A medalha de bronze inédita, conquistada na terça-feira (30), na disputa por equipes nas Olimpíadas de Paris, não serve apenas para reafirmar o momento histórico da seleção brasileira feminina de ginástica artística. O feito aumenta também a admiração de pequenas atletas, que sonham em estar no degrau mais alto do pódio no futuro.
Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira são hoje os espelhos para a nova geração. E inspiram quem está começando, caso de Rafaela Martini, 11 anos, ginasta do Recreio da Juventude.
— Fico muito feliz de ver elas ganhando, conquistando mais medalhas para o Brasil. Eu já conheci a Jade, e ela é muito querida. A Rebeca me inspira bastante. Gosto muito de ver, porque é um esporte que elas fazem e eu também treino para algum dia tentar fazer igual — orgulha-se.
Se a conquista inédita na modalidade foi motivo de orgulho, também serviu para que as atletas entendessem o esforço e dificuldades encontradas pela equipe olímpica. Aos 12 anos, a ginasta Milena Segat admira, mais do que nunca, a rotina de treinos da seleção.
— Eu acompanhei todas as competições, de todos os aparelhos. Acho que é um treinamento muito intenso. Se aqui já é intenso, imagina pra elas que treinam todos os dias. Treinamos muito pra chegar onde elas estão. Me inspira muito — conta Milena.
Outra grande inspiração das jovens atletas é a americana Simone Biles, que conquistou a medalha de ouro na competição por equipes e no individual geral, com Rebeca ficando com a prata. Ana Clara Daneluz, de nove anos, diz que antes mesmo de começar a treinar no clube já admirava as maiores ginastas da atualidade.
— Não importa se a Rebeca Andrade ganhou o segundo lugar, porque ela tentou e fez a parte dela. Sei que ela é muito boa desde muito pequena. O meu sonho é ganhar as Olimpíadas. Eu sempre vejo elas, a Rebeca, a Flávia, a Lorrane, a Júlia e a Jade, e fico me imaginando nas Olimpíadas. Eu sempre falei pra minha mãe que é o meu sonho da vida inteira ganhar as Olimpíadas. E também quero ter vários saltos com meu nome, igual a Rebeca e a Simone — sonha Ana Clara.
Em Caxias do Sul, são apenas duas instituições que oferecem treinos da modalidade. Além do Recreio, a Academia Conexão Esportiva.
TÉCNICO PIONEIRO
O técnico da equipe do Recreio da Juventude, Rogério Innocenti, também tem trajetória na seleção de ginástica artística. Por uma lesão, em 2007, precisou trocar a carreira de atleta pela de treinador, mas garante que assistir às conquistas inéditas na Olímpiada de Paris trouxe um sentimento de pertencimento:
— Eu me sinto, de certa forma, um pouco pioneiro em tudo isso. Vim de São Paulo como atleta e fui contratado aqui no Rio Grande do Sul para treinar junto com a Daiane dos Santos, numa época que ela estava bombando. A seleção resolveu fazer um centro de treinamento em Curitiba, onde a Daiane foi treinar e eu também. Tinha a Daniele Hypólito, o Diego Hypólito e a Laís Souza. A gente fez parte desse primeiro grupo pioneiro nesse trabalho da seleção, em 2001 — relembra.
Me sinto, de certa forma, um pouco pioneiro em tudo isso
Innocenti acompanhou, inclusive, a chegada dos técnicos ucranianos Iryna Ilyashenko e Oleg Ostapenko, que elevaram a ginástica brasileira ao nível de potência na modalidade, atingido em 2024.
— A gente estava, realmente, fazendo o primeiro projeto para as Olimpíadas de 2004. Nesses anos, antes disso, a Daiane já estava sendo campeã mundial. Fiz parte desse processo — destaca.
As conquistas em Paris, que hoje inspiram as pequenas ginastas, também inspiram e incentivam o técnico na rotina de treinos no Recreio da Juventude.
— A gente dá um treino hoje com mais gosto, na esperança de que, agora, se a minha atleta passar um dia pra seleção, vai estar bem encaminhada, com um projeto bem feito. Acho que o Brasil está no caminho certo, eu só vejo melhoras agora — orgulha-se.