Aos 39 anos, Thiago Carpini certamente ainda tem muito o que aprender na carreira de técnico de futebol. Afinal, o Juventude é apenas o sétimo clube no currículo do paulista de Valinhos. Mas, na contramão de sua curta passagem como treinador, o comandante alviverde tem mostrado que a palavra "continuidade", tão utilizada por técnicos em todo o país, pode não ser tão determinante para a conquista dos resultados.
Em nenhuma das 17 partidas em que treinou o Juventude na Série B, Carpini repetiu uma escalação de um jogo para outro. E apenas uma vez o técnico mandou a campo o mesmo time em duas partidas sob seu comando, contra CRB, fora de casa, e Tombense, no Jaconi.
O desempenho nesse período foi de 70%, com 11 vitórias, três empates e apenas três derrotas. Fora de casa, o clube detém a melhor campanha dentre os 20 clubes da competição. Depois de assumir o Ju na vice-lanterna, com somente três pontos, o time atualmente bateu na porta do G-4, com 39, dois a menos do que o Criciúma, o quarto colocado na tabela.
Arrancada promissora
E tudo começou num domingo pela manhã. Às 11 horas do dia 21 de maio. O treinador que deixava o Água Santa após levar o time de Diadema ao vice-campeonato paulista fazia sua estreia pelo Verdão vencendo a Chapecoense por 2 a 0, na Arena Condá. A primeira escalação do Juventude com Carpini teve: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Jean Irmer, Emerson Santos, Mandaca e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
Na partida seguinte, a primeira diante de seu torcedor, o técnico não pôde contar com Emerson Santos, que deixou Santa Catarina com uma entorse no joelho. Jadson foi o escolhido para a vaga. Mas não foi apenas por ele que o treinador do Ju não repetiu a escalação diante do Atlético-GO. Nesse jogo, Carpini passou a revezar a dupla de zaga de acordo com o adversário. Com Zé Marcos ao lado de Danilo Boza, ele teria uma saída de bola, com uma melhor troca de passes por trás. E com Romércio, o técnico daria maior imposição física da defesa, com um jogador que vai bem na bola aérea.
A estratégia se repetiu no confronto seguinte contra o CRB, em Alagoas, com Zé Marcos reassumindo seu posto na zaga. E depois, diante do Avaí, com a volta de Romércio na defesa. O lateral Kelvyn também foi uma novidade no meio-campo, que não contava com o volante Mandaca, suspenso. Contra os catarinenses, brilhou a estrela de Nenê, autor de dois gols da vitória por 3 a 2, no Alfredo Jaconi.
O quinto jogo de Thiago Carpini no Juventude era o mais desafiador. Fora de casa, diante de um rival direto na briga pelo acesso e de um Heriberto Hülse lotado por mais de 18 mil torcedores, o Ju venceu o Criciúma por 1 a 0 e chegou à quinta vitória consecutiva na Série B. E o time novamente tinha uma mudança: a volta de Mandaca ao meio-campo.
O primeiro revés foi inesperado. Diante do vice-lanterna Tombense, o Juventude levou a virada, em Caxias do Sul, por 2 a 1. O treinador perdia sua invencibilidade no comando alviverde. E novamente não repetia a escalação, que teve Zé Marcos de volta à zaga. Porém, aí veio a repetição: foi a mesma equipe que havia vencido o CRB, longe do Jaconi.
O primeiro revés e o maior achado de Carpini
No jogo mais complicado do clube na Segunda Divisão, o Juventude foi até o Recife desafiar um dos candidatos ao título, o Sport. E se deu mal. Derrota de 3 a 0. E uma escalação que teve mexidas na defesa, com Romércio formando a dupla com Danilo Boza, e no meio, com a entrada de Gehring na vaga de Mandaca, que saiu de campo lesionado diante do Tombense.
A resposta do técnico às duas derrotas consecutivas veio na partida diante do Londrina, pela 14ª rodada, no Estádio do Café. Um dos maiores achados do treinador desde a sua chegada foi neste jogo no Paraná. Foi quando da cartola de Thiago Carpini saiu, como que por mágica, um novo Vini Paulista. Escanteado pelos técnicos que passaram pelo Alfredo Jaconi em 2023, o atleta deixou de ser atacante e, por pedido do técnico, passou a atuar em uma função mais recuada no meio de campo, como segundo volante pelo lado esquerdo. E foi dos pés de Vini que saiu a roubada de bola e o gol da vitória do Ju por 2 a 1, de virada. Além do volante, as novidades na escalação do Ju foram Zé Marcos na zaga, Kelvyn na meia (Jadson havia sido expulso em Recife) e Daniel Cruz no ataque, na vaga de David.
Na rodada seguinte, frente ao Vitória, o desafio de Carpini era substituir o artilheiro da equipe Rodrigo Rodrigues, que estava suspenso. A dupla escolhida para o comando de ataque do Verdão era de muita intensidade, com David e Daniel Cruz. Mas na partida válida pela 15ª rodada, o treinador do Ju voltou a inovar na escalação: colocou Dani Bolt na lateral-direita, passando Reginaldo para uma função mais adiantada no meio-campo. Quem saiu foi o camisa 5 Jean Irmer. Jadson abria o setor.
A ideia foi mantida na rodada seguinte, quando o clube conquistou o primeiro empate na competição contra o Ituano, em São Paulo. Mas a formação não se repetiu. Rodrigo Rodrigues voltou ao ataque. E Kelvyn foi o escolhido para a lateral esquerda por ter mais intensidade do que Alan Ruschel.
No segundo tropeço em casa na competição, diante do ABC, um dos candidatos ao rebaixamento, Carpini novamente mexeu na zaga, com a volta de Romércio ao setor. Ruschel recuperou a vaga na lateral. Mas a principal mexida foi do meio pra frente: Carpini escalou dois centroavantes, Fábio Gomes e Rodrigo Rodrigues, e ainda promoveu a entrada do atacante Victor Andrade, pelo lado esquerdo. David estava lesionado e Reginaldo suspenso. A ideia não funcionou e o time teve que correr atrás do 1 a 1.
O terceiro empate seguido veio no Moisés Lucarelli. Diante da Ponte, um 0 a 0 pro torcedor dos dois clubes esquecer. E, outra vez, o time alviverde teve mudanças. Foram três: Reginaldo, Zé Marcos e Kelvyn entraram na equipe.
Na última rodada do primeiro turno, o Ju venceu o Ceará, no Alfredo Jaconi, por 1 a 0. Ruschel e Jean Irmer foram as novidades entre os titulares.
Novo turno, novas mudanças
Na abertura do returno, nova vitória alviverde, desta vez fora de casa: 2 a 0 sobre o Botafogo, em Ribeirão Preto. Mantendo a defesa, Carpini optou por escalar Kadi como número 5 de ofício e não Jean Irmer. Além dele, Jadson deu lugar ao atacante Tite. Matheus Vargas fez sua estreia em grande estilo ao substituir Nenê, suspenso pelo terceiro amarelo. O ex-jogador do Sport marcou um dos gols. E David recuperou a vaga que era de Victor Andrade do ataque.
Diante do então líder Novorizontino, o Ju teve uma de suas mais emblemáticas vitórias na Série B. E, pra variar o time sofreu alterações: Irmer voltou a ser o primeiro volante e Jadson entrou no lugar de Tite. O jogo marcou a despedida de Rodrigo Rodrigues, negociado com o futebol da Tunísia.
No revés sobre o Vila Nova-GO em Caxias do Sul, Carpini não teria como repetir a escalação, uma vez que o camisa 9 havia deixado o clube. Fábio Gomes foi o escolhido para a principal função do ataque. Mas além dele, outras duas mudanças foram promovidas pelo treinador: Matheus Vargas e Tite iniciaram o duelo que teve vitória dos goianos por 2 a 0. O Ju dependia apenas de si para ingressar pela primeira vez no G-4.
E na última apresentação do clube na Série B, pela 23ª rodada, o time não jogou a bola que o colocou como um dos candidatos ao acesso. Mas Erick Farias teve a estrela necessária para fazer o gol da vitória sobre o Guarani, em Campinas. O jogador só iniciou o confronto porque Fábio Gomes sentiu um desconforto muscular durante o aquecimento. Kelvyn, Kadi e Jadson foram as outras atrações no time que foi treinado pelo auxiliar Estephano Djian, após Carpini ter sido expulso diante dos goianos.
Com estretégias jogo a jogo, o jovem treinador tem se destacado pelo trabalho que pode conduzir o clube à elite nacional em 2024.
— Uma coisa que tenho comigo é que, principalmente os comportamentos de quando não se tem a bola, aconteçam com muita ocupação de espaço. É a gente ter a boa vontade de fazer com que todo mundo consiga marcar. Difícil, às vezes, é jogar e aí entram a capacidade técnica, as características de cada um. Mas, a competitividade todo mundo tem que ter, independente de quem jogar — avaliou o treinador.
Os 17 times de Carpini no Ju:
:: Chapecoense 0x2 Juventude: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Jean Irmer, Emerson Santos, Mandaca e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
:: Juventude 3x0 Atlético-GO: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Romércio e Alan Ruschel; Jean Irmer, Jadson, Mandaca e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
:: CRB 1X2 Juventude: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Jean Irmer, Jadson, Mandaca e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
:: Juventude 3x2 Avaí: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Romércio e Alan Ruschel; Jean Irmer, Jadson, Kelvyn e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
:: Criciúma 0x1 Juventude: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Romércio e Alan Ruschel; Jean Irmer, Jadson, Mandaca e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
:: Juventude 1x2 Tombense: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Jean Irmer, Jadson, Mandaca e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
:: Sport 3x0 Juventude: Thiago Couto; Reginaldo, Romércio, Danilo Boza e Alan Ruschel; Jean Irmer, Jadson, Gehring e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
:: Londrina 1x2 Juventude: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Jean Irmer, Vini Paulista, Kelvyn e Nenê; Daniel Cruz e Rodrigo Rodrigues.
:: Juventude 1x0 Vitória: Thiago Couto; Dani Bolt, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Jadson, Reginaldo, Vini Paulista e Nenê; Daniel Cruz e David.
:: Ituano 1x1 Juventude: Thiago Couto; Dani Bolt, Danilo Boza, Zé Marcos e Kelvyn; Jadson, Vini Paulista, Reginaldo e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
:: Juventude 1 x 1 ABC: Thiago Couto; Dani Bolt, Danilo Boza, Romércio e Alan Ruschel; Jadson, Vini Paulista, Victor Andrade e Nenê; Fábio Gomes e Rodrigo Rodrigues.
:: Ponte Preta 0x0 Juventude: Thiago Couto; Dani Bolt, Danilo Boza, Zé Marcos e Kelvyn; Jadson, Reginaldo, Vini Paulista e Nenê; Victor Andrade e Rodrigo Rodrigues
:: Juventude 1x0 Ceará: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Jean Irmer, Jadson, Vini Paulista e Nenê; Victor Andrade e Rodrigo Rodrigues.
:: Botafogo-SP 0x2 Juventude: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Kadi, Vini Paulista, Tite e Matheus Vargas; David e Rodrigo Rodrigues.
:: Juventude 1x0 Novorizontino: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Jean Irmer, Jadson, Vini Paulista e Nenê; David e Rodrigo Rodrigues.
:: Juventude 0x2 Vila Nova-GO: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Alan Ruschel; Jean Irmer, Matheus Vargas, Vini Paulista e Nenê; Tite e Fábio Gomes.
:: Guarani 0x1 Juventude: Thiago Couto; Reginaldo, Danilo Boza, Zé Marcos e Kelvyn; Kadi, Jadson, Vini Paulista e Nenê; Tite e Erick. Auxiliar Técnico: Estephano Djian