Senão, vejamos. Estive a falar aqui ao longo desses dias de Feira do Livro (que começou na sexta-feira passada e se estende generosamente na Praça Dante Alighieri até o dia 18) a respeito da necessidade vital, tanto para as coisas do corpo quanto para as coisas do espírito, de se cultivar a própria horta. Para quem vive na colônia ou no campo, o termo "cultivar a horta" não se apresenta como embalagem para uma metáfora. Não. Para o colono e para o agricultor, "cultivar a horta" é cultivar a horta mesmo. É plantar rabanete para depois colher rabanete. É sujar os dedos de terra para depois lambuzar os beiços com o sabor colorido das verduras e legumes. É isso e pronto.
Já para quem vive um cotidiano longe das lides da terra, "cultivar a horta" pode funcionar como uma imagem evocativa daquelas ações que devemos fazer para manter viva e bem alimentada (eis aqui a metáfora de novo) uma relação pessoal, uma situação social, uma entidade, uma atividade, enfim, tudo aquilo que requer cuidados para vingar e se manter ativo. Uma amizade precisa ser cultivada pelo contato; uma relação amorosa pelas demonstrações de carinho e de amor; uma entidade pela dedicação que voltamos a ela, essas coisas, e a fila de exemplos pode aqui ser largamente preenchida pelo amigo leitor e pela estimada leitora a seu bel prazer, pois que ando me tornando um cronista mundano cada vez mais generoso e democrático, como bem pode detectar aqueles que com tanta generosidade me leem.
Pois nessa coisa de "cultivar a horta", o escritor José Clemente Pozenato andou usando a metáfora para elogiar a iniciativa da Academia Caxiense de Letras de trazer os escritores locais para falarem sobre suas obras vencedoras do Concurso Literário Anual da Biblioteca Pública Municipal, na Semana do Escritor que realiza dentro da programação oficial da Feira do Livro. Afinal, os daqui precisam ser lembrados. Outra iniciativa nesse sentido é a banquinha da Academia Caxiense de Letras instalada este ano na Feira, administrada pelo escritor e editor Wagner Hertzog, que disponibiliza e expõe as obras de escritores locais (não somente os da Academia, mas todos os que quiserem ali disponibilizar seus títulos), valorizando os daqui, cultivando a horta. Dê uma passadinha lá e passeie os olhos pela ótima produção literária que também viceja nessa fértil terra.
Opinião
Marcos Kirst: a horta da literatura local é cultivada em eventos e em uma barraquinha especial neste ano
Dê uma passadinha lá e passeie os olhos pela ótima produção literária que também viceja nessa fértil terra
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