Ao afirmar que a invasão de terra não soma mais aliados, um principais líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o economista João Pedro Stedile, surpreendeu companheiros e rivais históricos. Na entrevista concedida à Zero Hora e publicada ontem, Stedile sustenta que o MST está em um momento de reflexão e pensando em um novo modelo para seguir. O rumo deverá intensificar ações nas áreas urbanas.
O coronel Paulo Roberto Mendes, ex-comandante da Brigada Militar e atual juiz do Tribunal Militar, chegou elogiar a posição do líder sem-terra. O oficial enfrentou invasões durante o seu período à frente da corporação, entre 2007 e 2008,
- A manifestação de seu líder afirmando que o movimento passa por um momento de reflexão representa, em última e derradeira instância, o respeito ao ordenamento jurídico, o fortalecimento do estado democrático de direito e a desejada construção da paz social. Todos concordamos: a ocupação de terra não soma aliados - disse.
Desafeto histórico do movimento, o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, vê com desconfiança o discurso e condena a mudança na linha de ação do MST.
- Não estamos estimulando que deixe de invadir a minha fazenda e invada Incra ou qualquer outro. Acreditamos que os prédios públicos também fazem parte do nosso capital de cidadão. É dinheiro público - aponta.
Sperotto diz que essa nova linha não significa alívio para os produtores:
- Às vezes, o discurso é um, e as ações são outras. Pode ser uma operação quero-quero, canta para um lado e o ninho está no outro. É fácil tirar a consciência de continuar fazendo o que o Rio Grande está fazendo. O Estado é modelo no país, não temos uma propriedade invadida e um mandado de reintegração pendente - afirma.
A posição do líder sem-terra também gerou reações entre os companheiros. O deputado estadual Dionilso Marcon (PT) disse que a frase de Stedile foi mal compreendida.
- Ele falou dentro de um contexto, que não adianta simplesmente ocupar terra porque o agronegócio está sendo dono de tudo e não produz nada. Faz parte de uma luta para combater o agronegócio, que só vem destruindo e só pega dinheiro público - pontua.
Para o parlamentar, a aliança com os trabalhadores da cidade não é novidade, já que o MST executa manifestações e invasões de prédios públicos há mais de 20 anos.
As frases do líder do MST
"Estamos em um momento de reflexão, pensando em um novo modelo para seguir".
"Hoje, a ocupação de terra não soma aliados. Portanto, não interessa mais. Estamos buscando novas alternativas para fazer aliados. E a que está se mostrando mais compatível é a aliança com trabalhadores da cidade".
"Tudo está sendo repensado com a finalidade de dar prioridade às alianças políticas, para somar forças na luta contra o inimigo atual: o modelo de desenvolvimento".
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Stedile surpreende aliados e adversários
Líder dos sem-terra afirmou a Zero Hora que "ocupação não soma aliados"
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