Pratinhos de plástico, orelhas de papelão, desenhos com caneta colorida, pirulitos. É assim, com coisas simples e muita criatividade, que o projeto Espanta Dodói consegue revelar o lado alegre do Hospital Pompéia. O material virou um brinde e foi entregue na semana que antecedeu o feriado da Páscoa.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
- A diferença é que a gente não vai até o paciente para falar sobre doença. Nós vamos até ele levar um momento de harmonia, um minutinho de prazer, de descontração. E não é difícil arrancar um sorriso de um paciente, por pior ele esteja. A coisa mais preciosa que já levei daqui foi ver uma pessoa que estava com dor sorrir e perguntar quando é que a gente iria voltar. Os pacientes lembram da gente como o lado bom do hospital - conta a coordenadora do Espanta, a terapeuta ocupacional Andréia Velasques Pacheco.
No dia 27 de março, Itacir Biotto, 57, paciente do setor 800, recebeu o kit Páscoa com direito a coelhinho, fotos e muita festa.
- Esse trabalho que eles fazem é sinal de vida, de alegria, de renovação para a gente - garante.
Criado em junho de 1994, por meio de uma parceria com a Universidade de Caxias do Sul (UCS), o serviço de recreação terapêutica Espanta Dodói era uma disciplina eletiva oferecida a acadêmicos dos cursos de Educação Física, Psicologia, Serviço Social, Enfermagem, Pedagogia, Educação Artística e Medicina.
O projeto prosseguiu com estagiários da UCS até o ano de 2007, quando a cadeira foi extinta. A salinha do Espanta Dodói, no entanto, nunca chegou a fechar de vez. Mesmo com o corte do convênio, alguns estagiários seguiam tocando as atividades. Em 2009, com a ajuda da ONG Parceiros Voluntários, o Espanta Dodói foi reativado, desta vez com a colaboração de voluntários. Hoje, oito pessoas doam algumas horas para praticar tarefas simples, mas fundamentais para minimizar o sofrimento do paciente e facilitar sua reabilitação física, mental e social: sessões de leitura e cinema, jogos, brincadeiras, teatro...
Conforme Andréia, no princípio, o Espanta Dodói era voltado apenas à recreação de crianças. No entanto, com os resultados positivos que foram aparecendo e também em função de a grande clientela do hospital ser de adultos, o serviço foi ampliado passando a atender todas as faixas etárias.
- Os adultos têm muito interesse e se beneficiam muito com isso. O trabalho sistemático de visita às unidades começou em 2009, quando passamos a comemorar o aniversário dos pacientes. A gente leva um bolo de mentirinha, balões e eles nos recebem muito bem. É muito difícil um adulto não aceitar a nossa visita, até porque levamos uma mensagem positiva, só coisa boa. Os familiares também gostam muito. É uma coisa tão pequenininha que se faz, mas poucos sabem como faz bem para as pessoas - revela a coordenadora.
O trabalho preferido dos pacientes é a música, afirma a recreacionista Maria Dutra. Quem sabe tocar algum instrumento é convocado a visitar o Pompéia na Semana Farroupilha, no Natal... No Carnaval do ano retrasado, por exemplo, até uma escola de samba levou pandeiros, repiques, tamborins e cuícas para fazer a folia.
- Quando o pessoal está passando, eles abrem as portas dos quartos e pedem: "aqui, ó, vem aqui também". A receptividade é muito boa, tanto que o paciente já pergunta: "tu vai voltar amanhã?" É sinal que alguma coisa de bom a gente fez - acredita Andréia.
A exemplo da Páscoa, todas as datas festivas do ano são lembradas pelos voluntários do Espanta. E quando ocorre de algum mês não ter algo, inventa-se algo.
- Teve uma vez que a gente festejou o dia da Floresta. Distribuímos uma semente de ervilha para os pacientes. Um dia, quando encontrei uma pessoa que esteve internada e retornou para o serviço de ambulatório, ela me disse: "a tua árvore está desse tamanho, ó". Esse trabalho é muito legal, eles guardam, levam para casa, ficam com as lembranças que a gente deu. Além disso, também envolvemos os pacientes, oferecendo a oportunidade de eles confeccionarem o artesanato como uma forma de recreação, de ocupação - explica a coordenadora, acrescentando que conta também tem a colaboração dos próprios funcionários do hospital para realizar as atividades.
Além das comemorações, os voluntários do Espanta também promovem atividades de valorização da autoestima dos pacientes. A iniciativa começou com pacientes do Instituto do Câncer (Incan) que, em função da quimioterapia, necessitavam de cortes de cabelo. Hoje, além desse serviço, as voluntárias também cuidam das unhas de homens e mulheres.
- Foi uma atividade que sempre quisemos fazer. Um dia, quando fomos visitar a minha prima, que teve câncer e esteve internada no Pompéia, entramos no quarto e vimos a psicóloga e a assistente social conversando com ela. As duas ficaram sabendo pela nossa prima da nossa intenção e nos convidaram para trabalhar como voluntárias no hospital - conta manicure Seluta Maria da Cunha, 53, que, ao lado da irmã, Jane da Cunha Amarante, 44, visitam o Pompéia todas as segundas-feiras, há quatro anos.
Para ela, satisfação é a palavra chave se seu trabalho. Nas conversas e brincadeiras com os pacientes, recebem mais do que dão:
- Faz muito bem ajudar. E ouvir do paciente que ele está nos esperando na semana que vem de novo. Muitas pessoas ás vezes não querem que a gente faça o serviço, achando que terá de pagar. Mas aí a gente diz que o pagamento pelo nosso trabalho é o sorriso deles - completa Seluta.
Projeto
Espanta Dodói revela o lado alegre do Hospital Pompéia, em Caxias do Sul
Iniciativa foi criada em 1994
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