Nesses tempos tão velozes e nervosos às vezes tenho a impressão de que damos importância demais a alguns assuntos e de menos a outros. O trânsito, os abusados do trânsito, as falhas na fiscalização de trânsito, a falta de investimentos em infraestrutura do trânsito e todos os muitos aspectos que vêm embrulhados no atualíssimo termo mobilidade ocupam muito mais nossos pensamentos do que a saúde pública ruim, do que a educação ruim, do que a segurança ruim, do que os transporte público ruim, dos que os serviços ruins.
Esses, sim, assuntos muito mais vitais do que a raiva viral que aboletamos na carona de nossos confortáveis carros e que destilamos em buzinadas, xingões, estresse, úlceras, dor de cabeça.
Tudo é ainda mais grave porque o trânsito é ruim menos por culpa das autoridades e mais porque muitos de nós não sabemos nos comportar civilizadamente.
Adiantaria triplicar, quadruplicar o plantel de fiscais?
Talvez.
Multar é absolutamente legítimo, justo e necessário, inclusive para dar respostas a quem se comporta direitinho.
Mas não é só.
Tenho a impressão solar de que os governantes suspiram aliviados com essa preferência que damos aos mecanismos que travam ou que destravam nosso ir e vir.
Seria infinitamente menos agradável e mais desafiador para eles, os governantes, se preferíssemos cobrar melhorias na saúde, na educação, na segurança, nos ônibus, nos serviços.
E por que damos tanta importância aos carros, às motos, às bicicletas, a tudo que se move mediante nossos comandos e forma esse cipoal chamado trânsito?
Freud certamente se divertiria debruçado sobre a questão.
Opinião
Gilberto Blume: tenho a impressão de que damos importância demais a alguns assuntos e de menos a outros
Freud certamente se divertiria debruçado sobre a questão
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