Jair Ventura, técnico do Juventude, vivencia o desafio de manter o Verdão na Série A do Campeonato Brasileiro. Contra o Inter, na próxima quarta-feira (10), será o seu terceiro jogo no comando alviverde e ele buscará a sua primeira vitória, após dois empates. O treinador é acostumado com obstáculos e conquistas na sua vida. Já realizou trabalhos vencedores e outros não tão bons, como qualquer profissional. Além disso, é de uma família apaixonada pelo futebol. Seu pai, Jairzinho, o Furacão da Copa do Mundo de 1970, é considerado um dos grandes nomes da história do esporte brasileiro.
Em entrevista, ao programa Show dos Esportes, na Rádio Gaúcha Serra, Jair Ventura analisou o momento no Juventude, relembrou os tempos de jogador de futebol, com passagens por clubes menores do Rio de Janeiro e também no exterior. Além disso, citou o episódio com o técnico Tite, em 2000, no Caxias. Jair Ventura, então atacante, foi reprovado em um período de testes pelo atual técnico da Seleção Brasileira.
Confira a entrevista completa
Atuações do Juventude
Estou muito feliz com a resposta dos jogadores. A gente sabe que não existe ideia ou modelo de jogo bons, se não temos a aceitação e a compra da ideia dos atletas. Os jogadores compraram, mesmo com pouco tempo de treino, mais alguns ajustes com vídeo e conversas. No segundo jogo, contra o Bahia, já tivemos mais treinos para implementar, gradativamente, nossas ideias. O mais importante foi o que eles responderam no campo.
A média do campeonato é de 15 finalizações por jogo. Hoje, a média desde que nós chegamos é de 22. Nós finalizamos 44 vezes nos dois jogos. O gol não saiu, mas estamos mais próximos das vitórias. Não adianta jogar bem e não vencer. Temos que conciliar a performance com o resultado. Agora, temos que passar tranquilidade, principalmente para os mais novos.
Repetir desempenho
Eu tenho mais de 200 jogos como treinador na Série A, Copa do Brasil, Libertadores, enfim. A gente sabe que já ganhamos jogos, o próprio contra o Inter (no Brasileirão de 2020), com poucas finalizações quando eu estava no Sport. O Inter jogava no Beira-Rio, com 12 jogos de invencibilidade, líder do campeonato, o Sport não ganhava lá há mais de 20 anos. Nós chegamos lá e conseguimos uma vitória com outra proposta. Eu sempre falo que sou um treinador mutável. Vai ter jogo que teremos uma estratégia assim e outra propositiva. A gente espera ter o controle do jogo contra o Inter e sabemos que será um jogo bem pesado. Se me perguntar se eu trocaria uma boa performance por um bom resultado, eu vou querer sempre os dois, performar e vencer, mas nesse momento precisamos vencer.
Maior criatividade no meio-campo
No último jogo, estávamos com dificuldade de bola na área. A gente precisava de um jogo mais de aproximação, de um jogo mais pelo corredor central e o Wescley nos dá isso. Ele entra muito bem e se aproxima mais do Bueno. Conseguimos boas oportunidades. Eu vou muito pelo o que o jogo está pedindo. Cada jogador tem sua característica e a comissão precisa aproveitar para usar no melhor momento. Vamos analisar jogo a jogo.
Estrutura do Juventude
Estou muito contente. O Juventude é um clube bem funcional. Temos um estádio com um dos melhores campos. Temos um staff muito bom e que nos abraçou. Toda a comissão da casa tem nos ajudado bastante. Eu fui staff 10 anos, sei da importância de todos estarem juntos no processo. É um trabalho muito forte. Temos o Pioner (vice de futebol), que está todos os dias no clube, um presidente que é muito presente. Conversamos bastante. Eu gosto disso. O Barbarotti tem experiência e montou um time competitivo.
Vida de técnico
Nenhum trabalho vai me garantir em outros trabalhos. Temos que estar a cada dia, tudo de novo. A vida de treinador é um recomeço a cada trabalho. Você tem o Felipão, que é um dos maiores treinadores brasileiros, que ganhou Copa do Mundo e depois tomou 7 a 1 e só se fala no 7 a 1. Eu faço um questionamento, qual foi o treinador que teve sucesso em todos os clubes que passou? O Jorge Jesus aqui (no Flamengo), fez um trabalho fantástico e no Benfica não conseguiu. É difícil manutenção dos resultados em todos os clubes que passamos.
Dificuldades da profissão e calendário
Eu não me lamento. É diferente não lamentar, de não querer uma mudança. Eu torço por mudança, mas eu sei como funciona. Quando as coisas não acontecem, você não vai me ver indo para a televisão ou rádio, choramingar. Eu sei que a vida de treinador é essa e me preparei desde 2015 para isso, viver quando você ganhar, é o melhor. Quando perde, não vale nada. Isso tem que ter um um controle emocional para conviver.
Filho de Jairzinho
Até os 26 anos, quando eu parei de jogar, me atrapalhava. Eu fui um operário da bola. Eu rodei os times de menor expressão no Rio. Eu costumo brincar que, no São Cristóvão, não nasceu só o Ronaldo Fenômeno, mas eu também. Eu joguei lá no mirim, depois fui para o Bonsucesso no juvenil, no Bangu, nos juniores. Profissionalizei, joguei na França, Grécia, na Série B do Rio. Tive aqui no Caxias, em 2000, e o Tite me reprovou e eu falo que ele arrumou um concorrente. Quando voltei da França, fui reprovado num teste no Caxias. Insisti bastante, até chegar aos 26 anos. Fiquei dois anos no Gabão e disse chega. Chega de correr errado. E fui estudar.
Me formei em educação física e estou nessa batalha desde muito cedo. Fui interino pela primeira vez em 2010, quando tinha 30 anos. A pressão por causa do meu pai foi quando eu era jogador. Resolvi ser atacante, aí Deus também não pode, o meu pai levou tudo. Como treinador, não tem essa comparação. Hoje, não me atrapalha mais. Sou muito orgulhoso pelo meu pai. Hoje, estou construindo minha carreira e, certamente, ele está orgulhoso também.
Reprovado por Tite
Quando eu fui eleito o treinador revelação em 2016, no Botafogo, única equipe que entrou no Z-4 e terminou na Libertadores, tive os votos dos jornalistas e dos treinadores e o Tite fez uma homenagem. Eu agradeço a ele por ter me reprovado, mas digo pra ele que ele arrumou um concorrente.
Clássico com o Inter
Sabemos da importância de um clássico. A semana tem um peso diferente. É bom. Gostamos de trabalhar em grandes jogos. Eu sou uma pessoa que estava louco pela volta da torcida, com todos os cuidados. É outro futebol. Para mim é muito bom. No primeiro jogo, eu escorrei, porque eu jogo junto. Vou escorregar, correr. A torcida nossa empurra e eles têm feito uma festa bacana nos dois jogos. Espero que eles sigam nos empurrando.