A cultura esportiva brasileira é tomada pelo futebol. Por mais que em sua raiz o rúgbi tenha caminhado ao lado da grande paixão dos brasileiros, só ganhou visibilidade maior nos últimos anos. É inegável que a seleção da Nova Zelândia, os All Blacks, e a tradicional dança do Haka antes das partidas, contribuiu para que o Brasil olhasse de forma diferente à modalidade.
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Aos poucos, o rúgbi viraliza entre os mais jovens através da internet e da TV. Algo bem diferente da realidade argentina, onde a modalidade é muito difundida e a seleção, chamada de Pumas, é uma das mais fortes do mundo. O técnico Lucas Carrizo viveu tudo isso desde os seus quatro anos. Era um fanático pelo esporte e que veio para o Brasil ser treinador. Agora, trabalhando com crianças, presencia as diferenças culturais e vê bastante futuro dentro das quatro linhas.
– Acho que elas (crianças) são mais curiosas, querem sair um pouco do futebol, vôlei, basquete e handebol. Os mais curiosos vem ver o que é e começam a gostar do rúgbi, para depois ficar – opina Carrizo.
Os meninos evoluíram. As regras de cruzar a linha de fundo para pontuar, não poder dar passes para a frente e até o sistema básico da defesa ou o tackle – como é chamada a única maneira legal de roubar a bola – foram difíceis de compreender no início. Mas, com o tempo, tudo mudou.
– Cada vez você aprende uma coisa nova, não é a toa o jogo. Nunca é a mesma coisa. Às vezes, tu jogas emprestado em outras equipes e sempre aprende algo novo, além de conhecer novas pessoas – avalia Rômulo.
É desta forma que o rúgbi vem ganhando as crianças, como um dia conquistou Muray. Pela paixão pela modalidade, ele quer proporcionar que mais pessoas tenham acesso ao esporte e, por meio de um projeto social profundo, formar futuros cidadãos de bem e novos atletas.
– Conheci o rúgbi pelo Jornal Pioneiro, numa matéria de um grupo de argentinos, que morava em Caxias e jogava em Canela. Eles queriam montar um time aqui e eu vendo aquilo resolvi apostar. Desde então, venho fazendo parte das equipes, tenho levado como um estilo de vida. Hoje, 90% dos meus amigos são do rúgbi e minha profissão é o rúgbi – conta Muray.
Quem sabe, ao ler essa matéria, surjam mais aficionados pela modalidade, como ocorreu com Muray. Talvez, a Rede Social venha despertar atletas que nunca saberiam seu dom.
Tudo a partir de uma iniciativa que parece simples, mas é muito grande.
Formação além do campo
O projeto social se tornou categoria de base e abriu mais caminhos para o Serra Gaúcha Rugby. No último ano, com aprovação de Lei Federal de Incentivo ao Esporte, nasceu uma nova fase desta iniciativa, o Sementes do Rugby. Em parceria com mais escolas da cidade, toda terça-feira um ônibus passa em vários colégios de Caxias do Sul e leva uma turma com cerca de 40 crianças para a quadra Rei da Bola, no bairro Kayser.
Lá, eles têm aulas dos conceitos básicos do esporte. Com capacidade de receber 100 crianças, o projeto também é gratuito. A ideia é completar a turma e após elevar o número de treinos para três vezes por semana.
– Queremos oportunizar uma atividade física. Como um profissional de educação física, esse é o objetivo principal. Mas, a gente busca também que os valores do rúgbi sejam inseridos nas modalidades esportivas. Estamos cansados de ver diversas situações que ocorrem no esporte, e buscamos difundir o respeito, a solidariedade e o fato de se tornar uma pessoa melhor. Nossa missão é que eles joguem rúgbi, mas também se tornem melhores cidadãos – ressalta Muray.
Essa melhora proposta no projeto social é sentida por Yago. Neste pouco mais de um ano desde que ele ingressou no time, os seus resultados na escola melhoraram significativamente. E as atitudes, também.
– As minhas notas estavam baixas e melhorei bastante. Eles ensinaram como me comunicar. Brigava bastante com as pessoas, e hoje converso melhor com todos – destaca o garoto.
Esse é o grande sentido do esporte para os meninos mais novos. Trabalhar com eles é algo engrandecedor. Ao menos é o que garante o técnico argentino do Serra Gaúcha – que treina a base e a categoria adulto. Lucas Carrizo, natural de San Juan, cresceu vivendo o rúgbi e sabe muito bem de que forma deseja contribuir:
– É o respeito e a responsabilidade. Acho que o grande desafio é ensinar isso, os valores da família, de serem pessoas íntegras. O rúgbi é simples, ele vai aprender se gostar da modalidade.