Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Caxias do Sul revelam que aumentou 67% o número de casos de suicídio na cidade em comparação com 2011. No ano passado, 52 pessoas tiraram a própria vida, contra 31 do período anterior. A maior parte dos casos envolve homens, com idade entre 20 e 59 anos. Quando contabilizadas as tentativas, o número é igualmente preocupante: no ano passado, 237 pessoas foram atendidas em unidades de saúde por atentar contra a própria vida. A maioria eram mulheres, também na faixa dos 20 aos 59 anos.
Com relação a 2013, os levantamentos indicam que até abril, pelo menos 10 pessoas cometeram suicídio - a maioria também é de homens.
Conforme especialistas, os suicídios não têm uma causa única. Fatores como herança genética, idade, situação conjugal, doenças mentais e físicas crônicas, incuráveis e causadoras de grande sofrimento, perdas afetivas ou materiais, isolamento social, condições de vida muito adversas e perdas materiais estão entre os principais desencadeadores.
Com relação aos números de Caxias do Sul, o psiquiatra Ricardo Nogueira, coordenador do Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio do Centro de Saúde Mãe de Deus, em Porto Alegre, acredita que sofram influência do fator econômico e social:
- Cidades bem desenvolvidas economicamente como Caxias, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa e Farroupilha, por exemplo, atraem um grande contingente de imigrantes que buscam emprego e melhores condições de vida. No entanto, às vezes acontecem de elas ficarem desempregadas, e o mundo desaba. É o que chamamos de transtorno de ajustamento, muito comum entre imigrantes. São pessoas que estão longe de casa, de sua história, de suas raízes e entram em desepero por não estarem estruturadas psicologicamente. A ideia do suicídio nesse caso surge como um mecanismo de defesa - opina Nogueira.
A psicanalista Rosita Esteves, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), explica que o suicídios resultam de um desequilíbrio brusco e muito intenso entre as energias de vida e de morte no aparelho psíquico da pessoa:
- Esse aparelho, ao contrário do aparelho digestivo, por exemplo, não está pronto quando a pessoa nasce. Ele vai sendo construído e formado a partir de vivências, recebe influências do convívio e vai resultar em uma personalidade. Para estarmos em equilíbrio, a energia de vida, o instinto de vida biológico precisa estar no mesmo nível de igualdade com a energia que desliga, o instinto de cessar todos os estímulos, que todos nos carremos e que é responsável por fazer a pessoa desligar, que dá moderação. A partir de um fator desencadeante, ela essa energia de morte passa a ser mais forte e o suicida vive uma ambivalência: quer viver, mas a vida está insuportável, ele quer alcançar a morte mas também quer continuar vivendo aquela dor insuportável, ela quer matar a situação que a aflige, não a si mesma - afirma Rosita.
O recomendável, afirmam especialistas, é fazer com que a pessoa que enfrenta essa condição possa ser ouvida efetivamente. Um importante trabalho realizado na prevenção do suicídio é feito pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), que tem unidade em Caxias do Sul desde o ano passado. Recebendo uma média de 60 ligações mês, os voluntários atendem das 8h às 22h pessoas que estão sofrendo e ligam para desabafar.
Apesar da importância do trabalho de prevenção, Caxias do Sul não conta ainda com um programa específico para tratar pacientes à beira do suicídio. Conforme Joseane Boff Zanella, do setor de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (Dant's) da Secretaria de Saúde, mesmo os números sobre o assunto são recentes.
- Até dois anos atrás, as tentativas de suicídio nem eram notificadas. Hoje, com esses dados, podemos fazer uma avaliação da pessoa que tentou suicídio, ver suas condições de saúde, o ambiente familiar em que ela vive. Se passou pela UBS, por exemplo, poderemos ver ainda se já havia passado por atendimento. Esses números também servirão para a Secretaria da Saúde planejar políticas sobre o assunto - afirma.
Confira na edição desta terça-feira do Pioneiro detalhes sobre os números de Caxias e mais informações sobre onde procurar ajuda.