Para a família Perini, o tema doação de órgãos nunca foi um tabu. Muito pelo contrário. Há 15 anos, Gilberto Zanotti, genro de dona Antônia Terezinha Rôssa Perini, 84 anos, recebeu um rim e conseguiu superar os problemas renais que o impediam de ter uma vida normal.
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para os 100 anos do Hospital Pompéia
Quando o patriarca da família morreu, em 9 de março de 2006, todos tinham uma certeza: iriam doar os órgãos de Claudino Raymundo Perini e ajudar pessoas que estão na fila por transplantes. O belo gesto da viúva e dos seis filhos de Perini - Renan, Marli, Gilmar, Marlene, Ivan e Maria Helena - também marcou o início do trabalho do Banco de Olhos do Hospital Pompéia, criado em março de 2006 por meio de um convênio com o Lions Clube São Pelegrino.
As córneas de Perini foram as primeiras captadas pela instituição, que já fez 1,4 mil captações.
- Sempre tivemos a consciência de que a doação de órgãos é um gesto que não custa nada e que pode salvar uma vida - reforça a filha Marli Mazzochi, 54.
A única informação que dona Antônia tem sobre o transplante é que duas mulheres foram beneficiadas com a doação.
- Em uma das vezes em que esteve internado, o meu marido ainda brincou com a doutora Luciana (Leonardelli), dizendo que não ia ter nada que prestasse para doar. Mas aí ela disse que os olhos dele estavam muito bons e que, se quisesse, poderia ajudar. Não tenho dúvidas de que ele ficou muito feliz em termos doado as córneas - afirma Antônia.
Seu Cláudio, como era chamado, morreu aos 75 anos, vítima de uma acidente vascular cerebral. Cardiopata, se recusava a fazer uma cirurgia de ponte safena. Depois de se aposentar, ainda teve um armazém e, por último, vinha trabalhando com frentista em um posto de gasolina perto do Monumento ao Imigrante.
- Ele gostava de trabalhar, precisava se sentir útil, ativo. O pai era uma pessoa muito alegre, cheia de vida. Ele viveu com quis e, mesmo nas horas em que esteve no hospital, não perdia o bom humor. Sentado na maca, ficava contando piada aos enfermeiros e brincando com eles. Em uma festa de aniversário, dançou com a minha irmã e pediu para tirar uma foto e levar para o doutor Jaime (Dannenhauer, médico cardiologista dele), para mostrar que estava bem, apesar da recomendação médica de não fazer esforço - lembra Marli.
Hoje, aos 84 anos, dona Antônia segue vivendo na mesma propriedade onde começou a vida de casada ao lado de Perini, cercada de verde e tranquilidade, em companhia da filha e de uma neta. E, apesar de cheia de vida e bem-humorada, dona Antônia já avisou que também quer doar seus órgãos quando morrer, seguindo o exemplo do companheiro de uma vida inteira.
- É um gesto que não custa nada e que faz um bem enorme - acredita.
Para os filhos, especialmente para Marli, além do conforto pelo belo exemplo de solidariedade, o pai segue vivo, enxergando o mundo pelos olhos das mulheres que ajudou a tirar da escuridão.
Banco de olhos
100 anos do Hospital Pompéia: conheça a história de Claudino Raymundo Perini, o primeiro doador de córneas da instituição
Gesto da viúva e dos seis filhos de Perini também marcou o início do trabalho do Banco de Olhos do Hospital Pompéia, criado em março de 2006
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