A imprudência dos pedestres é o principal ingrediente que torna o Km 149 da BR-116, em frente ao Hospital Geral (HG), o ponto mais crítico para atropelamentos na área urbana de Caxias do Sul. O trecho de 200 metros concentrou 20 dos 37 atropelamentos registrados desde 2010 entre os quilômetros 148,7 (no mercado Andreazza) e 150 (cruzamento com a Sinimbu). O perímetro é um dos quatro mais perigosos, somado aos acessos aos bairros Planalto e Serrano e ao ponto onde há passarela, no São Ciro.
Embora haja sinaleiras nas extremidades dos 200 metros (veja mapa), pedestres preferem não caminhar poucos passos e se arriscam concorrendo com carros, motos, ônibus e caminhões.
O objetivo é alcançar as paradas de ônibus, nos dois sentidos e ao centro dos 200 metros. O movimento é grande por causa do hospital e da UCS. O horário crítico é aos fins de tarde, quando também ocorre o maior número de acidentes.
- Desci do ônibus e tive que atravessar para ir ao Geral fazer fisioterapia. Imagina se eu tiver que caminhar até lá (nas sinaleiras)? Fico cuidando e atravesso quando dá - defende-se Araci Oliveira dos Santos, 58 anos, andando com auxílio de muleta.
Entre pais com crianças, idosos e gestantes, é raro quem prefira se dirigir às sinaleiras. Alguns pedestres sugerem que sejam reposicionadas em frente às paradas. Para o chefe operacional da 5ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Josué Nery, a construção de cruzamento com elevada e travessia para pedestres seria alternativa.
- É o local de maior aporte de travessia de pedestres e o fluxo é muito intenso. Uma passarela se faz obrigatória - entende.
Dificuldades para obter melhorias na BR-116 são históricas. Embora a rodovia seja de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a prefeitura tem elaborado projetos, que dependem de aval do órgão federal. Segundo o secretário municipal do Planejamento, Gilberto Boschetti, não há obras previstas para o trecho do HG. Por outro lado, o município aguarda há quatro meses a anuência do Dnit para licitar uma passarela no acesso ao Planalto. O projeto está pronto.
Quatro quilômetros, 10 mortes
Além da distância de 200 metros em frente ao Hospital Geral, outros três trechos urbanos da BR-116 estão na lista de campeões de atropelamentos, segundo a PRF. Os quatro pontos somam pouco mais de quatro quilômetros e contabilizam 89 atropelamentos e 10 mortes em pouco mais de cinco anos. O número pode parecer pequeno, mas poderia ser menor ou zero se houvesse comprometimento do poder público e prudência dos pedestres.
O exemplo do bairro São Ciro, onde uma passarela está disponível desde dezembro, mostra que grande parte dos pedestres prefere se arriscar. Uma minoria acessa a passarela e uma jovem foi atropelada em fevereiro, a poucos metros do dispositivo. Naquele mês, a Secretaria de Transportes descartou a instalação de muros para impedir a travessia pelo leito da via, sob o argumento de que a passarela é alternativa.
No acesso ao Serrano, há sinaleira para pedestres no Km 143,2, mas poucos se deslocam para atravessar em segurança. A faixa de pedestres foi coberta pela nova camada de asfalto. O DNIT é responsável pela obra e por refazer esta e outras sinalizações horizontais.
A reportagem questionou o Dnit na segunda-feira quanto a melhorias nos trechos perigosos da BR-116. Até as 16h desta quarta-feira, o Departamento não havia respondido.
Abaixo, confira o índice de atropelamentos nos quatro trechos críticos:
Trecho 1, de 1,3 quilômetro: do mercado Andreazza (Km 148,7) até o cruzamento com a Rua Sinimbu (Km 150), passando pelo HG e pelo presídio
:: 2010: 9
:: 2011: 8 (duas mortes)
:: 2012: 7
:: 2013: 7
:: 2014: 5 (uma morte)
:: 2015: 1
:: Total atropelamentos: 37
:: Total mortes: três
200 metros inseridos entre a sinaleira do presídio (Km 149,2) e o cruzamento com a Rua José Marques (saída da UCS, Km 149):
:: 2010: 3
:: 2011: 5 (uma morte)
:: 2012: 4
:: 2013: 5
:: 2014: 3 (uma morte)
:: 2015: nenhum
:: Total atropelamentos: 20
:: Total mortes: duas
Trecho 2, de 1 quilômetro: acesso ao bairro Planalto, da saída da Rua Angelina Michielon (Km 151) até depois do acesso da Marcopolo Planalto (Km 152)
:: 2010: 6
:: 2011: 5
:: 2012: 3 (uma morte)
:: 2013: 3
:: 2014: 3 (uma morte)
:: 2015: 1
:: Total atropelamentos: 21
:: Total mortes: duas
Trecho 3, de 1 quilômetro: São Ciro, da igreja do São Ciro (Km 145) até portão da empresa Guerra (Km 146)
:: 2010: 3
:: 2011: 2
:: 2012: 3 (duas mortes)
:: 2013: 2 (uma morte)
:: 2014: 5 (duas mortes)
:: 2015: 1
:: Total atropelamentos: 16
:: Total mortes: cinco
Trecho 4, de 1,1 quilômetro: Serrano, da encruzilhada de Ana Rech (Km 142) até sinaleira de pedestres em frente à floricultura Dallas (Km 143,2)
:: 2010: 2
:: 2011: 4
:: 2012: 3
:: 2013: 2
:: 2014: 4
:: 2015: nenhum
:: Total atropelamentos: 15
:: Total mortes: zero
fonte: Polícia Rodoviária Federal e Pioneiro