Há quase três anos, a aposentada Norah Ione Müller, 73 anos, convive com um vizinho pra lá de indesejável ao lado de casa, no bairro Cinquentenário. Para corrigir o que parecia um simples vazamento de esgoto no terreno, em março de 2011 uma equipe da Secretaria de Obras e Serviços Públicos abriu um buraco do tamanho de uma pequena piscina. O resultado, a foto acima mostra. A cratera inutilizou o passeio público e também o jardim e a garagem da casa. Desde então, o carro da aposentada, um Escort branco, passou a ficar estacionado na rua, em frente à casa, e já foi depredado diversas vezes.
Norah diz ter perdido a conta de quantas vezes pediu soluções à prefeitura e de quantas promessas ouviu, geralmente ouvindo que a solução chegaria em até três meses. Procurou a Câmara de Vereadores, mas ninguém foi capaz de interceder. O drama também já foi contado pelo Pioneiro em outras ocasiões, mas não surtiu efeito.
- Hoje eu só acreditaria em promessa feita em anos, nunca em meses - comenta Norah, sem perder o bom humor.
Há cerca de 30 dias, a prefeitura deu início ao que seria a recuperação do terreno, mas só conseguiu aumentar o transtorno. Para colocação de uma rede de tubos de PVC, foi aberta uma área ainda maior, que só prejudicou ainda mais o terreno, além de retirar o mato que a aposentada cultivou para impedir que crianças de uma escola infantil vizinha passassem por perto, correndo risco de cair. Uma fita de isolamento colocada pela prefeitura não resistiu à primeira chuva mais forte. Mas depois de uma tarde de trabalho, a equipe da prefeitura não voltou mais. E desde a intervenção, o esgoto passar a correr a céu aberto no terreno de Norah, provocando um cheiro às vezes insuportável.
- Não posso mais usar a garagem, perdi o jardim e convivo com inundações sempre que chove. Também me preocupo com as crianças, que são curiosas e querem olhar dentro do buraco. Os funcionários da secretaria de Obras já me pediram até desculpas, mas eu preciso que resolvam o problema - apela Norah.
Prioridade é para danos da enchente
Parece surreal um problema permanecer por tanto tempo, mesmo com conhecimento das autoridades. Mas por que tanta demora para resolvê-lo? O secretário municipal de Obras, Adiló Didomenico, argumenta que ao tentar mexer na obra, deparou com um embargo pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes da secretaria (Cipa). A avaliação seria de que o trabalho ofereceria riscos à integridade física dos funcionários. Foi exigida a demolição da garagem, que teria sido construída de forma irregular e teria risco de queda.
- O embargo foi prudente, pois construíram a garagem sobre uma galeria de pedras, talvez achando que fosse uma rocha. Havia, inclusive, um laudo para demolição da estrutura - observa Adiló.
A ordem de destruição foi prontamente contestada pela advogada de Norah. Segundo Adiló, foram necessárias diversas reuniões até ser encontrada uma alternativa para resolver o problema do encanamento sem a demolição da garagem. Quando finalmente se chegou à uma solução, a enchente de 10 de novembro provocou estragos pela cidade, tirando o caso de Norah da pauta de prioridades.
- Trata-se de um caso importante, que deu muito trabalho até encontrarmos uma solução, mas agora temos que priorizar os casos em que há riscos para a integridade física da população, como situações de possíveis desmoronamentos. Os danos da enchente ainda não foram contornados _ afirma Adiló.
Ainda segundo o secretário, por se tratar de um processo que espera solução há bastante tempo e cujas obras já foram iniciadas, as obras no terreno de Norah terão prioridade tão logo os estragos da enchente estejam zerados.
Obra parada
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