Muito se disse que a grande e, talvez, única chance do Caxias nesta final do Campeonato Gaúcho de 2020 seria vencer a primeira partida, no Estádio Centenário. Era preciso abrir uma vantagem interessante para ter chance de título sobre o Grêmio. Só que a derrota por 2 a 0 foi um balde de água fria, naqueles dias frios de inverno. Isso, por si só, seria motivo de jogar a toalha, afinal, a missão se torna quase impossível de reverter domingo (30), a partir das 16h, na Arena. E nada disso está errado, exceto quando o assunto é futebol.
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Essa mística deste esporte coletivo que fará o torcedor grená despertar no domingo de manhã acreditando no impossível. Até aquele mais fiel e que jogou a toalha ao final da noite de quarta-feira (26), e se diz vacinado com um vice-campeonato quase consumado, terá uma angústia para que chegue logo o momento da partida.
Até este horário não faltarão lembranças aos mais velhos. Qual deles não recorda da temporada de 2001 e suas viradas épicas? Caxias e Paysandu, no Estádio Centenário, que do intervalo em 3 a 1 para o time paraense, terminou em 4 a 3 para os grenás. Os dois jogos contra o CRB, tomando 3 a 0 no Nordeste e devolvendo o placar em Caxias do Sul. Só que enquanto os aficionados apelam para a recordação, o time precisará ser estratégico e frio. Engana-se quem acha que a equipe irá se atirar ao ataque do primeiro ao último minuto. Não foi assim que ela chegou à final e nem é assim que Rafael Lacerda trabalha.
— O Caxias nunca vai ficar exposto sob o meu comando. Não vou fazer loucura. Teve outros jogos que atacamos muito e não ficamos expostos. A gente tem 90 minutos para ganhar um jogo, pode ficar 80 minutos sem fazer gol e resolver a partida em 5 ou 10 minutos — afirmou Lacerda, antes de completar:
— A gente escuta por aí que precisa atacar porque está perdendo. Não vejo nenhum time do Brasil atacar o Grêmio. Até o último minuto, a gente continua vivo.
O velho ditado de que “o jogo só acaba quando o juiz apita”, poderá rememorar outra grande remontada grená. Em 2006, por um Gauchão daqueles que o time não engrenava, uma virada fez mexer com os brios de todos que estiveram no Centenário. Após sair perdendo para o Novo Hamburgo por 2 a 0 no primeiro tempo, o time comandado por Abel Ribeiro conseguiu virar com gols aos 33, 44 e 47 minutos da etapa final. Jogo histórico.
Só que desta vez o milagre precisará ser ainda maior. O Caxias ainda não venceu por três gols na temporada, o clube não tem na história recente uma reviravolta em dois jogos com a segunda partida longe dos seus domínios. Quer mais? O Grêmio não perde por três gols de diferença em Gauchão há mais de 60 anos, e nem foi para um clube do interior – um 3 a 0 para o Renner, na temporada de 1954.
A missão é quase impossível, mas é sempre bom relembrar que só o futebol é capaz dessas viradas mágicas e históricas. O time grená não tem mais nada a perder, cabe se apegar a um ditado mais novo, citado pelo narrador do Sportv Everaldo Marques, e que vale muito para esse momento: enquanto tem bambu, tem flecha.