O último passo antes da afirmação no basquete adulto começa nesta quinta-feira (22) para um grupo de 15 jovens. O KTO/Caxias do Sul Basquete, em parceria com o Recreio da Juventude, inicia a primeira participação na Liga de Desenvolvimento do Basquete (LDB) às 11h15min, contra o Pato-PR, no Ginásio Antônio Prado, em São Paulo. A competição sub-22 é a porta de entrada para vários jovens que buscam encontrar o seu lugar no basquete, mesmo que longe de casa.
É o caso do pivô carioca Willian Arlindo, de 22 anos e 2m, que veio do Rio de Janeiro para o Caxias Basquete/Recreio para jogar a LDB. Com passagens por diversos clubes na cidade natal, ele vivencia o mesmo sonho de muitos jovens:
— A possibilidade veio através de uma seletiva que ocorreu em fevereiro. e no final de abril recebi a ligação para vir para cá — conta o jogador, que vive as dificuldades de sua primeira experiência fora de casa:
— No início foi bem difícil por causa do frio. Tivemos até que comprar um aquecedor na chegada. Mas minha família e meus amigos sempre me apoiaram e o pessoal aqui me acolheu muito bem.
Além de Willian e mais um carioca, vieram jogadores de Minas Gerais. O grupo recebeu o acolhimento dos atletas que já moravam na cidade. Os meninos que chegaram de fora de Caxias residem em um hotel — onde também vivem os atletas da equipe adulta que não são locais. Como todos os jovens nutrem o mesmo sonho, a parceria extra quadra pode ser um trunfo do Caxias.
— O pessoal aqui é muito unido. Os nossos guias são os irmãos De Martini (Antônio, armador, e Augusto, ala), que são daqui. Nos finais de semana, a gente sai para comer alguma coisa, vai no parque ou dá uma volta para conhecer a cidade — afirma William, que enxerga nessa oportunidade uma chance de crescimento na vida:
— Você acaba se acostumando a se virar sozinho. Cresci com meus pais, então onde eu ia, era sempre com eles. Agora, com a maioridade, estou conseguindo me virar sozinho e é um passo grande para quem quer ser profissional. O mais difícil é a saudade da família e dos amigos.
Origem em Angola
A distância entre a Serra Gaúcha e a capital fluminense é só um detalhe diante do caminho que a família de Willian fez até chegar ao Brasil. O jogador é filho de angolanos e tem dupla nacionalidade, podendo atuar também pela equipe africana. A chegada de seus país ao Rio foi de maneira inusitada.
— Eles vieram como imigrantes e eu nasci aqui. Meus pais saíram de Angola nos tempos de guerra. Eles fugiram. Minha mãe conta essa história, que vieram só os dois e os pais dela ficaram lá procurando por ela. Só avisou depois de um bom tempo. Na época era por carta, e só assim souberam que eles estavam aqui.
Mesmo nascido no Brasil, Willian Arlindo mantem a ligação com o país de origem da família. O contato com avós e outros parentes é constante.
— Todos os dias eu falo com meus primos. Temos um grupo da família e estamos sempre em contato. Normalmente, vou aos finais de ano visitar eles — conta o pivô, falando do estilo do povo angolano e as diferenças que o idioma, mesmo também sendo o português, causam:
— Para entender, no início, era meio difícil. Quando chego lá, falo com algumas gírias e o pessoal não entende. Em casa, meus pais falam entre eles mais com o português de lá. Mas se parar para prestar a atenção, é quase a mesma coisa, só que um pouco mais rápido. O povo lá é bem animado. As festas que eu fui antes da pandemia duravam dois ou três dias, pessoal gosta de festejar. Até na igreja. O pessoal quando vai louvar, parece até uma dança. É muito animado.
Futuro no esporte
Essa ligação com a Angola pode render ao jovem uma vaga no time nacional no país de origem da família. Até por isso, a LDB pode ser um diferencial na carreira de Willian:
— O observador da seleção de lá já entrou em contato comigo, dizendo para eu ficar atento, porque dependendo como for o processo aqui posso ter uma futura convocação.
Mais do que a possibilidade de jogar na seleção de Angola, o Caxias Basquete/Recreio pode dar à Willian a chance dele consolidar uma carreira formada no Jacarepaguá, Tijuca Tênis Clube e Atitude, times da capital do Rio. Mesmo que o caminho na modalidade tenha iniciado tardiamente, defender o time gaúcho pode significar muito.
— Comecei a jogar basquete com 15 para 16 anos, que já é uma idade avançada. O pessoal começa com uns 7, 9 ou 10 anos. A experiência que está acontecendo aqui no time é muito boa. Sempre joguei futebol, mas meu pai jogou basquete no Rio e em Angola também. Ele sempre falou para mim e para o meu irmão que iríamos crescer e jogar basquete, e a gente sempre dizia que era futebol. Quando fiz 15 anos e vi que estava passando de 1m90cm, vi que o basquete era o caminho — concluiu o pivô.
Willian e seus outros 14 companheiros de time, entre 15 e 22 anos, vão atrás do sonho na LDB. É o passo decisivo para quem quer fazer do basquete sua vida.