Uma comunidade marcada por tragédias. É assim que moradores do bairro Pedancino, em Caxias do Sul, descrevem o local, que fica às margens da ERS-122, meio caminho entre a cidade e a vizinha Flores da Cunha. Nos últimos 10 anos, pelo menos oito pessoas morreram entre os Km 85 e 87, que incluem o trevo de acesso à comunidade. No mesmo período, 115 acidentes deixaram mais de 80 feridos.
As vítimas mais recentes são as irmãs Zenice Pellin Cassol, 55 anos, e Carmen Pellin Sgarioni, 68. As duas foram atropeladas na noite de 29 de agosto, no Km 86, quando atravessavam a rodovia. Zenice morreu três dias após o acidente, e Carmen se recupera em casa, no Pedancino.
Não bastasse a perda de pessoas da comunidade, moradores lutam há anos por melhorias na via. O presidente da Associação de Moradores, Marcelo Brandalise, afirma que existe a promessa de instalação de redutores de velocidade desde o final do ano passado, o que não ocorreu até agora. Além disso, a ERS-122 carece de mais iluminação, acrescenta o líder comunitário.
Em dezembro, o trecho recebeu melhorias: foram feitos acessos com recuo central, pintura e colocados tachões e sonorizadores, numa tentativa de reduzir a velocidade dos veículos. Porém, a rodovia ainda concentra um grande número de motoristas que não respeitam o limite de 40km/h.
– As mudanças foram comemoradas, mas o registro de mais uma morte nos faz acordar novamente. Além do sofrimento, encaramos uma luta que parece nunca terminar. Já enterramos tanta gente da nossa comunidade. Será que precisamos enterrar mais outras para que alguém olhe por nós? O que queremos é uma solução – desabafa Brandalise.
Segundo o comandante do Grupo Rodoviário da Brigada Militar em Farroupilha, sargento Givanildo Schiavon, o trecho é perigoso não pelo número, mas devido à gravidade dos acidentes.
– O maior problema é a velocidade. Se formos fiscalizar, quase 100% dos veículos seriam autuados. A melhor saída seria a instalação de lombadas – avalia.
‘Não queremos mais ninguém morrendo aqui’
A morte de Zenice reascendeu o drama vivido pela comunidade do Pendancino. O ciclo de tragédias que abala o bairro desde 2011 tem desestruturado muitas famílias: Zenice e Carmen era amigas de Marta Tereza Boff, 52 anos, e de Gema Luiza Parizzoto Koch, 71, que morreram em novembro do ano passado no mesmo trecho da ERS-122.
Nos casos de 2015, Marta e Gema foram vítimas de acidentes com poucos dias de diferença. Gema voltava do velório de Marta quando perdeu a vida no Km 87. Antes disso, em agosto 2011, o único filho de Marta morreu no trevo de acesso ao bairro. Fabio Galiotto, 23, voltava do trabalho de motocicleta quando se acidentou.
– Temos a consciência de que são fatalidades, de que ninguém premeditou essas mortes. Mas são tantas vidas perdidas que fica difícil seguir em frente. O nosso Pedancino está novamente triste – relata Cristiano Sgarioni, 37, filho de Carmen e sobrinho de Zenice, morta em agosto.
Segurando os exames da mãe, Sgarioni (foto acima) pede uma solução emergencial e definitiva para que mais pessoas não percam familiares de forma precoce:
– Por sorte, a minha mãe está viva. Mas perdemos um pedaço da nossa família. A minha tia era uma mulher batalhadora, com saúde e que tinha muito ainda para viver. O que queremos é que alguma autoridade assuma o problema. Não queremos ver mais ninguém morrendo por aqui.
Daer garante a instalação de controlador no local
O diretor de Operações Rodoviárias do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), Rogério Uberti, garante que o processo de instalação da lombada no acesso ao Pedancino já está em andamento. Conforme ele, o secretário estadual dos Transportes, Pedro Westphalen, solicitou que o trecho da ERS-122 receba imediatamente o aparelho que obriga a redução de velocidade.
– As intervenções feitas pela concessionária EGR parecem não ter resolvido nada. Se não mexer no bolso dos motoristas, eles não vão respeitar. Estamos cobrando agilidade na instalação do controlador eletrônico, que é uma responsabilidade nossa – confirma Uberti.
Ainda não é possível fixar uma data para que o aparelho esteja funcionando, já que é preciso aguardar o trâmite do processo. Conforme a EGR, o pedido do equipamento já foi autorizado.
– O que posso afirmar é que estamos atentos ao problema da rodovia e o mais rapidamente possível estaremos concluindo a instalação – garante o diretor.