa atual.
– Aqui, quando chove, alaga tudo na frente de casa. A gente está ansioso para se mudar. Pelo que eu estou sabendo, a prefeitura vem fazer a nossa mudança no dia 31. A gente está aqui há uns sete anos ou mais. Eu estou receosa, quero ver se eu me adapto. Nós pegamos o térreo, vamos morar no bloco J. Já fomos lá, fizemos visita, achei muito bom. A gente vai para uma nova vida, é tudo novo para a gente – revela.
Planejando comprar mobília nova no futuro e também em função de o novo apartamento ser pequeno, a moradora conta que não pretende levar todos os móveis:
– Vou levar a minha cozinha, o sofá, a estante, a geladeira e uma cama. O resto a gente vai desmanchar e colocar amontoado no lixo. Não vou doar porque não dá pra usar mais, né? E, claro, as minhas roupas, que vão todas comigo.
Sem filhos, Mareci mora sozinha com o marido. Trabalhando desde muito jovem, ela conta que atualmente faz serviços de limpeza para a Metalúrgica Frasle, mas tem o desejo de conseguir trabalho um trabalho dentro do próprio loteamento.
– Já fomos lá, fizemos visita, achei muito bom. Já mandei até currículo para, quem sabe, trabalhar no prédio, na limpeza. Já pensou trabalhar em casa? E na área que eu mais gosto, a da limpeza? – planeja, sorrindo.
Faceira, Mareci também vai enumerando o que já sabe sobre o lugar que, em breve, poderá chamar de lar.
– Vai ter jardineiro, porteiro, vai ter tudo. E tem estacionamento de carro também – completa.
Após mostrar os cobertores e roupas que já estão arrumados para a mudança, ela termina a conversa explicando o que já estava claro.
– Eu estou bem feliz – explica, aos risos.