Os dedos calejados da auxiliar geral Alexandra Faccio, 43 anos, indicam que ela trabalha bastante. De fato, não há muito tempo sobrando na rotina dela. Embora a vendedora Alexandra esteja desempregada desde agosto, seus dias têm sido agitados.
Ela acorda cedo, recolhe as folhas de ofício que ainda restam na casa onde vive, no Desvio Rizzo, e dá uma olhadinha nas anotações de poesias e mensagens motivacionais que retirou de livros da Biblioteca Pública de Caxias do Sul. Escolhe algumas, rabisca em pedaços pequenos de papel e capricha na decoração, colorindo com giz de cera ou outros artifícios. Depois, vai até a Lagoa do Rizzo e pendura as mensagens na árvore que elegeu como sua até o fim de dezembro.
Ela batizou como Árvore da Sabedoria. Alexandra repete o ritual três vezes ao dia, "entre um currículo e outro", para deixar a mente ocupada e tentar aliviar a ansiedade que toma conta dela depois de entrevistas de emprego ou telefonemas não retornados. Os bilhetes pendurados nos galhos estão à espera de alguém que os leve. Até agora, produziu mais de 500.
- É a minha ocupação: incentivo a leitura e deixo o dia das pessoas mais feliz - acredita.
Alexandra, conhecida pelos vizinhos como Teca, se tornou "a moça das mensagens do Rizzo". Sempre foi frequentadora da biblioteca pública. Sentava lá, abria os livros e transcrevia num caderno textos de Paulo Coelho, Chico Xavier, Khalil Gibran ou mensagens de autoajuda. No começo do ano, escolhia parte desses recados e transcrevia-os em papeis avulsos. Na volta do trabalho, "esquecia" os papeizinhos em poltronas de ônibus. No fundo do coletivo, ela observava a reação das pessoas e percebia que, muitas vezes, arrancava sorrisos.
Às vésperas deste Natal decidiu ampliar a produção de mensagens. A árvore, que já proporcionava sombra para quem elege a Lagoa para fazer exercícios físicos ou beber chimarrão, está carregada de bilhetes. Além de colori-los com giz de cera, ela cola retalhos de tecido, pedacinhos de espelho, de roupas e outros artigos que dão sopa em casa. Até copos plásticos lilás, jogados na lagoa por algum mal-educado, ela recolheu e transformou em cartão de Natal.
Fã de Raul Seixas, católica frequentadora de missas na Catedral e na igreja do Desvio Rizzo, Alexandra se emociona quando vê alguém escolhendo um dos papeis. Vibra com elogios e responde a quem a chama de louca por dedicar tanto tempo do dia a essa atividade, já que não ganha nada:
- E precisamos sempre ganhar algo com as coisas? Louco é quem age de forma individualista, não se aproxima do outro. Esse, sim, está perdendo tempo.
A árvore deve ficar decorada até o fim do mês, já que ela teme que suje o entorno da Lagoa com bilhetes caídos. No dia 25, pela manhã, quer depositar a última mensagem. Até lá, passa os fins de tarde na Lagoa recebendo abraços.
- Para mim, além do emprego, que é meu maior desejo, ver a paz das pessoas é o maior presente.