Tratamentos à força para viciados em crack não estão obtendo resultados satisfatórios em Caxias do Sul. Estimativa da Secretaria da Saúde é de que 80% dos dependentes da droga têm recaída poucos dias após receber alta dos hospitais que atendem pelo SUS.
O município mantêm três tipos de internação: voluntária, involuntária e compulsória. A voluntária serve para pessoas que procuram atendimento por conta própria. A involuntária é solicitada pelo médico ou a pedido de familiares - o Ministério Público deve ser comunicado da decisão em até 72 horas.
A compulsória é solicitada pela Justiça, a pedido de familiares, mas também dependerá de avaliação médica. Em média, 20 casos são encaminhados pelo judiciário mensalmente para a Secretaria da Saúde. Desse total, 60% resultam em internação hospitalar. O restante é considerado atendimento ambulatorial.
Por conta da reincidência, profissionais acostumados a lidar com a epidemia em Caxias do Sul consideram a medida adotada pelo governo de São Paulo um retrocesso. Diferentemente do governo paulista, que está recolhendo viciados na rua, a internação compulsória só é aplicada em Caxias quando o paciente está em iminência de morrer pelo uso excessivo da droga.
Outra possibilidade: se pessoas próximas são ameaçadas pelo comportamento do drogado. Quem é contra o tratamento forçado como única saída no enfrentamento ao crack justifica que a chance de recaída é menor se o viciado colabora e reconhece que precisa de ajuda.
- A internação compulsória ou involuntária é apenas uma possibilidade de tratamento. Se fosse resolver, poderíamos internar todos os usuários de crack. Às parecer que quer fazer uma limpeza nas ruas, uma higiene - questiona Vanice Fontanella, diretora técnica da Política de Saúde Mental de Caxias.
A medida em São Paulo vem sendo frequentemente associada ao projeto de lei do deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS). Em dezembro, o texto do parlamentar gaúcho foi aprovado pela Comissão Especial do Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas no Congresso.
Uma das propostas é o tratamento involuntário.Tal iniciativa é defendida por muitos pais que convivem com filhos dependentes do crack e não sabem a quem recorrer. Se aprovada, a lei permitirá que médicos e familiares encaminhem o drogado sem precisar de ordem judicial.
- Como secretário da Saúde fiquei três anos ou mais tentando tratar os dependentes. Só que eles não aceitam. A ideia é tirar do juiz essa tarefa e deixar na mão da família e do médico. É uma forma de antecipar o tratamento. Quando mais cedo se começa, melhor é o resultado - afirma Terra.
Drogas
Internação compulsória não impede que viciados voltem a consumir crack em Caxias do Sul
Maioria dos dependentes recai no vício
Adriano Duarte
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