Os adeptos de aventura e que gostam de conhecer novos lugares pelo mundo afora já devem ter assistido na televisão ou na internet as expedições da família Schurmann. Os veteranos Vilfredo e Heloísa, ambos com 67 anos, e os três filhos do casal, Pierre, 46, David, 40, e Wilhelm, 38, viajam juntos há 31 anos.
FOTOS: Conheça alguns dos lugares visitados pela família Schurmann
Ao lado dos avós, o neto Emmanuel, 23, realiza a primeira volta ao mundo. O casal também viajava com Kat, a filha adotiva, falecida em 2006, aos 13 anos, decorrente de complicações do vírus HIV.
Em meio a mais uma viagem, Vilfredo e Heloísa falaram com o Pioneiro. Confira os principais trechos da entrevista:
Pioneiro: Quando aconteceu a primeira viagem?
Vilfredo e Heloísa Schurmann: Em 1984, partimos de Florianópolis, em Santa Catarina, com os filhos Wilhelm, David e Pierre - na época, aos sete, 10 e 15 anos, respectivamente - com o objetivo de realizar um sonho: dar a volta ao mundo a bordo de um veleiro. Em nossa primeira grande aventura, passamos 10 anos no mar navegando pelo mundo todo, conhecendo povos e culturas exóticas. Assim, passamos a ser conhecidos como a primeira família brasileira a completar a volta ao mundo a bordo de um veleiro.
Em 1997, partimos para outra grande aventura, mas dessa vez, com uma linda e nova tripulante: a filha Kat, cinco anos. Depois de quase dois anos e meio, completamos mais uma volta ao mundo a bordo de um veleiro com a Expedição Magalhães Global Adventure, que foi acompanhada por milhões de pessoas no Brasil e em mais 43 países, via internet e TV. Retornamos ao Brasil, chegando em Porto Seguro, na Bahia, no dia 22 de abril de 2000, para participar das comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, sendo recebidos pelos então presidentes do Brasil e de Portugal, imprensa internacional e cerca de 3 mil pessoas.
Onde estão agora e qual é o próximo destino?
- Estamos na Austrália. Permaneceremos até 1º de janeiro de 2016, seguindo a rota da Expedição Oriente, que começou no dia 21 de setembro de 2014. A ideia dessa aventura iniciou, de certa forma, durante os preparativos da expedição anterior, quando estudamos a história de Fernão de Magalhães e nos intrigamos com as suspeitas do navegador em torno da existência de uma rota para as ilhas das especiarias via uma passagem ao sul das Américas. Ele argumentava que detinha um mapa que provava a existência deste canal. Em 2002, Gavin Menzies, um ex-oficial da Marinha inglesa, publicou uma tese, exposta no livro "1421", que poderia estar diretamente relacionada à essa questão e, no qual, inspirou a atual expedição.
No livro 1421: o ano em que a China descobriu o mundo, Menzies expõe a teoria de que os chineses foram os precursores das viagens de descobrimentos, utilizando "avançados instrumentos" com know-how de cálculo de latitude e longitude. A tese diz que os navios chineses, teoricamente, aportaram na América 70 anos antes de Colombo, circunvagaram o globo um século antes de Magalhães, descobriram a Antártica, chegaram à Austrália 320 anos antes de Cook (James Cook 1728-1779 - foi explorador, navegador e cartógrafo inglês) e descobriram a longitude 300 anos antes dos europeus. Inspirados nesta teoria e suposto fato histórico, seguimos na nossa Expedição Oriente, que retraça parte das rotas chinesas. Não foi apenas uma rota, foram diversas rotas navegadas pelos juncos chineses e estamos em busca de algumas delas.
Tem algum lugar que vocês ainda não conhecem?
Nossa! Ainda temos muitos lugares novos para conhecer. E não fomos lá porque não tivemos tempo. Nosso planeta é gigantesco e maravilhoso. Mas, antes de zarpamos rumo ao desconhecido, estudamos e planejamos cuidadosamente cada nova aventura. Com a Expedição Oriente, chegamos pela primeira vez na Antártica, que é sensacional, e, nos próximos meses, conheceremos mais um destino incrível e inédito até o momento: a China.
Cada tripulante sugere ou o capitão é quem comanda?
Somos uma família/tripulação bastante democrática, mas cada um tem suas funções bem determinadas, dentro de uma estrutura funcional. Dentro deste cenário, cabe ao capitão Vilfredo comandar a equipe e a expedição. Ele é o nosso guia, nosso ponto de referência e, há três décadas, vem nos orientando e nos conduzindo na realização de sonhos maravilhosos, mas ele está sempre aberto para escutar sugestões e pedidos da tripulação.
Vocês já se sentem cansados (pela idade)? Ou agora é que estão com mais vontade de realizar os seus sonhos?
Cansados? De jeito algum! Ao contrário! A cada ano, nos sentimos cada vez mais dispostos e estimulados a nos entregar a novos desafios. A idade é apenas uma referência para a experiência. Não temos vergonha alguma de estarmos com 67 anos, mas podemos garantir que colocamos a molecada no chinelo (risos). Durante a Expedição Oriente, por exemplo, já praticamos canoagem no Fiordo de Reloncavi, no Chile, mergulhamos e fizemos stand-up paddle em lugares paradisíacos, etc. Nos tempos livres para lazer, a gente se diverte muito com o nosso neto Emmanuel. É emocionante poder conviver de maneira tão intensa com nossos descendentes.
Qual foi o lugar mais impressionante que visitaram?
Poxa, que difícil! São tantos lugares incríveis! Mas vamos tentar destacar alguns. Das expedições anteriores, os melhores momentos que tivemos foram velejar nos fiordes da Patagônia e navegar nas ilhas da Polinésia Francesa. E estamos muito felizes por ter vivenciando novamente essa experiência com a Expedição Oriente. Há pouco tempo, durante uma entrevista, David apontou algumas cidades preferidas por ele, que achamos bacana destacar: Ilha Anegada - Ilhas Virgens Britânicas, uma das ilhas mais remotas do Caribe, local de paz e com um povo acolhedor; Moorea, na já mencionada Polinésia Francesa, e Auckland, na Nova Zelândia, onde existe o Café Santo que foi fundado em 1995 por um surfista de Florianópolis. Agora, na Expedição Oriente, a Antártica nos fascinou. Mas ainda falta conhecer o Oriente, onde deveremos estar no próximo ano.
Tem algum lugar que surpreendeu vocês?
Costumamos dizer que, para viver nosso estilo de vida, praticamos desde o início e constantemente, o desapego. E esse exercício deve ser buscado também na hora de visitar ou revisitar lugares. É preciso tentar se desapegar de qualquer imagem, lembrança, referência. Isso para chegar nos lugares com aquele primeiro olhar de curiosidade, de descoberta. É isso que faz com que cada experiência seja sempre - positivamente - surpreendente.
Vocês têm algum problema de saúde? Como fazem com os médicos?
Antes de partir para cada expedição, realizamos uma série de exames, passamos por um check-up completo. Continuamos com a saúde perfeita. E sabemos que isso resulta do nosso estilo de vida com alimentação saudável e prática de exercícios. Quando se vive num espaço reduzido como o de um veleiro, você também aprende a viver sem "alimentar" remorsos, amarguras ou conflitos. Viver bem, em paz e harmonia, é um santo remédio. A Heloísa recentemente caiu, quando uma onda enorme inclinou o barco. Apesar de não ter quebrado nenhum osso, rompeu o tendão e está fazendo fisioterapia. Logo estará boa, mas teve que ficar de molho e não esteve em algumas aventuras na Nova Zelândia.
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Ao todo, quantas línguas o casal fala?
Somos fluentes em português, inglês, francês e espanhol, além de conseguir compreender e nos comunicar em outros idiomas ou dialetos.
Quais os maiores sustos no mar?
Nosso pior momento foi uma tempestade, nas costas da Nova Zelândia, durante a primeira viagem, quando enfrentamos uma baixa pressão, com ventos ciclônicos de 135Km/h e ondas de 10 metros de altura. Nessa tempestade, perdemos os dois mastros e ficamos no mar por 11 dias até chegar de volta ao porto de Auckland. Vale ressaltar que enfrentar tempestades, furacão ou ciclone é extremamente delicado. Por isso, serenidade é fundamental para enfrentar qualquer fenômeno natural. É preciso ter calma para calcular os riscos, tentar prever o imprevisto, organizar a tripulação, preparar a embarcação e enfrentar a situação com a certeza de que vai dar certo. O respeito pela natureza e suas manifestações mais intensas é de extrema importância. Ser arrogante, achando que nós, seres humanos, e nossas invenções são superiores a tudo pode se revelar um erro fatal.
Onde estão planejando passar o Réveillon?
Acabamos de chegar na Austrália, onde passaremos as festas de fim de ano. No caso da virada de 2015 e 2016, estaremos em um paraíso encantador: na grande barreira australiana de corais. Independentemente do cenário, a magia dessas festas está na reunião da nossa família. Mesmo morando em um veleiro, teremos três gerações Schurmann reunida com amigos, de diferentes nacionalidades, que integram a tripulação.
Quais são as perspectivas para o Ano Novo?
2016 é um ano de realizações importantes. Chegaremos à China pela primeira vez, completaremos a rota da Expedição Oriente e retornaremos ao Brasil, onde daremos início aos planos de uma nova aventura, claro. Também teremos duas grandes estreias cinematográficas, duas produções da Família Schurmann que prometem emocionar o público: o documentário U-513 - Em Busca do Lobo Solitário e a ficção baseada em fatos reais Pequeno Segredo.
O primeiro apresenta os detalhes da pesquisa iniciada em 2002 sobre o afundamento de um submarino alemão durante a Segunda Guerra Mundial na costa brasileira. O segundo, que também inspirou o bestseller homônimo, apresenta três histórias interligadas, envolvendo a nossa família.