Enquanto esperava a reportagem do Pioneiro chegar à Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, em Galópolis, na última sexta-feira de tarde, dona Rosalinda Rigon Fontana, 84 anos, repetia um costume que aprendeu ainda na infância: rezar o terço (ou rosário).
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- Aproveito os momentos em que posso me concentrar. No ônibus, quando vou para Caxias, rezo usando os dedos mesmo e, quando chego lá pela Avenida São Leopoldo, já estou terminando - revela a senhora, que aposentou-se em 1975 após 30 anos de trabalho no lanifício São Pedro.
Como muitos moradores de Galópolis, Rosalinda tornou-se devota da santa por influência da família. Os imigrantes italianos que se fixaram na comunidade por volta de 1880 já tinham carinho especial por Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, guardando consigo pequenas imagens ou quadros.
- Ela sempre foi e sempre será a nossa maior padroeira. Depois, é que veio São Pedro, por causa da fábrica - conta.
Na sacristia junto de uma imagem da santa, que teria sido trazida da Itália por Marieta Chaves, a aposentada recorda passagens de sua vida, sempre dedicada à religião e à fé.
- Quando teve um incêndio no lanifício, os vitrais da futura igreja, que estavam guardados lá, escaparam ilesos. Lembro do João Laner Spinato, que foi gerente do lanifício, subir em uma escada para tentar apagar o fogo. Enquanto jogava os baldes de água com uma mão, segurava o rosário com a outra. Graças a Deus e a Nossa Senhora, os vitrais ficaram intactos, e os prejuízos não foram maiores - recorda ela.
Além de ajudar a organizar as celebrações na igreja onde casou e batizou os filhos, Rosalinda também atuou como ministra da Eucaristia.
- Hoje, em função da minha saúde, não venho à igreja todos os dias como na época do padre Cláudio (Pezzoli, atual capelão do Hospital Pompéia). Agora, venho nas terças, para a missa da saúde, ajudo nos enterros e compareço na primeira sexta-feira do mês, quando tem adoração a Nossa Senhora - conta.
O que deixa Rosalinda com uma pontinha de tristeza é não ter conseguido acostumar os três filhos, 11 netos e cinco bisnetos a rezar diariamente o terço como na época de seus pais:
- Sei que as coisas hoje são diferentes, né? As pessoas andam tão corridas, as crianças sabem de tudo, andam com o computador embaixo do braço. Mas para mim, aquela foi uma época muito boa, muito feliz - afirma.
COMO SURGIU A DEVOÇÃO
:: A devoção a Nossa Senhora do Rosário de Pompéia surgiu a partir do trabalho realizado por Bartolo Longo, advogado que vivia em Nápoles e que, durante a universidade, chegou a confessar-se anticristão. Sua conversão, ocorrida em 1865, na igreja do Rosário de Nápoles, o levou a dedicar-se a obras de caridade e ao estudo da religião.
:: Em 1872, radica-se em Pompéia por motivos profissionais. No lugar, ele iria administrar as propriedades da condessa Marianna De Fusco. Conta a história que ao caminhar pelos arredores da cidade, arrasada pela erupção do vulcão Vesúvio no ano de 79, impressionado com a miséria humana e religiosa dos pobres camponeses, teria ouvido uma voz interior lhe falar: "Se queres salvar-te, propague a devoção do Rosário. É uma promessa da Virgem Maria".
:: Bartolo tornou-se catequista e apóstolo, incentivando a comunidade a entrar na Confraria do Rosário. Nada havia em Pompéia a não ser uma pequena igreja, já muito arruinada e tão pobre que não tinha um santo sequer. Conta a história também ele começou a procurar uma imagem de Nossa Senhora do Rosário para a igreja paroquial. Certo dia uma religiosa apresentou-lhe uma pintura, mas em péssimo estado. À falta de melhor opção, a estampa, enrolada num tecido, teria sido colocada sobre uma carroça carregada de lixo que se dirigia a Pompeia.
:: Após colocá-la para a veneração dos devotos, começaram a acontecer milagres para muitos daqueles que iam ali fazer suas orações. Em consequência do aumento do número de peregrinos, a Igreja tornou-se pequena e Bartolo logo liderou a construção de uma nova e maior Igreja. A pedra fundamental foi colocada em maio de 1876. Em 1894, ainda faltando alguns arremates de construção, o templo foi consagrado.
:: Além da preocupação com a vida religiosa do povo de Pompéia e a construção do santuário, Bartolo criou orfanatos e projetos sociais para atender crianças pobres, ocupou-se de dar assistência e remédios aos enfermos, dar sepultamento cristão aos mortos, além de organizar uma escola de ofícios para inserir os jovens na sociedade. É fundador da congregação das Filhas do Santo Rosário da Ordem Terceira Dominicana. Morreu dia 5 de outubro de 1926. Em 26 de outubro de 1980, João Paulo II proclamou-o como beato.
Religião
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