A solidariedade e a empatia são ações fundamentais, ainda mais em tempos de pandemia e de dificuldades ainda maiores em decorrência da covid-19. Pensando nisso, uma família de craques resolveu ajudar e transformar o dom com os pés para usar as mãos e fazer cobertas para crianças recém-nascidas.
Lissandra Pasquali, 42 anos, é mãe de Guilherme Pasquali Rech, 20, e Rafael Pasquali Rech, 17, dois jogadores oriundos da base do Juventude e filhos do ex-atacante do clube Fernando Rech. Nos próximos meses, Guilherme deve retornar para Portugal e Rafinha está próximo de se transferir para o São Paulo.
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Durante o período de isolamento, e sem futebol devido à pandemia, surgiu uma ideia que foi colocada em prática em Caxias do Sul. Enquanto estava em Portugal com o filho Guilherme -durante 33 dias eles ficaram isolados, no auge da pandemia -, Lissandra transformou a angústia e a ansiedade em um projeto familiar: fazer cobertas para crianças recém-nascidas. Ao retornar para a Serra gaúcha, contou com a ajuda dos filhos, que trocaram os campos pela costura.
- Começamos a conversar. Enquanto meditava e tentava me acalmar, pensei que poderia ajudar alguém. Assim, foi surgindo a ideia do que e para quem. Amadurecemos a ideia dos hospitais. Quando voltamos de Portugal, os médicos pediram pra gente ficar em isolamento. Neste período, mandei arrumar uma máquina de costura velha e fomos aprendendo. Não sabíamos nem por onde começar. Eu não sabia costurar, nem os meninos - comenta Lissandra Pasquali.
Mesmo sem saber como costurar, tanto Lissandra quanto Guilherme e Rafael buscaram se aperfeiçoar. Eles foram ajudados por uma prima da mãe que é costureira, Bete Zanette Perin, que mora em São Marcos. A ajuda era por vídeos.
- Passamos o período de isolamento aprendendo a costurar. Foi muito hilário. A máquina chegou num dia e no outro já teve que ser entregue porque deu problema. Aí, quando voltou da manutenção, quebramos a agulha. Foi meio desastroso, mas colocamos em prática o que nos foi ensinado. A pandemia serviu para cuidarmos mais da nossa saúde e cuidar do próximo. Essa é a mensagem da nossa família - lembra Lissandra.
Além de comprar tecidos para a confecção das roupas, a família usava roupas que não usava para conseguir fazer os lençóis e as cobertas. Os meninos, com o tempo ocioso sem os treinos, resolveram ajudar e descobrir esse novo "dom". Os jogos de videogame ou o tempo desperdiçado no celular, foram transformados em ajuda ao próximo.
- Para nós foi bem legal. Como estava tudo parado, a gente ocupava nosso tempo e não tinha muito o que fazer. Sempre fazia as mesmas coisas em casa. Quando a mãe deu a ideia, logo de cara aceitamos. Tem muita criança que sai do hospital sem nada. Com certeza vai ajudar muita gente. Nunca imaginei que fosse costurar. Jogar bola é mais fácil - comentou o centroavante Guilherme, que jogou a última temporada no futebol português, e passou cinco anos na base do Juventude.
Antes de confeccionar as cobertas, a família já havia doado roupas para o Hospital Geral e depois feito algumas entregas para a Fundação de Assistência Social (FAS), com roupas e cobertas para adultos e crianças.
- Foi uma ideia muito legal da nossa mãe. Nós temos toda a estrutura, mas muita gente não tem, ainda mais nesta pandemia. Deve ser muito complicado. O objetivo nosso é mobilizar mais jovens para ajudar. Muitas vezes, ficamos em casa mexendo no celular e no videogame e pensando só em nós. O recado é dar valor para o que temos e ajudar quem precisa - disse Rafael Rech, meia do Juventude que deve ir para o São Paulo.
Entregas
Após a confecção das cobertas, Lissandra, Guilherme e Rafael foram realizar a entrega no Hospital Pompéia. Lá existe o Projeto “Espanta Dodói”, que humaniza o atendimento de crianças e adolescentes e é parceiro do Pio Sodalício das Damas de Caridade, as responsáveis pela fundação do hospital.
O Pio é formado por mulheres voluntárias, que se dividem para a execução de diversos trabalhos que envolvem pacientes e funcionários do Pompéia. As damas tem um setor com máquinas de costura para a confecção de peças de roupas doadas aos recém-nascidos carentes. O trabalho é feito por costureiras voluntárias, com material doado por confecções e pelas pessoas.
- Quem quiser ajudar, pode entrar em contato com a gente ou com o projeto Espanta Dodói no Hospital. Nós temos o setor de costura, que confecciona enxovais para os bebês. É um trabalho de carinho, de amor, dedicados pelas damas fundadoras do hospital, que nunca foi interrompido em 107 anos. A comunidade está sempre presente - afirma Sandra Maria Paim Della Giustina Barp, presidente do Pio Sodalício das Damas de Caridade.
Lissandra, Guilherme e Rafael ajudaram e não pretendem parar. Mesmo que Guilherme retorne à Europa e Rafael siga para o tricolor paulista, a mãe espera continuar as confecções com a ajuda à distância dos craques e, agora, costureiros.
- Eles são maravilhosos. Se propuseram a dar um valor do salário deles, que é pouco. Vão seguir ajudando a comprar os tecidos. Se colocaram à disposição para ajudar financeiramente. A gente pensa grande e os meninos são parceiros. Agora, sem eles, vou pegar os sobrinhos - destaca Lissandra.