A história do tênis brasileiro passa muito pelo que fez Fernando Meligeni. Aos 50 anos, o semifinalista de Roland Garros, em 1999, quarto colocado dos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, e ouro no Pan-Americano de Santo Domingo, em 2003, agora passa adiante o que aprendeu nos tempos em que fez sucesso nas quadras pelo mundo. Neste fim de semana, ele está em Caxias do Sul para realizar uma clínica aos jovens atletas do Recreio da Juventude.
— Desde que parei de jogar, me joguei na informação. Principalmente com dois públicos, o jovem e o adulto, do fã, que gosta. Tem uma frase muito legal que meu pai falava: "você não pode ir embora desse mundo sem devolver tudo o que aprendeu no tênis". Dentro do que posso fazer, do que é permitido para mim no dia a dia, venho fazendo — afirmou Fininho, como é apelidado o ex-jogador.
Depois que as restrições da pandemia começaram a flexibilizar, as clínicas de Meligeni retornaram com as determinações sanitárias. Nessa retomada, o ex-jogador do time brasileiro na Copa Davis percebeu um crescimento dos praticantes do tênis.
— Você tem o público das pessoas que vêm para o clube brincar e se divertir, e acho que nunca teve um boom tão grande do tênis. A pandemia fez as pessoas despertarem que podem jogar tênis, que é seguro, que são duas pessoas longe, que é ao ar livre. O tênis ganhou uma notoriedade muito importante — analisou Meligeni, que admite que questões além da quadra fazem diferença para que o país consiga um número maior de tenistas no topo mundial:
— É muito difícil fazer jogador e fazer campeões. Temos um grande problema. Para fazer tênis profissional, para fazer essa molecada jogar fora do país, está muito caro. O dólar a R$ 5 e pouco, o Euro a R$ 6 e tanto, e os torneios são todos fora do Brasil. Não há bolso de ninguém, não há patrocínio possível que faça o garoto que começa a jogar bem aqui, com 16 ou 17 anos, saia para "tomar porrada" durante quatro meses pagando em dólar ou em euro.
Momento do tênis brasileiro
Na atualidade, os melhores resultados do tênis brasileiro estão nas duplas. Marcelo Melo e Bruno Soares viveram grande fase nos principais Grand Slams do circuito. O caxiense Marcelo Demoliner alcançou o top 35 do ranking da Associação de Tenistas Profissionais (ATP). No feminino, a medalha de bronze de Luísa Stefani e Laura Pigossi, em Tóquio, gerou um novo momento para a modalidade no país.
Para Meligeni, o sucesso nas duplas não significa que a escolha pelo estilo seja algo primordial na formação de atletas.
— Não gosto de rotular. Às vezes, se meter em duplas é mais simples do que em simples. Estou vendo isso pelo meu sobrinho (Felipe Meligeni), pelo Orlandinho (Luz), pelo (Rafael) Matos, que são jovens e começaram a disputar as duas competições juntas. O Felipe é um menino de 22, 23 anos, que começou a jogar nas simples e nas duplas, mas a dupla acabou liberando ele para entrar no top 100, ganhar um dinheiro a mais. Se você percebe que essa é sua salvação, que pode ganhar um pouco mais de dinheiro e entrar em torneios maiores, que é o que você quer, vai — disse o ex-atleta, avaliando o processo de evolução até a decisão de jogar em duplas:
— Sou contra quando só olha uma coisa de primeira. Um garoto de 18 ou 19 anos dizer que vai ser um jogador de dupla, acho que não precisa. Tenta a simples também. A partir daí, caso do Marcelo Melo, do Bruno Soares e do Demoliner, que tentaram a simples, percebe que está difícil, sem grana e a dupla está dando possibilidade, é um circuito igual. Vai focar na dupla, onde vai tirar o ganha-pão e fazer a carreira.