Prestes a começar mais um ano letivo, os governos estadual e municipal não conseguiram zerar problemas estruturais em escolas públicas de Caxias do Sul. De 16 instituições estaduais apontadas no ano passado como prioridade pela 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), nenhuma teve todas as intervenções concluídas e, em nove delas, o processo está parado. Na rede municipal, 13 de 86 escolas necessitam de melhorias de pequeno, médio ou grande porte. Assim, em 2016, muitos alunos ainda terão de levar cadernos e lápis novos para salas de aula esburacadas e com goteiras. O cenário é reflexo de construções antigas e do histórico abandono por parte do poder público, principalmente na rede estadual.
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Em algumas instituições, a situação é tão crítica que apenas uma reforma geral ou reconstrução resolveria. Na Escola Estadual de Ensino Médio Victório Webber, no bairro Serrano, o prédio antigo divide espaço com a estrutura nova, de 2013. Com necessidade de utilizar salas de aula e administrativas no prédio velho, a direção se obriga a oferecer aos estudantes uma estrutura precária. Para piorar, não há autorização para demolir um anexo que está condenado e é utilizado apenas como passagem entre áreas antiga e nova. Há cerca de oito anos, o pátio está interditado por risco de desabamento - uma parede improvisada com pedaços de madeira isola o local. Em dias chuvosos, o recreio ocorre em um corredor largo, coberto por telhas esburacadas e estrutura de madeira, algumas com sinal de apodrecimento.
- A resistência dos pais em colocar os filhos para estudar aqui é por causa da estrutura física - lamenta a diretora, Sirlei Drum de Matos.
Outros exemplos se espalham pela cidade. Na Escola Estadual de Ensino Médio Erico Veríssimo, no São Ciro, as salas de aula têm buracos remendados com pedaços de madeira. Se chove, os 780 alunos ficam sem educação física, porque o pátio é aberto. No ano passado, a 4ª CRE investiu R$ 370 mil em reparos pequenos em algumas das 52 escolas estaduais de Caxias, mas a situação ainda está bem longe do ideal.
- Priorizamos ações onde realmente não dava para continuar. Mas é claro que tudo deveria estar pronto - reconhece o coordenador da 4ª CRE, Paulo Périco.
As demandas não se restringem a Caxias do Sul. Em Cambará do Sul, onde a Escola Estadual Imaculada Conceição foi devastada por um temporal em setembro passado, parte dos 900 alunos deverão estudar em salas-contêineres com ar-condicionado que ainda serão dispostas no pátio. A empresa vencedora da licitação para reforma faliu, e a segunda colocada assumirá a obra.
Não há prazos exatos para execução das melhorias pendentes.
Município também tem demandas
Apesar de a situação na rede estadual ser mais preocupante, algumas instituições municipais também estão longe do panorama ideal. Um exemplo é o da Escola Municipal Laurindo Luiz Formolo, no bairro São Ciro II. O piso de madeira com dezenas de remendos, feitos com pedaços de alumínio, dá a uma sala de aula um apelido antipático: sala de latinha. No final do ano passado, um aluno de oito anos machucou a perna quando caminhava e o piso cedeu. Novamente, o buraco acabou coberto com mais um pedaço de metal. Há paredes rachadas, remendos e uma sala praticamente inutilizada: a de artes, onde é preciso caminhar próximo à parede para não correr o risco de o chão desabar com o peso da pessoa.
- Estamos remendando para começar o ano sem entrar água na escola. É triste ter que usar a verba da autonomia financeira para isso, quando poderia estar investindo em algo melhor para os alunos - lamenta a diretora, Jaciara Viesser.
Segundo a assessoria da Secretaria Municipal da Educação (Smed), um estudo de viabilidade para construir a nova escola está sendo elaborado e a verba é buscada junto ao governo federal.
No ano passado, o município interveio em 48 colégios - destes, 12 ainda estão em andamento. Os trabalhos incluíram construção e cobertura de quadras poliesportivas, ampliações, pintura, muro de contenção, intervenções na rede elétrica, telhado e refeitórios. Os valores das obras variam entre R$ 800 mil e R$ 1,4 milhão.
A Escola Engenheiro Mansueto Serafini, no bairro Por do Sol, que teve o telhado arrancado em um temporal em dezembro, está sendo reformada para que a volta às aulas ocorra normalmente. A Smed ainda trabalha em projetos, estudo de viabilidade e liberação de recursos para outras instituições.
Cristóvão e José Generosi são prioridade para 4ª CRE
Dois casos emblemáticos estão entre as prioridades do coordenador da 4ª CRE, Paulo Périco: a Escola Estadual de Ensino Médio José Generosi, em Forqueta, que está parcialmente interditada, e o Instituto de Educação Cristóvão de Mendoza, que há cinco anos foi anunciado como referência de um grande projeto de reconstrução lançado pelo Estado, o Plano de Necessidade de Obras (PNO). O programa, no entanto, ainda não saiu do papel.
- Para mim, o Cristóvão e a José Generosi são questão de honra - afirma Périco.
A burocracia e a lentidão da máquina pública atrasam ainda mais os resultados. Enquanto estudantes da José Generosi frequentam uma escola praticamente toda de madeira, devastada pelo tempo e com risco de desabamento, o projeto de um novo prédio terá de ser refeito porque o antigo era anterior à Lei Kiss, que obrigou a inclusão do Plano de Prevenção e Combate a Incêndios (PPCI). Ou seja, a reconstrução que já estava atrasada, deve demorar ainda mais.
Para o Cristóvão, Périco tem esperança de ter o projeto de reforma em mãos ainda neste ano. Para dar andamento, ainda é necessário elaborar o PPCI do prédio da 4ª CRE, anexa ao Cristóvão e que entrará no mesmo rol de obras. A obra ainda deve ser realizada pelo PNO.