Entusiasta da construção do Monumento ao Imigrante, o deputado Luiz Compagnoni lançou a ideia da homenagem num editorial publicado no Pioneiro de 30 de dezembro de 1948: "símbolo de veneração àqueles que nos legaram um patrimônio moral e material invejável". A intenção dele era que o sentido da colonização pudesse ser exteriorizado e ficasse como exemplo de trabalho, tenacidade e civismo às próximas gerações.
É justamente esse sentimento, concretizado em monumentos, que a professora Eloísa Helena Capovilla da Luz Ramos, da Unisinos, abordará durante o 4º Simpósio Internacional e 12º Fórum de Estudos Ítalo-Brasileiro - Fontes e Acervos. Na manhã de desta quarta, ela participa da mesa-redonda sobre território e patrimônio e afirma: um monumento diz muito sobre a imigração.
- O monumento ou a placa são feitos pensando no imigrante que deu certo, teve sucesso. Mas a mensagem é para todos, mostrando o valor do trabalho, do suor, da conquista - explica.
Outra observação interessante da pesquisadora é que essas homenagens costumam ser feitas quando já não existe mais a presença dos homenageados, como uma tentativa de legitimar uma etnia, reconhecer e promover um legado. Caxias do Sul, por exemplo, tem 113 monumentos, sendo que sete homenageiam a imigração.
A ideia da criação do Monumento Nacional ao Imigrante surgiu na preparação às comemorações dos 75 anos da imigração italiana na região, embora represente todas as etnias.
- Ninguém fez monumento para os primeiros que chegaram, há todo um discurso por trás dele. E, ao olhar para ele, a população também olha para a história de um outro jeito. Isso fica claro quando se caminha pela cidade - afirma, ligando esse tipo de construção a uma relação de poder.
Tanto é verdade que o Imigrante foi inaugurado por Getúlio Vargas em 28 de fevereiro de 1954 - presidente que, durante o Estado Novo (1937-1945), defendeu uma campanha de nacionalização e proibiu que se falasse italiano mesmo em áreas de colonização estrangeira.
- No caso de Getúlio, tem um pouco disso, um pensamento de "vamos virar esse jogo, vamos prestigiar o imigrante", mesmo que antes tivessem sido presos - ressalta.
Por causa da concepção simbólica, essas estátuas transcendem o material de que são feitas - junto à imagem, estão agregados valores, saberes e fazeres de um povo, um passado mitificado. Monumentos nem sempre dizem quem os antepassados foram, mas como os descendentes gostariam que eles fossem, de fato, lembrados.
Italianos da Serra
O que os monumentos podem dizer sobre a imigração
Para a professora Eloísa Capovilla Ramos existe uma relação entre as construções e o imaginário da comunidade
Tríssia Ordovás Sartori
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