Difícil virar a página, trocar de canal, inaugurar novo capítulo.
A saúde.
Os governos dão à saúde o mesmo tratamento dispensado à educação, à segurança, à. Pensando bem, seria ingenuidade crer que pudesse ser diferente, que a saúde pública fosse uma ilha virtuosa nesse mar de incompetências.
O governo estadual não consegue ser convincente ao assegurar ter repassado todo o dinheiro devido aos hospitais filantrópicos. Por que os hospitais reclamariam se as contas estivessem de fato em dia?
Não se está aqui apontando responsáveis. Antes, está se constatando que anos de má gestão resultaram no atual quadro.
Em âmbito federal, o governo também não consegue ser convincente ao explicar por que faltam vacinas contra a gripe no RS. Após anos, o RS finalmente conseguiu convencer o Ministério da Saúde de que a vacinação no Sul deveria ser antecipada em relação ao restante do país devido às condições climáticas particulares da região. Neste ano a campanha no RS foi lançada uma semana antes que começasse no restante do país.
E daí?
Adiantou antecipar a campanha se a distribuição das doses foi catastrófica?
Há duas semanas falta, vacinas na rede pública e na rede privada.
A prefeitura decretou que amanhã será o Dia D da Vacinação nas 47 UBSs de Caxias.
As doses necessárias para viabilizar o Dia D e para o restante da campanha viriam todas ontem.
Oremos.
Para descontrair: calhou de eu estar "hospedado" no Hospital da Unimed nos três primeiros dias da campanha de vacinação, semana passada. Profissionais da saúde, sabemos, integram o grupo prioritário. Foi engraçadíssimo observar a reação de enfermeiros, enfermeiras e técnicos e técnicas de enfermagem diante da iminência de encarar a agulhada.
Alguns desses profissionais sofreram antecipadamente, resistiram, fugiram da picada até o último momento. Outros passaram o tempo recordando a "intensa dor da picada e a extrema dor que domina o braço" - exageros que só faziam desencorajar os mais medrosos.
Volta e meia um gemido dramático vazava da salinha da vacinação montada na UTI.
Eu ri a pregas soltas do cagaço desses profissionais experts em furar nossos corpos com destreza, com delicadeza, sem sofrimentos.
Viu, Clair? A vacina nem doeu tanto assim, né?
