Após uma série de especulações sobre um possível boicote, os jogadores da Seleção Brasileira confirmaram presença na Copa América 2021, que teve o Brasil aceitando ser o país-sede no dia 31 de maio, apenas 13 dias antes do jogo de abertura da competição. A definição dos estádios brasileiros como palco dos jogos de seleções sul-americanas serviu para escancarar uma crise institucional na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), fazendo com que o presidente da entidade, Rogério Caboclo, fosse afastado do cargo por 30 dias.
Ele é acusado de assédio sexual e moral por uma funcionária da CBF, que detalhou episódios vividos desde abril do ano passado. Ela protocolou a denúncia na última sexta-feira (4) na Comissão de Ética da entendida, que definiu pelo afastamento do presidente. Quem assumiu foi o vice-presidente mais velho, o Coronel Antônio Nunes.
O clima na confederação que controla o futebol brasileiro não é o mesmo desde que foi divulgado um vídeo de uma reunião virtual de Caboclo com presidentes dos clubes que disputam as quatro séries do Campeonato Brasileiro, na qual ele afirma que iria determinar a continuidade da competição, mesmo com o agravamento da pandemia do coronavírus.
Em maio, a situação piorou quando foi tornada pública uma conversa de 2018 entre Rogério Caboclo com Edu Gaspar, então diretor-técnico da Seleção Brasileira, na qual o presidente sugeria mudanças na comissão técnica de Tite, como a saída do auxiliar Cléber Xavier. Posteriormente, foi confirmado que a CBF procurou Muricy Ramalho e o espanhol Xavi para o cargo, gerando um desgaste com Tite e com os jogadores. O diálogo também indicava que Marco Polo Del Nero, banido do futebol pela FIFA, ainda tomava decisões na instituição.
No dia 27 de maio, a Confederação Brasileira de Futebol distribuiu R$ 19 milhões como auxílio financeiro para 27 Federações Estaduais e 136 clubes do Campeonato Brasileiro das Séries C e D e do Campeonato Brasileiro Feminino A1 e A2. O mesmo aconteceu em 2020. Dos clubes da Serra Gaúcha, foram beneficiados Caxias e Esportivo, da Quarta Divisão, e o Brasil-FA, do Feminino A2.
Estando na Primeira Divisão, o Juventude não foi beneficiado, porém o acesso lhe tornou um filiado mais importante no cenário do futebol brasileiro. Na próxima sexta-feira, às 11h, está marcada uma reunião virtual da CBF com os clubes, como pauta principal a mudança de presidente.
Walter Dal Zotto Júnior, presidente alviverde, espera que os clubes possam ser atualizados neste encontro sobre como será a condução da entidade a partir de agora. Por se tratar de uma denúncia, ele prefere não se posicionar e aguardar o andamento processo.
— É um assunto delicado, não dá para se posicionar para um lado ou outro. Temos que acompanhar como vai ser o processo de investigação — diz Dal Zotto.
Para Paulo Cesar Santos, presidente do Caxias, o afastamento de Rogério Caboclo não deve interferir na estrutura do futebol brasileiro. Ele é grato pelos benefícios enviados pela CBF no mês passado e entende que o clube precisa se concentrar em cumprir seus compromissos.
— Acompanhamos as notícias pela Federação (Gaúcha de Futebol), por vocês, pela mídia, mas para nós não afetou nada. Os times da Série D têm que agradecer que recebemos um valor igual ao ano passado, mas estamos muito distantes da CBF. É o momento de muitas ações de parte política. Nós temos que focar no Caxias. No futebol é como em nossos trabalhos, temos que trabalhar e cumprir os protocolos. Ninguém vai colocar comida na nossa mesa ou dinheiro no nosso bolso. Temos que cumprir nossos compromissos perante os nossos funcionários — comenta o presidente do Grená.
Futebol Feminino
Ainda na disputa da Série A-2 do Brasileirão de futebol feminino, o Brasil-Fa também mantém uma relação próxima com os diretores da CBF que organizam a competição. No entanto, é distante dos principais dirigentes. Elenir Bonetto, presidente da equipe de Farroupilha, afirma que o clube não foi comunicado sobre mudanças no comando da entidade. Entretanto, ele entende que elas são necessárias.
— Este não é o primeiro presidente com problemas. Os últimos todos foram afastados assim, desde a época do Ricardo Teixeira. Não houve contato conosco, mas uma mudança é necessária — afirma Bonetto.
Em contato com a reportagem do Pioneiro em GZH, o presidente do Esportivo, Laudir Piccoli, preferiu não se manifestar. Ele afirmou estar em São Paulo, por compromissos particulares, e não tem conhecimento se o clube foi comunicado do afastamento de Rogério Caboclo.