O Vacaria Open 2022 não contribui apenas para a revelação de novos talentos no tênis brasileiro e internacional. A competição deste ano tem como característica a presença de um público muito especial que anima, torce e participa efetivamente dos jogos do torneio. As crianças do projeto Lapidando Cidadãos foram instruídas a fazer parte da competição dentro e fora das quadras.
A disciplina da equipe que ajuda, desde a entrada na quadra até a reposição de bolas e limpeza das linhas, chama a atenção. É o momento em que eles aparecem no torneio, não como atletas, mas como ajudantes que fazem o jogo andar sem contratempos.
— Participar deste projeto foi um divisor de águas na minha vida. Quando entrei, ganhei muitas oportunidades. Comecei como aluna, agora já sou estagiária e estou dando aulas para crianças de 8 a 15 anos. A gente guia elas, ensina valores como honestidade, amizade, comprometimento e companheirismo - afirma a instrutora Raíssa da Silva, de 17 anos.
Com estas atividades, as crianças do projeto aprendem desde cedo a importância de assumir responsabilidades que podem ser determinantes para a escolha de um futuro no esporte.
— O tênis é um esporte individual. Você não pode colocar a culpa de um erro numa outra pessoa, como em outras modalidades coletivas. Ele te proporciona mais disciplina, responsabilidade e reflexão de que o erro ou o acerto dependem única e exclusivamente do teu esforço e desempenho. Por isso, os atletas são treinados desde cedo a ter essa disciplina - aponta o idealizador do Lapidando Cidadãos, Luis Augusto Gonçalves Costa.
Sonhos de atleta
Acompanhar de perto um torneio internacional, que reuniu 32 atletas de seis nacionalidades, é um momento muito especial para algumas crianças do projeto. E, mais do que isso, é uma inspiração.
— Representa uma conquista estar nesse torneio. Trouxe reconhecimento e visibilidade para a gente trazer mais alunos na ação. Pretendo continuar no tênis porque é o que eu amo fazer - aponta Raíssa.
O projeto conta atualmente com quase mil crianças e adolescentes. Não apenas do Brasil. O tênis é o principal responsável para que Love Mailie, de 12 anos, deixasse o Haiti com a família.
— Meu sonho era ser policial, mas quando vi o jogo de tênis pela primeira vez, me apaixonei. Minha vida no Haiti era muito diferente. Estou adorando o Brasil e sei que agora tenho a oportunidade de mudar minha vida - revela Love.
De Lajeado, Laura Delavechia Scheneider, 14 anos, chegou em Vacaria com o pai e, depois de um ano, garante que ver atletas dando a vida neste torneio é a motivação que faltava.
— Eu jogava desde pequena e o tênis me faz feliz, conheci muita gente aqui. Dá pra ver que se eles conseguem a gente também consegue - afirma Laura.
Frederico Marques Moraes, 16 anos, conseguiu com o ingresso no tênis, dar passos importantes que mudaram a sua vida.
— Fiz intercambio de um mês em Barcelona e foi muito importante para eu ver como é a cultura de lá. Muito diferente no sentido de como eles pensam, os níveis de entendimento do que o esporte representa são mais altos. Este ano participei do meu primeiro torneio internacional, em Vacaria. A importância do projeto é provar que é possível. Qualquer um pode jogar se levar a competição a sério.
Raíssa, Laura, Frederico e Love são apenas alguns bons exemplos dos quase mil alunos que o projeto Lapidando Cidadãos atende. Através do esporte, surge a oportunidade de mostrar que, com disciplina e dedicação, não existe jogo perdido.
Torneio encerra hoje
Depois de uma semana de jogos, o Vacaria Open 2022 encerra hoje com a final entre Orlando Luz, de Carazinho, e Román Burruchaga, de Buenos Aires, às 10h10min, na quadra coberta da Pousada Santa Teresa. Na categoria de duplas, os brasileiros Gustavo Heide e João Loureiro venceram a final contra o também brasileiro Igor Gimenez e Grigoriy Lomakin, do Cazaquistão.