Meia dúzia de casas, algumas com telhado de palha e paredes de pau a pique. As ruas eram estradas de chão e a água, de poço. Para o banho, a cachoeira na descida do Cânyon, em Caxias do Sul, servia muito bem. Tão bem quanto serviam às brincadeiras de criança os campos que há meio século tomavam conta do que hoje é o bairro Belo Horizonte.
No lixo descarregado às margens da represa da Maestra, as crianças encontravam seus brinquedos. Lombas de capoeira e pneus velhos de caminhão eram diversão certa, que sempre acabava com alguns moleques enfiados, com pneu e tudo, dentro de algum banhado.
A vida era difícil para os primeiros moradores do Belo Horizonte, na época ainda parte do bairro Santa Fé. A maioria das casas era de madeira, com frestas nas paredes, e o transporte dependia de linhas intermunicipais.
- O ônibus vinha de Flores e passava pela estrada velha (hoje Rua Mário Lopes), a única para ir à cidade. Às 18h não tinha mais ônibus. Quem estava no Centro, vinha a pé - lembra o comerciante Adolfo José da Silva, de 54 anos.
Dez anos antes dele nascer, seus pais venderam a casa que tinham no bairro Santa Catarina e se mudaram para o Santa Fé. Anos depois Silva viu surgir, logo ao lado, o Belo Horizonte, onde ele escolheu construir sua vida. Aos poucos, presenciou o matagal dar lugar às casas, as ruas serem asfaltadas e a água encanada finalmente chegar, acompanhando o crescimento da cidade.
- Caxias evoluiu muito do dia pra noite. Tinha becos, mato, e agora é tudo asfalto. A evolução foi imensa. Quero continuar morando aqui.
De pequena vila cercada por mato, o bairro evoluiu a uma complexa malha de vias asfaltadas. Das ruas mais baixas, parece um quebra-cabeça onde cada casa é uma delicada peça colorida. Visto de cima, o mar de telhados cinza é a melhor prova do crescimento.
125 anos de emancipação
Comerciante relembra os primórdios dos bairros da Zona Norte de Caxias do Sul
Campos e matagais do Santa Fé, Belo Horizonte e arredores cederam lugar a prédios e casas
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