O roubo de veículos (crime em que se emprega de violência ou grave ameaça com a vítima) em Caxias do Sul aumentou 45,7% em sete anos. Em 2008, foram 481 roubos e outros 1.369 furtados. Em 2014, 701 carros foram roubados e outros 1.663 furtados. O aumento do crime acompanhou o crescimento da frota. Em 2008, a frota de carros em Caxias era de 193.289. Em 2014, eram 287.979 carros circulando pelas ruas caxienses, 48,9% a mais.
Ainda que o roubo de carros não represente 30% do número total de veículos levados pelos bandidos só no ano passado, o dado expõe mais do que o aumento da agressividade dos criminosos. O roubo de carros não é um crime isolado e está envolvido com uma poderosa indústria criminosa: o tráfico de drogas.
- O criminoso que está com a arma na mão já tem um destino para esse carro e dificilmente ele é recuperado. Já está no limiar do latrocínio, que é o que nos preocupa - diz o delegado Mário Mombach, da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas.
Lideram as preferências caminhonetes como Triton e Hylux e o novo "queridinho" dos criminosos: o Focus. Todos viram mercadoria de troca. Roubados em Caxias, no mesmo dia chegam em Porto Alegre, onde recebem placas e documentos falsos. De lá, seguem geralmente para o Paraguai. Além do trajeto tradicional por Erechim e Chapecó, a polícia descobriu uma nova rota usada pelos criminosos: de Porto Alegre, o carro segue para o Litoral, Santa Catarina e, finalmente, o Paraguai.
A Triton, que vale aproximadamente R$ 120 mil, no país vizinho não ultrapassa R$ 20 mil: o valor equivale a um quilo de cocaína ou 300 quilos de maconha. O atravessador - o indivíduo contratado para o serviço - ganha em torno de R$ 3 mil para levar o carro e trazer a droga, geralmente em um carro velho. Chegando lá, o veículo roubado continua rodando pelos países vizinhos e às vezes é até legalizado. A Bolívia, por exemplo, tem uma legislação que permite a regularização de veículos sem a comprovação de origem. Em Santa Catarina e no Paraná o esquema é o mesmo: o veículo vira moeda de troca do tráfico ou, clonado, entra em circulação e é revendido com um preço abaixo do de mercado.
"Os grandes ladrões não colocam a cara na rua"
Em levantamento em novembro do ano passado, a Delegacia de Roubos, Furtos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) constatou 59 novos nomes de suspeitos de furtos e roubos de veículos em Caxias. Muitos sem antecedentes criminais, outros apenas por receptação (adquirir ou receber algo que sabe ser produto de crime).
- Os grandes ladrões não estão colocando mais a cara na rua. Quando o crime tem a ver com o tráfico, eles contratam o serviço, fazem a encomenda do que querem. Quando um suspeito é preso, ele não admite o delito e reponde apenas por receptação. Para fazer com que fiquem presos temos que conseguir provas que revelem o esquema, mas são investigações demoradas - explica o delegado Mário Mombach.
Em agosto do ano passado, um homem de 33 anos, foi preso preventivamente no bairro Vila Verde por tráfico de drogas. Ele é suspeito de confeccionar carteiras de motoristas e documentos falsos de veículos, alguns com papel original. O material foi apreendido na casa. O suspeito dizia-se empresário, dirigia um Audi, usava roupas de marca e não morava mais de seis meses em uma residência.
A polícia, negou-se a confessar onde conseguia os papeis e quanto lucrava com a venda dos documentos. Há ligações dele com uma quadrilha de 11 pessoas desarticulada após um ano de investigações.
Entre os membros, estaria uma mulher de 37 anos, Sonia Regina Gomes, presa também em agosto em Caxias. Seu nome constava na lista dos 10 brasileiros mais procurados pela Interpol por tráfico internacional de drogas. Ela comprava drogas no Paraguai e distribuía na Serra Gaúcha.
OS NÚMEROS EM CAXIAS
Ano Furto Roubo Total
2008 1.369 481 1.850
2009 1.181 479 1.660
2010 1.749 554 2.303
2011 1.571 697 2.268
2012 1.281 660 1.941
2013 1.437 707 2.144
2014 1.663 701 2.364
Fonte: Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas de Caxias
FURTOS
- O Centro é o bairro onde mais ocorrem furtos de veículos, especialmente as Ruas Júlio de Castilhos e Ernesto Alves. Em seguida, vem os bairros Rio Branco, São Pelegrino e Exposição
- Os carros preferidos são modelos antigos, que não têm chave codificada, como Fiat Uno, Corsa, Gol, Chevette e Monza.
ROUBOS
- Os bairros com maiores índices são Exposição, Madureira, Cinquentenário e Cruzeiro.
- Caminhonetes como Triton e Hilux e o carro Focus são a preferência dos bandidos