O Caxias do Sul Basquete busca encontrar alternativas para não precisar frear mais uma vez o seu processo de afirmação no cenário nacional. O clube sofreu um baque importante nos últimos dias no aspecto financeiro, ao ser habilitado, mas não contemplado com o Pró-Esporte RS. Com isso, dependerá da força comunitária e das empresas locais para seguir na disputa do Novo Basquete Brasil na próxima temporada, que tem início previsto para outubro.
Nas temporadas anteriores, o Caxias sempre tinha o seu recurso principal oriundo de duas fontes distintas. Metade vinha de patrocinadores diretos, casos na última temporada de KTO, Banrisul, Aquece e Rodoil; os outros 50% vinham por meio da captação do Pró-Esporte, com as empresas encaminhando um valor do seu ICMS que iria para o governo diretamente para a área esportiva. Na última competição, foram os casos de Randon e Petenatti. A Unimed também era apoiadora.
A situação desta temporada pegou a todos de surpresa, seja por conta da avaliação ou da meritocracia definida na escolha das notas. Após ser aprovado, o projeto do Caxias e de qualquer entidade que busque acesso à lei passa por uma Câmara Técnica, com representantes de diferentes segmentos da sociedade esportiva, que dá notas ao conteúdo. Dessa vez, o quantitativo, uma avaliação até certo ponto subjetiva em relação a cada projeto, foi insuficiente para colocar o time caxiense entre os contemplados. O total de cerca de R$ 1,3 milhão para o alto rendimento olímpico e paralímpico foi dividido entre oito projetos. O do Caxias tinha um valor proposto de R$ 960 mil.
– O momento não é nada fácil, mas estamos positivos. Pòs-pandemia, o setor privado sofreu bastante, isso é inevitável. Hoje, estamos tentando virar uma página. Eles (avaliadores do Pró-Esporte) usaram uma métrica que ao nosso ver foi equivocada. Foi uma avaliação subjetiva. Eles deixaram o esporte de alto rendimento na mão, mas não adianta só chorar o leite derramado. Estamos mobilizando o cenário privado local, e não só a Serra, mesmo fora daqui, para viabilizar o projeto – destaca o presidente do Caxias Basquete, Bruno Bedin Tronca.
O time caxiense participou pela primeira vez da competição na temporada 2015/2016, após o título da Liga Ouro, diante do Sport. Em cinco participações na elite, foram quatro classificações aos playoffs, sendo que na temporada 2017/2018 o time ficou entre os seis melhores do país na modalidade. Porém, logo após essa conquista, que garantiria uma vaga na Liga Sul-Americana, o Caxias precisou abdicar da sua vaga por duas temporadas, justamente pela falta de apoio financeiro para a manutenção de uma equipe de alto rendimento.
– Caxias do Sul, como cidade, perder, mais uma vez, um time de alto rendimento seria extremamente negativo. O futebol tem um aspecto diferente de busca por receitas. O que não é futebol, é muito mais difícil. Precisamos manter o projeto vivo. Temos que buscar e criar uma cultura de investimento no esporte – destaca Tronca.
A cidade que já não tem mais o futsal, o handebol e o vôlei atuando na elite nacional, tem a chance de manter viva essa relação familiar que se criou entre time e torcida. Na última temporada, com a volta do público aos ginásios, o Caxias Basquete mudou de casa e se transferiu para o Sesi, com ótima presença de público nos jogos do NBB. Além disso, a equipe tem se caracterizado pelo envolvimento comunitário, com ações sociais e a aproximação cada vez mais intensa do basquete com a comunidade em geral.
O que diz o Diretor de Fomento da Secretaria de Esporte e Lazer (SEL)
A partir da lamentação do Caxias Basquete, a Secretaria de Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul, por meio do Diretor do Departamento de Fomento, Paulo César Verardi, buscou explicar como se dá a avaliação dos projetos para o Pró-Esporte.
— Os projetos são inscritos, passam por um processo interno de habilitação técnica. Depois de aptos, eles passam à Câmara Técnica, órgão externo à secretaria, dotado de absoluta isenção que faz a avaliação de todos os projetos, até via sistema, de forma aleatória. São cinco avaliadores, com experiência no movimento esportivo, que fazem a avaliação de mérito de qualidade do projeto, com itens e pesos de cada quesito, estabelecendo notas. Quando você avalia algo por qualidade, óbvio que tem o componente de subjetividade. Cada um tem sua visão por cada tema, cada projeto. Tem uma questão importante, que é a dependência do Pró-Esporte — resumiu Verardi.
São duas janelas para inscrição. A primeira entre 1º e 30 de janeiro, a qual o Caxias Basquete fez parte, e outra já em andamento, entre 1º a 31 de julho. Verardi disse entender a lamentação do clube caxiense, mas reforçou a seriedade do processo feito pela SEL, o aumento do número de projetos apresentados e a limitação de recursos a serem aportados:
— Esse tipo de reação é normal e compreensível. Normalmente, quem tem seu projeto não aprovado ou contemplado, fica desconfortável. Não é um caso isolado. Dentro de uma verba que a gente recebe do Governo do Estado, a gente tenta atender da melhor maneira possível o esporte gaúcho como um todo, em todas suas manifestações e modalidades. Desde o ano passado, aumentamos substancialmente a possibilidade de apresentação de projetos, nos níveis educacional, formação, rendimento e alto rendimento. Na última janela, recebemos 254 projetos.
Nos dois períodos do ano, a SEL tem a previsão de destinar ao esporte gaúcho por meio do Pró-Esporte cerca de R$ 35 milhões, nas mais diferentes modalidades.
— Agora a gente tem uma quantidade maior de projetos. E cada vez que fazemos um curso de capacitação ou falamos com proponentes, mais do que nunca a qualidade vai fazer a diferença. Eventualmente, um ou dois décimos pode fazer a diferença para a contemplação do projeto — projeta Verardi, que ainda cita sobre a subjetividade das notas na avaliação dos projetos:
— Isso é uma coisa incontrolável. Até para ter a retidão, os avaliadores são escolhidos aleatoriamente pelo sistema. É subjetivo. Mas, se a gente pega o todo, normalmente você tem avaliadores mais exigentes.