Denunciados pelo Ministério Público (MP) em fevereiro por homicídio qualificado, os policiais militares Emerson Luciano Tomazoni, Gabriel Modesti Ceconi e Devilson Enedir Soares vão a júri popular pela morte de Lucas Raffainer Cousandier, 19 anos, ocorrida no dia 5 de fevereiro em Caxias do Sul. Conforme a denúncia, além de matar o jovem por motivo fútil, eles cometeram fraude processual, denunciação caluniosa, abuso de autoridade e porte ilegal de arma.
Ainda não há data para o julgamento, e os PMs seguem presos preventivamente. A defesa deles entrou com pedido para revogação das detenções, mas a juíza Milene Fróes Rodrigues Dal Bó indeferiu a solicitação. Na versão apresentada à polícia, os PMs disseram que faziam, no dia 3 de fevereiro, patrulhamento pela Avenida Itália, no bairro São Pelegrino, quando tentaram abordar um veículo Ford Ka, que teria fugido. Houve, então, de acordo com eles, perseguição e troca de tiros.
Leia mais:
"Parecia um pesadelo", afirma jovem que acompanhava amigo morto
"A conduta desses PMs foi ilegal e irregular", diz comando da BM
Atingido na cabeça, Cousandier foi encaminhado ao Hospital Pompéia, onde teve morte cerebral dois dias depois. Os outros dois ocupantes do automóvel admitiram que fugiram por medo de multa e prisão, mas garantiram que não portavam armas. Os PMs, então, apresentaram dois revólveres calibre 38 que estariam com os jovens. As armas, porém, não eram das vítimas.
O caso sofreu uma reviravolta dias depois, quando a Brigada Militar localizou o dono de uma das armas. Segundo a investigação da própria corporação, dias antes da perseguição, os policiais teriam invadido a casa de um morador do bairro Planalto Rio Branco, em Caxias, e recolheram um revólver que pertencia ao homem. O sistema GPS da viatura registrou que o carro esteve na moradia durante cerca de 50 minutos, o que confirmou a versão do dono da arma repassada à BM.
Como a arma tinha registro, os investigadores localizaram o dono e descobriram que o revólver havia sido recolhido. A segunda arma apreendida no Ford Ka estava com a numeração raspada. Os depoimentos prestados pelos amigos de Cousandier também pesaram a favor da decisão da Justiça. Eles afirmaram que foram retirados do local da abordagem e ficaram de cabeça abaixada dentro de outra viatura da corporação, que chegou na Perimetral para dar apoio na ocorrência.
A dupla circulou com esses outros PMs por ruas da cidade. Quando retornaram novamente à Perimetral Sul, os jovens disseram que foram questionados sobre as armas que teriam sido localizadas dentro do Ka. O depoimento de outra testemunha indicou que um policial militar conduziu a viatura envolvida na perseguição até um local afastado e disparou contra o veículo. A intenção era provocar danos na viatura para simular que os PMs haviam sido alvos de disparos por parte dos jovens e agiram em legítima defesa.