A prisão de um apenado do regime semiaberto envolvido em um assalto mostra que a permanência no albergue prisional de Caxias do Sul continua sendo álibi para a prática de crimes. Após fugir e cometer um roubo, Jean Carlos Nunes Lopes, 25, foi identificado já dentro do Instituto Penal e levado à delegacia. Por diversas vezes, reportagens do Pioneiro já flagraram a escapada de detentos do albergue.
O assalto ocorreu às 16h de segunda-feira, quando Nunes e um adolescente entraram em um estabelecimento comercial na Rua Coronel Flores, bairro São Pelegrino, roubaram R$ 500 do lugar e dois celulares. Segundo as vítimas, Nunes segurava uma arma. As características dos suspeitos foram repassadas via rádio pela Brigada Militar, que foi acionada. Um dos PMs que fazia a guarda externa do albergue reconheceu Nunes, que fugiu e voltou à casa prisional pulando uma janela com a grade serrada e escapando por uma abertura da tela que cerca o pátio.
Encaminhado à delegacia, Nunes foi reconhecido pelas vítimas e admitiu o crime. Na versão dele, ele estava na rua quando o adolescente o convidou para praticar o roubo. Ele aceitou porque devia dinheiro para outros apenados dentro do albergue. Após o assalto, o adolescente fugiu com os celulares e um suposto simulacro de revólver utilizado no assalto. Nunes ficou com o dinheiro e voltou de táxi para o instituto penal.
- É mais uma prova da falência do regime semiaberto no sistema prisional. Eles não ficam presos - opina o delegado Guilherme Gerhardt, que atendeu a ocorrência.
Nunes foi condenado a cinco anos e quatro meses de regime semiaberto por uma ocorrência de roubo com a utilização de arma, em 2013. Por não ter trabalho externo, ficava recolhido no albergue. Ele tem antecedentes também por furto qualificado, roubo e corrupção de menores, posse de entorpecentes, extorsão e como menor infrator.
Fuga não foi percebida
Após o assalto, por decisão judicial, Jean Carlos Nunes Lopes voltou para o regime fechado e foi recolhido à Penitenciária Industrial de Caxias (Pics). Não se sabe quando ele fugiu do albergue, já que a fuga não foi percebida pelos guardas.
O baixo efetivo já é um problema histórico da casa prisional, bem como as investidas dos presos: há dois dias, a janela por onde Nunes fugiu havia sido consertada. Ao pular a janela e passar pela tela, os presos caem um terreno baldio que dá acesso à Rua Conselheiro Dantas. Por lei, diferentemente de presídios, não se pode construir barreiras, como muros, em albergues de regime semiaberto.
- A sociedade vê o semiaberto como uma instituição falha, mas não vê os esforços que fazemos para impedir que ocorram essas fugas. Semanalmente, temos que mandar soldar as grades das janelas porque os presos serram. Estamos com projetos para trocar as grades de metal por colunas de concreto, que resistem à serra, e para a compra de 635 metros de tela farpada em espiral para colocar na parte baixa do cercamento do pátio. Porém, é necessário ampliar essa discussão: dos apenados, 80% estão aqui por causa de delitos provocados pelo consumo de droga - explica o diretor do instituto, Jean Ramos.
Para o delegado regional da Susepe, Roniewerton Fernandes, a solução seria a implantação de equipamentos de monitoramento eletrônico nos presos.
- Esses instrumentos foram solicitados à Vara de Execuções Criminais, mas é um processo lento que deve ser aceito também pelo apenado - afirma.
Regime semiaberto
Apenado foge de albergue e comete assalto em Caxias do Sul
Ele escapou por uma abertura da tela no pátio
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