Pouco menos de um mês antes da escolha da rainha da Festa da Uva 2016, as candidatas surpreenderam-se no Facebook com um relato que causou identificação. Trata-se de um texto publicado na tarde desta quinta-feira pela ex-princesa Greice Demoliner Tedesco. Ela integrou o trio de soberanas na edição de 2004, e decidiu direcionar algumas dicas para as meninas que sonham com a coroa. A publicação fez sucesso: as candidatas comentaram e compartilharam, deixando claro que traduz o momento de ansiedade, dúvidas e alegrias que vivem hoje.
Ao Pioneiro, Greice disse que costuma se manifestar sobre o tema quando a escolha de uma nova soberana se aproxima. Após o tempo em que trabalhou como princesa, ela se envolveu novamente na festa, integrando a comissão comunitária na edição de 2012.
- Eu sou apaixonada pela festa. É verdadeiro o que se fala: uma vez que se trabalha pela Festa ela nunca mais sai do coração. Sei o quanto as candidatas sofrem, além de suas famílias, amigos e entidades - descreve.
Infográfico: conheça as candidatas a rainha e princesas da Festa da Uva 2016
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Leia abaixo o texto na íntegra:
Conhecida nacionalmente, a escolha mexe com a comunidade. Assim que as fotos das candidatas começam a circular na imprensa, os caxienses fazem suas apostas sobre quem merece os cobiçados títulos. Há menos de um mês do concurso, quero aproveitar a oportunidade para combater alguns mitos sobre o assunto.
Talvez o maior de todos seja que para concorrer é preciso muito investimento financeiro. Fico de cabelo em pé quando escuto histórias de meninas que gastam 50 mil no vestido. Para quê?, pergunto. Não vai ganhar a candidata que tiver o vestido mais caro, nem o mais bonito. Ganha o conjunto da obra.
O vestido tem que valorizar o que a candidata tem de melhor. Ele tem que harmonizar com a garota, a fim de transmitir a segurança necessária para que ela se sinta confiante e bonita. Precisa de renda importada, tecido nobre e mil e um bordados? Claro que não! O que preciso é bom gosto e uma releitura de um traje antigo. O mesmo vale para a torcida. Se a torcida garantisse o título, os times de futebol estariam sempre no trio.
Tem meninas que contratam profissionais para ajudá-las com conhecimentos gerais, dicas de passarela e aulas sobre história da imigração italiana, da Festa da Uva e da cidade.
Penso que tudo é válido, mas devo lembrar que três meses não tornam nenhuma mulher inteligente, simpática e envolvida na comunidade. Esse tipo de transformação é coisa de filme. A construção dos valores, da personalidade e do conhecimento é uma caminhada e um trabalho sem fim.
A verdade é que a essência não muda, nem com a melhor professora do mundo. Vê-se de longe se a candidata tem disposição para o trabalho, humildade, carisma e inteligência. Beleza então nem se fala.
Sobrenome e família badalada na sociedade também não ganha concurso. Não nego que antigamente isso ocorria, mas há anos a coisa mudou totalmente de figura. Até porque as lideranças à frente da Festa teriam que ser muito estúpidas para se queimarem dando títulos por interesse, dinheiro ou pressões externas. Sabemos que os últimos presidentes e as dezenas de casais voluntários trabalham com ética e, acima de tudo, muito amor pela causa.
Origem também não é mais decisiva, embora a familiaridade com as tradições italianas ajude, e muito. Então, não tem problema se a origem familiar da candidata não for italiana. Caxias é cosmopolita, é multiétnica. Isto se reflete nos seus habitantes. Dados apontam que apenas 30% dos caxienses têm raízes italianas.
Outro mico que assombra todos os concursos: entidade. Gente, entidade por maior poder econômico que tenha não define o resultado. Se algumas empresas ou sindicados tradicionais costumam escolher boas candidatas, bom para elas! Azar para as demais que não fazem pré-seleção. Não é o quanto a entidade vai investir na representante que vai determinar o resultado. É a capacidade individual da garota que vai influenciar na grande final. No mercado de trabalho ou em qualquer concurso de beleza, vence o melhor, o mais preparado.
Daí você vai me dizer: mentira! Tem candidata linda que fica fora de trio. Concordo. Na Festa da Uva tem mais peso cultura do que beleza. Regras são regras. Eu, que já fui jurada de outros concursos, digo que é preferível uma menina motivada, cheia de carisma, que mostra conhecimento e é razoavelmente bonita, do que uma linda metida, que carrega uma família arrogante com ela, que não se dedicou aos estudos, e conta com a aparência e a entidade.
Falo com propriedade. Até hoje não sei porque fui escolhida princesa em 2004. Talvez pelo fato de não estar esperando vencer e ter agido com muita naturalidade do começo ao fim. Ou quem sabe pela minha animação por fazer parte do evento que sempre me encantou. O fato é que muitas meninas excelentes, em todos os sentidos, ficaram de fora. Não acredito que eu tenha sido melhor do que elas. Somente posso tentar explicar dizendo que, de alguma forma, estava traçado.
Se eu tiver a sorte de ser lida por alguma candidata vou encerrar com um conselho de quem já passou pela experiência cruel da avaliação de um júri. Dedique-se de corpo e alma à Festa, antes, durante e após o pré-concurso. Fazer parte ativamente dessa festividade é um privilégio para poucos. Você já é especial por isso e pode colaborar para que a Festa seja ainda melhor.
Ninguém sai perdendo nesse concurso. As experiências, conhecimentos e amizades ficam para sempre. Saiba aproveitá-las. Curta cada momento. Dê o seu máximo e o seu melhor, e, principalmente, seja você mesma. Se os jurados gostarem, ótimo! Se não, paciência.
Esteja em paz consigo mesma.
Não se esqueça que muitas pessoas queridas estão torcendo por você e vão continuar te amando, independentemente do resultado. Nenhum pai ou mãe ama mais sua filha porque ela é soberana da Festa da Uva. Eles já amam você de todo coração. Por isso, represente à altura sua entidade e família. Você estará embaixatriz, você estará rainha ou princesa, somente por um tempo. A Festa da Uva vai passar e a vida continua. Pense nisso.