Usuários de planos de saúde sabem: nem sempre pagar em dia a mensalidade garante a cobertura completa para casos de procedimentos mais complexos. Dia a dia, a jovem Caroline da Silva, 22 anos, espera por uma ligação que autorize uma cirurgia essencial para que possa voltar a andar. Diagnosticada desde os sete anos com problemas na coluna, a doença se agravou para neurofibromatose tipo 1, doença genética caracterizada pelo surgimento de tumores múltiplos e por alterações principalmente na formação da coluna. A enfermidade se agravou com o crescimento, obrigando a jovem enfrentar cinco cirurgias. Este seria o sexto procedimento, ansiosamente esperado pela família desde setembro. O desespero é tão grande que eles apelaram para a Justiça para garantir a cirurgia. No entanto, até agora, Caroline segue aguardando a data da hospitalização amparada pelos pais, responsáveis pela locomoção dela do quarto para os outros cômodos da casa. Para piorar, a mãe Ivanir tem problemas no pulso, e o pai Francisco está aposentado por invalidez por problemas sérios na coluna.
_ Ela é preciso instalar uma espécie de válvula para drenar um dos cistos_ descreve a mãe.
O entrave entre a operadora Fátima Saúde e a família está na cobertura geográfica do plano de saúde. Até o ano passado, a jovem estava autorizada a ser submetida a todo tratamento em hospitais de Porto Alegre, indicados para a especialidade. No entanto, desde a metade do ano passado, o plano passou a cobrir somente serviços na região de Caxias do Sul. A família diz ter recebido o encaminhamento do Fátima para que procurasse dois especialistas na cidade.
– Mas nenhum deles se sentiu apto para fazer a cirurgia – resume a advogada Quelen Teixeira Barpe.
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Em atestados, os médicos confirmam a inaptidão para o procedimento. A ação movida pela família na Justiça teve a liminar negada de primeira instância, solicitando mais informações. Segundo a advogada, no dia 1 de fevereiro, na quarta-feira, o Fátima foi notificado para apresentar uma solução em até 24h - para que designasse um profissional ou autorizasse o tratamento na Capital. Até a tarde de ontem, a família seguia aguardando o caso.
– As complicações neurológicas pioram a cada dia. Desde setembro, ela não só fica na cama ou sentada. Ela não consegue mais nem fazer fisioterapia– descreve a mãe da jovem, Ivanir dos Santos, 48 anos.
A cirurgia é um tratamento microcirúrgico das lesões intramedulares.
O que diz o Fátima:
Primeiramente, cumpre esclarecer que a Pró-Salute Serviços Para a Saúde Ltda. está ciente do caso da beneficiária Caroline da Silva. Ressaltamos, contudo, que na cidade de Caxias do Sul a Operadora possui profissionais habilitados e toda a infraestrutura necessária para a realização do procedimento cirúrgico em questão, os quais inclusive já foram colocados à disposição da beneficiária. Todavia, a mesma fez a opção de realizá-lo na cidade de Porto Alegre, onde não há extensão das coberturas previstas no plano de saúde contratado.Importante informar, ainda, que o assunto em questão está sob a análise do Poder Judiciário, através de ação que tramita na 6ª Vara Cível desta Comarca, bem como de recurso interposto junto ao Tribunal de Justiça, sendo que em ambas as instâncias já houve manifestação dos magistrados no sentido de que não restou demonstrada a impossibilidade de realizar o procedimento em Caxias do Sul, afastando, portanto, a obrigação da Operadora de Saúde de efetuar a cobertura.