Região nascida do empreendedorismo de italianos que atravessaram o oceano em busca de novas perspectivas, a Serra Gaúcha vive a incerteza. Somada à situação política nacional atual, a retração econômica provoca um cenário em que as dúvidas são maiores do que as respostas. Um dos principais questionamentos de empresários e da comunidade é como manter o crescimento diante dos obstáculos. Para provocar a troca de ideias e buscar soluções, o Grupo RBS em Caxias do Sul lança, nesta terça-feira, o projeto Avanti Serra. A comunidade é convidada a participar, até o fim do ano, de palestras, debates e outras ações que pretendem ajudar a nortear a procura de caminhos para avanço econômico e social. A primeira atividade ocorre no dia 12 de abril.
- É um projeto de conexão de boas ideias, cases positivos, histórias de empreendedores para contribuir nesse momento de incerteza. Queremos contribuir com um pouquinho de inspiração para continuarmos tendo essa terra rica, próspera - aponta o diretor regional da RBS Caxias, Matheus Carvalho.
Especialistas concordam: não há receita pronta para crescer, e é praticamente unânime a teoria de que apostar na inovação e na criatividade faz parte do caminho, além de abrir horizontes para ideias que deram certo aqui, no país e no exterior.
- Temos de pensar no componente comportamental, de fazer mudança de ação, de atitude, de visão de mundo. Isso até chegarmos ao momento de pensar o futuro, como serão as próximas gerações - entende Enor Tonolli, professor da UCS e coordenador executivo do TecnoUCS, parque tecnológico que visa a promover a cultura da inovação e atua como elo entre poder público, iniciativa privada e comunidade acadêmica.
Se não há respostas prontas, há muito espaço para o debate.
- É importante principalmente para trocar a mentalidade das pessoas sobre como elas têm percebido as oportunidades de mercado. Vivemos numa região extremamente tradicional. Desde a origem, descobrimos um caminho de gerar riqueza, que tinha funcionado até agora. O projeto vai oxigenar a mente das pessoas para pensar diferente - acredita Tonolli.
A primeira palestra ocorre dia 12 de abril, às 20h, no UCS Teatro. O convidado é André Barrence, diretor do Campus Google do projeto Google para Empreendedores. A entrada é gratuita.
Exemplos servem de inspiração
Assim como boas ideias locais, outras regiões do país e do mundo podem servir de inspiração. Lugares como Recife e Medellín (Colômbia) identificaram cenários semelhantes ao da Serra e avançaram. As soluções para o desenvolvimento regional vieram, em geral, da parceria de iniciativa privada, poder público, academia e comunidade. É o que se chama, no meio empresarial, de ecossistema de inovação.
- É preciso incentivar missões acadêmicas e empresariais para conhecer esses sistemas. Não se pode ficar restrito a pensar no agora, temos que pensar em como vamos estar quando a crise acabar - aponta a diretora do Centro de Ciências Sociais da UCS, Maria Carolina Gullo.
Uma das propostas do Avanti é justamente trazer à tona exemplos que deram certo. Entre eles, ideias que surgiram pequenas, como o uso de bicicletas compartilhadas, iniciado em Recife e que hoje se espalha em diversas cidades brasileiras, como Porto Alegre.
- Nós brasileiros somos criativos e empreendedores por natureza. O problema é que muitas vezes não usamos na coisa certa. Está na hora de canalizar o poder criativo que temos para reinventar o poder que temos - entende Maria Carolina.
Problemas podem ser oportunidades
Especialistas não cansam de afirmar que as dificuldades podem despertar para oportunidades de progredir. Para a coordenadora do curso de Psicologia da UCS, Renata Sassi, situações difíceis como crises, apesar de difíceis, podem ser encaradas como naturais no processo de desenvolvimento e, melhor: levar o sujeito a se movimentar.
- Em outras palavras, tirar da zona de conforto. Se há uma crise, tem que fazer um movimento e até nos levar a um patamar melhor - analisa Renata.
O impacto das dificuldades e, consequentemente, das mudanças, não é apenas econômico, mas social. Emprego e renda estão diretamente ligados com essa mudança, resume o professor da UCS Enor Tonolli:
- Se as pessoas se estabilizam, se tornam mais felizes. Muda o tecido social, muda o tecido econômico.