Para evitar confusões na operação que desmanchará parcialmente benfeitorias de 100 casas do Vila Amélia II, em Caxias do Sul, riscos nas paredes indicam o ponto exato da demolição parcial. Outras 21 moradias serão colocadas abaixo.
Na casa de Rafael Schultz Rodrigues, 34 anos, um rabisco amarelo mostra onde a parede receberá marretadas. O que está para trás, em direção ao loteamento particular, será demolido. O que está para frente, em direção à rua, será preservado. Segundo Rodrigues, a família perderá dois quartos e uma casa de fundos, onde residem outros três parentes. Ele e a mãe já estão construindo outra peça na parte frontal da propriedade. O gasto previsto é de R$ 15 mil.
– Vou puxar mais para frente e erguer dois pisos – conta Rodrigues, admitindo que sabia estar numa área invadida.
– Sabe como é. Estamos aqui há cinco anos, diziam que não ia dar nada.
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Ao lado, a vice-presidente da Associação de Moradores do loteamento, Nair Oliveira, 52, já adotou providências.
– Estou aqui há uns 20 anos e já havia gente. Quando soube da decisão, desmanchei metade da minha propriedade há três anos. Hoje, estou regular – esclarece.
Até a casa do presidente do bairro, Dirlei da Rosa, será afetada com a reintegração.
_ Vou perder o banheiro e a área de serviço, mas vamos erguer ao lado _ revela a mulher dele, Areoli da Silva Palhano, 40.
O secretário da Habitação disse, durante audiência na Câmara de Vereadores na semana passada, que não há como conceder moradias para quem perder tudo no Vila Amélia II. Segundo Giovani Fontana, Caxias do Sul tem outras 9 mil famílias inscritas em programas habitacionais para pessoas de baixa renda. Uma alternativa seria fazer com que os moradores buscassem financiamento pelo Minha Casa, Minha Vida.
Idoso não tem um lar definido
Se algumas famílias encontraram um novo lar e deixaram casas para trás, outras temem pelo futuro. Cerilo da Silva, 76 anos, é catador e ganha um salário mínimo por meio do programa Amparo Assistencial ao Idoso. É um dos mais antigos moradores do Vila Amélia e só viu a invasão crescer.
Ele garante ter feito inscrição num programa habitacional há seis anos, mas ainda não obteve resposta. A casa dele é bem simples, forjada com alvenaria e telhado de zinco. Está inserida totalmente na área particular. Silva diz ter comprado o imóvel em 2007 por cerca de R$ 5 mil. Antes, morava em outra parte do bairro.
O idoso diz não ter suspeitado que estava adquirindo um problema, apesar dos avisos emitidos por oficiais de Justiça.
– Sempre digo: somos aquilo que somos. Comprei isso (casa) de um senhor que foi embora para Passo Fundo. É um bom lugar para morar – lembra Silva.
Uma saída para ele seria morar com um filho, também no Vila Amélia, mas isso não está definido. O homem não consegue imaginar para onde levaria os poucos bens que possui.
– Vou sentir falta daqui. É minha casa, me ajuda no ganha-pão, aqui posso guardar o que cato pela rua – exemplifica o homem.