Os moradores da invasão no Vila Amélia II sabiam da ilegalidade das casas assentadas parte num terreno particular e parte numa propriedade da União, na região do Desvio Rizzo, em Caxias do Sul. Como a retirada das famílias residentes na parte privada vinha sendo prometida desde 2012 e frequentemente adiada por fatores processuais, ficou difícil acreditar que isso algum dia ocorreria.
Mas a data está marcada e não há sinais de que os donos do terreno desistirão da ideia, mesmo com o apelo por um prazo maior solicitado pela Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Segurança da Câmara de Vereadores e pela Secretaria Municipal da Habitação.
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Na próxima segunda-feira, 21 de novembro, oficiais de Justiça, Brigada Militar e operários especializados em demolição devem cumprir a determinação judicial que exige a saída de 21 famílias. As casas serão desmanchadas por tratores numa faixa de pouco mais de 800 metros de extensão, que margeia os trilhos da antiga ferrovia, hoje soterrados por terra e brita e transformados em rua improvisada. Mais: os donos de outras 100 moradias deverão recuar de dois a quatro metros de benfeitorias que avançaram sobre o terreno particular. Significa a destruição de banheiros, áreas de serviço, cercas, quartos e qualquer pedaço de estrutura além do limite estabelecido.
Quem escapar da retirada da próxima semana seguirá morando irregularmente no Vila Amélia II, pois trata-se de uma comunidade erguida sobre o domínio da velha ferrovia.
Cinco dias de trabalho
Será uma das maiores operações em área invadida nos últimos anos e os trabalhos devem prosseguir por pelo menos cinco dias. A intenção é colocar obstáculos para evitar ocupações. Moradores já ouviram falar até da construção de um grande muro, que separaria o loteamento vizinho, ainda desabitado mas com uma infraestrutura que não se compara ao amontoado de casas de madeira do Vila Amélia II.
Na quarta-feira, representantes de 10 setores públicos, da Rio Grande Energia (RGE) e dos donos do terrenos debaterão como será a atuação da força-tarefa. O objetivo é evitar confrontos e tentar humanizar uma ação que quase sempre é traumática. As famílias da comunidade reconhecem que a área não lhes pertence, mas se veem como reféns de uma cidade onde o déficit habitacional está longe de ser solucionado:
– Vim para cá em 2000 e já tinha muitas casas. Para onde vão essas pessoas? – questiona o líder comunitário do Vila Amélia II, Dirlei Silveira da Rosa, 37 anos.
Essa não será a primeira remoção na comunidade. Em 2013, pelo menos 20 famílias já haviam sido retiradas.