Debaixo do calor tropical de Belém-PA, em mais uma pré-temporada na carreira, o meia Marcelo Costa sentiu os primeiros sintomas daquilo que meses depois o faria abandonar o futebol. Era janeiro de 2016 quando o cansaço após os treinamentos davam o indício de que algo não estava certo com o jogador.
Exames e diagnósticos errados foram realizados no Paysandu até que fosse descoberta a insuficiência renal avançada. Aos 36 anos, era o início da mais dura batalha na vida de Marcelo, agora afastado dos gramados.
— Lá o clima é totalmente diferente. Comecei a passar mal em alguns treinos, a inchar as pernas. Isso, jogando e treinando direto. Fiz exames, como é normal nos clubes, para ser admitido. Infelizmente, alguns médicos não notaram que já havia algo errado. Continuei jogando e treinando por quatro meses. E nesse tempo aprofundou aquilo que poderia ter sido reparado — recorda o ex-meia, lembrando de quando precisou abandonar o futebol:
— Em maio, depois de um treino, fui para casa e me senti muito mal. Fui ao hospital. Lá que foi reconhecido que eu estava com insuficiência renal avançada. Na mesma hora, tive que parar de jogar e tomar um novo ritmo de vida.
A doença adiantou o fim da carreira de Marcelo Costa. Dois anos antes, com o Joinville, havia sido peça decisiva na campanha que levou a equipe catarinense à Série A. Natural de Campinas do Sul, o meia não pôde concretizar o desejo do adeus à bola em Caxias do Sul, cidade que o descobriu para o futebol e o fez ressurgir, anos depois.
— Não queria ter parado. Minha programação era continuar mais uns dois ou três anos ainda e encerrar no Juventude ou no Caxias. Mas, infelizmente, não consegui — lamenta, recordando os seus momentos nas equipes da cidade:
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Marcelo Costa acerta retorno ao Juventude
— Tudo começou em 1994, na base do Juventude. Estive 10 anos no clube até sair vendido para o Nacional, de Portugal. Voltei ao Ju em 2007. Em 2009, a porta se abriu no Caxias e fizemos um 2010 muito bom, onde fui escolhido o melhor jogador do Gauchão. Isso abriu um leque grande de convites de clubes.
Ainda em 2016, Marcelo Costa iniciava uma mudança de rotina. Ao invés das sessões de hemodiálise em hospitais e outros estabelecimentos de saúde, optou pelo tratamento com a diálise peritoneal. O procedimento é realizado em casa e exige do ex-jogador 10 horas diárias com o sangue passando por filtragem através de um cateter. Além disso, Marcelo está na lista para um transplante de rim, uma das esperanças dele para que tenha o quanto antes a cura da insuficiência.
Toda essa situação, com a doença e o fim da carreira de atleta, poderia desmotivar Marcelo Costa. No entanto, foi justamente do que construiu no esporte que ele tira forças para seguir lutando:
— A minha esperança é que fosse algo rápido e que logo eu poderia jogar, mas até agora não passou. Me deixou triste, mas não desanimado da vida. Pensei pelos 16 anos que joguei até ali, com muitas conquistas e muitas vitórias. Procurei me apegar nisso, e não do que iria perder depois desta situação.
Força que vem da família
Outro pilar para que Marcelo Costa siga lutando está em casa. O apoio da esposa Michele e dos filhos Miguel e Michel foi determinante para que ele encarasse a doença e todo o processo diário na busca pela recuperação:
— A gente vê tanta situação de jogadores que não recebem salário dois ou três meses e a esposa quer ir embora, e pede para separar, não suporta aquele momento. Tenho que agradecer a Deus pela família e pela esposa que tenho. Vinha tudo bem e de uma hora para outra parou tudo. Termina a fama, as entrevistas para a TV, não posso jogar e nem viajar. Ela não se preocupou com nada disso. Foi uma guerreira, o tempo todo do meu lado. Só ela sabe o que passei. Quando você está em uma situação boa e desce à estaca zero de novo. São dois anos em que a gente vem aprendendo muito.
Fora de campo, a insuficiência renal e a espera por um transplante é a maior batalha de Marcelo Costa. Dentro das quatro linhas, o jogo mais marcante na história do ex-jogador é uma prova, para ele inclusive, de que nunca se pode desistir ou achar que tudo está perdido.
Ouça na íntegra a entrevista de Marcelo Costa
— Não tem como esquecer e todo gremista lembra desse jogo. Foi a batalha dos Aflitos. Acredito que jamais vai ter de novo. A gente passar o que passamos dentro de campo. Com quatro jogadores a menos, fazer o gol e ser campeão de uma Segunda Divisão. Pelo peso que é a camisa de um Grêmio. Se não subisse naquele ano, seria muito frustrante. É algo que tenho orgulho de contar, que pode motivar pessoas para acreditar mais em si. Era uma situação muito difícil de reverter, graças a Deus a gente conseguiu e está aí, marcado na história.